quarta-feira, 29 de abril de 2009

Rotina


Tenho andado sempre por aqui. Olho. Penso. Ensaio algumas palavras e vou embora cabisbaixa. Que triste ter um Blog e não ter o que escrever. Será que já é o tempo implacável me legando uma vida desprovida de novidades para contar?

Rotina! Uma vida em que tudo parece não mudar. É como se fosse um DVD em pausa. A cena não evolui. O final parece que nunca vai chegar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Insônia..Outra vez...


Como acontece toda semana, cá estou, às voltas com a insônia que antecede a segunda-feira. Não tem jeito. Eu faço todo um ritual: tomo um banho morno, uso um óleo relaxante, troco a roupa de cama – eu adoro roupa de cama limpa – ajeito os travesseiros, vejo um filme, leio um livro e, mesmo com o auxílio luxuoso do Rivotril, implacável, lá está a insônia. Aliás, aqui está a insônia.

Na segunda dou aula de manhã, depois enfrento um dia inteiro de trabalho e a noite volto para a faculdade. Ou seja, nesse momento eu já sofro pensando que uma vez mais, o dia vai amanhecer e meu corpo vai estar pedindo socorro, eu vou estar contando os minutos para chegar em casa, tomar um banho e dormir. Sofro a angústia de uma hora que ainda não chegou. Anseio pelo sono da segunda-feira quando o sono do domingo ainda não se consumou.

O Que fazer? Já tomei chá, já tentei um livro, apelei até para o que mais sonolento pode haver: “Os meios de comunicação como extensões do homem” (Marshall Mcluan). Sei lá, pensei que uma literatura de maior erudição poderia ser eficiente, mas depois de ler ...“Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos práticos e operacionais, o meio é a mensagem”. Santo Deus! Não é hora para isso. Não é.

Nada contra aquele que é considerado uma referência para o estudo da comunicação, mas convenhamos, seguir adiante seria uma tortura desnecessária e uma afronta a mim e a Mcluhan, que não gastou anos de pesquisa para acabar como oráculo de uma mulher insone.

Melhor invocar o poema de Álvaro de Campos... “Não durmo. Não durmo. Não durmo. Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma! Que grande sono em tudo exceto no poder dormir! “

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Minha Mãe e o vestido que virou panela...


Minha mãe fez 82 anos no dia 20 de março. Queria muito escrever alguma coisa sobre ela e ressaltar a alegria de vê-la chegar tão bem a essa idade, mas as tentativas foram frustradas, a emoção foi maior que a capacidade de dar corpo a qualquer narrativa.

As mães são criaturas míticas. Dificilmente alguma passará sem deixar marcas em seus filhos. A minha não é diferente. Todos os dias peço a Deus que me faça um terço do que ela é. Que me dê uma gota de sua coragem, vitalidade, generosidade e bom humor.

No dia de seu aniversário perguntei a ela como tinha sido o começo da vida com meu pai. Eu conheço bem a história, mas sempre é bom ouvi-la e impressionante como os detalhes são nítidos na sua lembrança.

Meus país vieram da zona rural, de famílias muito simples. Minha mãe teve uma vida bastante difícil, já que sequer conheceu a própria mãe que morreu de parto. Foi criada pelo pai e pela irmã mais velha, uma mulher de hábitos severos. Passou por todo tipo de privação, teve acesso ao mínimo de educação, que naquele tempo se resumia a ser mais ou menos alfabetizada e penso que sua maior alegria era o convívio com as primas – uma delas minha madrinha.

Meu pai era um homem inteligente e sagaz, que foi muito longe para os recursos da época. Com a educação que recebeu e seu autodidatismo, chegou a um patamar profissional que hoje, muitos pós graduados não alcançariam.

Eles se conheceram casualmente. Meu pai gostou da minha mãe, que não achou a menor graça nele, mas a iniciativa que teve de pedir sua mão deu-lhe a prerrogativa de levar. Ou seja, em pouco mais de um mês estavam casados. Minha mãe conta que a sensação de se casar era a de estar sendo levada por um estranho. Não havia intimidade entre eles e o relacionamento foi construído no decorrer da vida que tiveram.

Perguntei-lhe que comida tinha feito para ele quando se casaram. Ela disse que como eram muito pobres, o cardápio não fugia muito de arroz, feijão – cozido em fogão à lenha – banana frita e abóbora. A casa em que viviam era modestíssima e disse-me ela que quando nasceu o primeiro filho, nada mais tinham que poucos panos para cobri-lo.

Dessa conversa o que mais me marcou foi o desfecho que deu a seu vestido de noiva. Diante da adversidade, optou pela realidade. Pintou-o de uma cor tipo beterraba, ficou muito bonito e ela o vendeu por sessenta dinheiros (ela não lembra qual era a moeda da época, se réis ou cruzeiros velhos). Com esse valor comprou duas panelas, uma bacia e com o restante meu pai comprou açúcar.

Outros tempos. Essa história marca bem o temperamento de minha mãe que sempre preferiu prover os outros e a casa do que dar mimos a ela mesma. Esse começo de vida com tantas privações talvez explique o zelo que ela dedica às suas coisas. Principalmente à sua casa, sempre impecável e com o conforto que ela não pode desfrutar no passado. Sua cama está sempre impecavelmente arrumada e tem uma obsessão por limpeza e organização.

Disse a ela que gostaria muito de escrever sobre suas histórias, porque ela as tem em profusão e tenho medo de que essa memória se perca. Rapidamente, ela orgulhosa contou para as minhas sobrinhas que eu ia escrever um livro sobre a vida dela e, desde então, nunca mais fui capaz de escrever uma linha nesse blog. Ela me atribuiu responsabilidade demasiada e isso me intimidou.

Estou terminado de ler um livro da Isabel Allende – “A Soma dos Dias” – no qual relata a rotina de sua família nos últimos anos. Em vários momentos ela menciona a farta correspondência que troca com a mãe desde que se separaram. Uma mora no Chile e a outra nos Estados Unidos. Atribui a isso a capacidade de congelar fatos e situações que vão se perdendo e que deram a ela material para compor um mosaico dos anos de sua vida. Coisa que já havia feito em outros romances, especialmente em “Paula”. Ela começa o livro com uma frase que pode ser aplicada a muitas vidas, inclusive à minha: “Não falta drama em minha vida e me sobra material de circo para escrever”.

Quando li essa frase tive uma imediata identificação. Mas ao contrário de Isabel, a mim falta o talento. Por isso fiquei intimidada com a expectativa de minha mãe de que eu teria a capacidade de escrever um livro sobre ela. De qualquer forma, com textos capengas ou não, pretendo voltar a essas páginas outras vezes com os “causos” da minha velhinha – que odeia ser chamada assim – e tentar manter viva a sua trajetória.

Mãe, eu tenho a convicção de que você viverá ainda muitos anos até que eu possa alcançar a segurança de contar sua vida e como a sua determinação foi importante para manter nossa família unida e para que tivéssemos, seus filhos, netos e bisnetos não apenas a alegria do seu convívio, mas o apoio incondicional sempre que cada um de nós precisou.

Nenhuma palavra, jamais será capaz de ilustrar a pessoa estupenda que você é. Beijos e todo o amor da sua filha.