quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

QUERIDA AMIGA





Parece que foi ontem que vimos 2013 retirar-se obscurecido por uma chuva de cores explodindo no ar pelos céus do Brasil. Dentro de algumas horas veremos 2015 chegar e parei para pensar no ano que vai terminando e em tudo que aconteceu.














Lembra? Você desejou que em 2014 meus dias fossem como o último dia de 2013. E não é que foram? No amor, olhares cúmplices, muitos filmes, horas sem fazer nada, conversa fiada, saídas eventuais, um jantarzinho aqui outro ali, banhos de cachoeira, almoços com a família, cafezinhos no shopping e pequenas, mas quase orgias sexuais ...

Obrigada pelas dicas sugeridas, claro que ainda não consigo executar certas posições, elas me custariam a vida ou pelo menos uma paraplegia. Sei que você deve estar gargalhando e daqui também dou risadas que é o que mais gosto de fazer contigo, minha única e verdadeira “Barbie Alegria”.












Nessa retrospectiva, lembro os dias de férias em Floripa, com aquela esticada ao Rio, onde pela primeira vez pude ver que o Carnaval é realmente o maior espetáculo da terra. Aquela exuberância de cores e movimentos. E não é que infamemente falando, “vi a Mangueira entrar”? Agora sou cada vez mais “verde e rosa”.









Ainda falando de amor, quando eu já havia desistido, no meu aniversário ele finalmente me colocou uma aliança no dedo.
Pela primeira vez, em outubro, sem que eu tivesse de lembrá-lo, passamos  aqueles dias incríveis de mar e calor no Caribe para celebrar 29 anos de vida em comum.
Será que vestir branco, tomar banho de sal com arruda, comer uvas e guardar sementes de romã foi responsável por tudo isso? Pelo sim, pelo não, hoje, 31 de janeiro de 2014 vou repetir o ritual. Quem quer brincar com a sorte, não é?

E o que dizer do sossego depois de ver os meninos se acertarem, colocando  os pés no chão,  buscando o caminho para uma vida de sonhos, mas com estrutura de realidade? Acho que nem eles imaginavam que seria tão simples,  ao mesmo tempo tão doloroso aprender que nada vem de graça, e que sem esforço e dedicação, as conquistas não têm o mesmo sabor. Agora caminham com as próprias pernas e embora possamos dizer que é quase um engatinhar, já durmo tranquila, pois finalmente, sei que eles vão fazer acontecer.



Fecho os olhos e sinto saudades de todos os nossos encontros, as saidinhas para o shopping, as conversas e as risadas que ficam ecoando em mim, como uma trilha sonora chiclete.  Falando em música, meu ano foi uma mistura de Cole Poter, Cazuza, Capital, Ney Matogrosso, e aquelas músicas breguíssimas do BBB.

Aliás, nem me fale em BBB, pois até agora não me conformo que o público tenha dado a vitória àquele “caipira pop funk arrocha”, ao contrário de premiar aquele gay super divertido.  Eu te falei: aquela coisa de sunga branca na piscina ia decidir o jogo. Aliás, começaram as chamadas para o BBB 15 e eu já assinei o Pay Per View. Foda-se se é subcultura. Diversão não tem que ter selo da Academia Brasileira de Letras.

Falando nelas, as “letras”, consegui cumprir minha promessa de ler toda a obra de Eça de Queiróz. Agora estou relendo pela terceira vez, “Os Maias”.











Mas pode ficar tranquila, não vou me trancar no quarto e repetir pela milésima vez a minissérie. É que histórias de amor sempre me interessam, como as cartas de amor, elas são ridículas. (Fernando Pessoa não poderia ter escrito nada tão certo).



Ridícula também estive eu no Natal. Nem te conto: foi perda total. Juliana conseguiu mesmo me viciar em espumante. 
Foi uma beleza passaro Natal com a família, em Minas, em Araguari, cidade onde nasci e que comecei a olhar com olhos especiais, afinal, lá estão as memórias de meu irmão, e hoje percebo quantas coisas boas compartilhamos. Apesar da distância física e afetiva que sempre pensei haver entre nós, foi com ele que aprendi coisas como gostar de pistache, de cinema e a ter uma boa dose de cinismo. Mamis continua firme, quase chegando aos 88  a gente cruzando os dedos para que ela cruze a linha dos 100. Estava muito alegre e acredita? Tirou o Sebastião de novo no amigo oculto.



Amiga, mal consigo acreditar que finalmente equilibrei as finanças e que graças àquela ideia de cofrinho, acabei poupando e já vislumbro nossa tão sonhada e ansiada viagem para a Disney. Se você amarelar, juro que vou subir no banquinho.

Sei que você fica meio brava, mas sinto muita alegria de ter feito novos amigos em 2014. OK, você tem ciúmes, mas pense, são pessoas com as quais já demos boas risadas e que de alguma forma oxigenaram nossa vida. Como diz uma dessas amigas, “cachorro velho não aprende truque novo” e a gente já estava repetindo piadas. Aliás, Marina já marcou comemoração pelo primeiro ano de retorno ao Brasil.

Enquanto escrevo fico escutando o burburinho intenso de Copacabana. E já estou chorando desde já – sim, que novidade, afinal vivo chorando - pensando que em poucas horas vou contemplar pela primeira vez os fogos e me integrar àquela imensa multidão lá fora. Tenho muito para agradecer, em especial pela minha saúde. Relutei anos para aceitar que atividade física faz bem para o corpo e a mente. Hoje já consigo me olhar no espelho sem sentir vergonha de todo o corpo despencando, nadar me fez muito bem. E preciso te agradecer por ter me acompanhado na primeira etapa, caminhando comigo, até que me sentisse pronta para sonhar com movimentos mais complexos. Vou usar um short branco, comportado, claro, mas já é um avanço para quem estava a um passo de vestir burca.

O tempo passa rápido, é demasiado veloz, ao contrário de quando tinha quinze anos, hoje fico pensando que as horas e dias deveriam correr em ritmo mais lento. Tenho tantos planos, tantos sonhos. Uma coisa é certa: parei de condicionar minha vida à realização do transplante. Ele pode estar pertinho, pode demorar, pode até não acontecer. A despeito de alcançar ou não esse patamar no meu tratamento, esse ano me ensinou que a vida começa no momento em que damos o start. Não é necessário esperar uma ocasião especial. Não dá para agendar data no calendário. A vida é pra já. Como diria a Graça: se a vida me chama, meu nome é “pronto”.

Desculpe estar falando tanto de mim, mas hoje me bateu esse narciso. Quando estiver agradecendo pelas minhas conquistas, pedirei a Deus que te conserve assim, que te dê em 2015, no mínimo o que conquistou em 2014: seu negócio prosperando, seus cabelos cada vez mais loiros, novas dietas loucas,  seu neto cada dia mais lindo, saudável, esperto, mas  vou pedir que você se convença que trabalho não é tudo na vida, que dinheiro é bom, que segurança é importante, mas que viver intensamente é que faz tudo valer a pena. 

Sinceramente? Vou agradecer muito por ter você na minha vida, por ter uma amiga que sempre me dá razão, que enche minha bola, que nunca acredita nos meus erros, que mente descaradamente para não me magoar e que sobe no banquinho cada vez que alguém fala qualquer coisa de mim.

Sim, passei o ano de 2014 agradecendo a Deus. Lembra que te disse que precisava reforçar minha religiosidade? Resolvi que a fé independe de qual igreja você frequenta, por isso andei pelos palcos cristãos, evangélicos, espíritas e já ando de olho no Budismo. É bom ter diferentes rituais.

No mais você sabe, o ano foi aquilo de sempre: picos e vales, decepções na política, gente cada vez mais impaciente, tecnologia demais e abraços de menos, fúria no trânsito, muita aspereza e menos gentileza. Mas assim como Lulu Santos, “eu vejo um novo começo de era, de gente fina elegante e sincera, com habilidade, pra dizer mais do que não.”

Agora vou me deitar. Como diria Adriane, vou me dar ao luxo do “sono da beleza”, antes de mergulhar na multidão de gente que espera 2015 chegar.


Aproveite sua noite, e como eu, feche os olhos e imagine todas as incríveis e inacreditáveis coisas que nos esperam, na vida louca para nos mimar. Sobretudo, pense que poderíamos não ter tido nada, mas que já valeu a maravilha de ver nossos caminhos se encontrar. E vamos entoar hinos como: “valeu a pena, ôôô...”
E desejar que hoje e amanhã o nosso dia termine bem. Vamos apostar as fichas na fantasia, em despojamento, em dar, sem esperar muito de volta. Vamos simplesmente viver.  E se possível, "pegar mais de um milhão de vaga lumes por ai." 

“Tamo junto”.

Com amor.


Ana Maria