quinta-feira, 23 de julho de 2009

"sua égua do candola"....


Como já tive a oportunidade de contar, minha mãe é uma mulher simples, mas de muitas histórias. E boas histórias. Ontem eu não sei por qual razão, mas lembrei-me de uma delas e fiquei com muita vontade de escrever sobre isso.

Ela me contou que minha vó Chica – minha tia avó, na verdade – sobre a qual eu já falei nesse Blog, quando ficava nervosa com suas filhas, chamava-as de “éguas do candola”. Claro que ela contou esse “causo” com sua tradicional risada de velhinha sapeca. Eu, claro, perguntei a ela porque cargas d’água minha tia avó usava essa ofensa. Ela me disse que esse “candola” era um senhor um tanto desclassificado e que ser uma égua, e ainda por cima de sua propriedade, era um xingamento e tanto.

Bem, hoje de manhã fui à nutricionista. Aqueles que precisam recorrer aos estacionamentos das quadras comerciais de Brasília bem sabem que muitas vezes somos obrigados – em casos extremos – a deixar o carro com o freio de mão baixo, nas mãos de um flanelinha para chegar a tempo a um compromisso. Claro! Fazemos isso pedindo a Deus que ao voltar o carro ainda esteja inteiro e que não esteja atravessado no meio da rua.

Pois, bem. Hoje foi um desses dias em que esse recurso precisou ser ativado. Ocorre que os astros não estavam alinhados de forma favorável e o flanelinha não conseguiu empurrar o carro. Minutos depois de ter subido eu escutei uma buzina estridente e fui até a janela constatar que meu carro era o empecilho. Desci voando às escadas e quando cheguei ao estacionamento, uma mulher absolutamente histérica gritava comigo. Na verdade, ela berrava comigo.

Quando entrei no carro ela gritou mais : “não vai embora, porque já chamei a Polícia e a senhora – que soava como algo muito menos polido – vai prestar conta para eles”. Eu disse humildemente: “Pois, não.” E ela começou a gritar loucamente:”Sai daí, sai daí, eu estou apressada, a senhora já estragou o meu dia, sai daí que eu preciso ir embora”. Bem, é claro que metade da população estava parada olhanda aquele espetáculo.

Se fosse um filme, eu sairia do meu corpo, encheria a cara dela de porradas e iria embora ostentando um sorriso cínico de quem venceu um round. Mas eu fiquei petrificada. Parada e quieta. Ouvindo os xingamentos daquela mulher insolente que eu nunca mais vou esquecer e a única coisa que eu tinha vontade de dizer era: “sua égua do candola”!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lista de Presentes


Recebi um e-mail de uma amiga pedindo que eu fizesse uma lista de presentes que gostaria de ganhar no meu aniversário. Longe de mim ser daquelas pessoas modestas que dizem: “Imagina! Não precisa se preocupar.” Eu adoro receber presentes, eu adoro meu aniversário e claro, eu adoro que as pessoas gastem tempo pensando em mim. Narcisismo de leonina. Fazer o que?Enfim, a pergunta ficou martelando minha cabeça. Há zilhões de coisas que gostaria de ganhar, mas sempre que me fazem essa pergunta um bloqueio inevitável se estabelece.

Como a amiga pressionou pedi socorro para a Vivi, pois ela é sempre minha fonte de inspiração. Como ela estava sem paciência – e nós duas sabemos bem o que isso significa – eu tratei logo de fazer aquela lista padrão de livros, CDs e DVDs, arrematada pelos tradicionais mimos do Boticário; sabonetes, óleos, cremes e que tais.

No final de semana pensei muito no que de fato gostaria de ganhar e sobre a idéia de se fazer uma hipotética e permanente lista de presentes do tipo: “Isso eu quero. Isso me faz feliz!”.

Deitar no colo da minha mãe.
Escutar a risada da minha mãe.
Comer banana frita com açúcar. (feita pela minha mãe)
Massagem nos pés (feita pelo Guilherme)
Dormir enroscada com o Dego.
Cafuné sem hora para terminar.
Sonhar toda noite que estou beijando o Clive Owen.
Sonhar acordada que estou beijando o Cliwe Owen.
Assistir a trilogia Bourne de tarde sem sair debaixo do edredon. (Com o Clive Owen seria perfeito!)
Assistir as cinco temporadas de LOST sem temer que no final tudo não vá passar de coisa de outro planeta. (Com o Victor)
Tomar coca gelada sem culpa.
Tomar mais coca gelada.
Comer broinhas no Biscoito Mineiro com a Sol. (mesmo que ela continue uma sílfide e eu, uma baleia!)
Parar tudo ao meio dia para assistir aos episódios de “Medical Detetives”
Parar tudo às 17h00 para assistir aos episódios repetidos de Law&Order Criminal Intent.
Comprar a coleção completa de vestidos “Elvira Matilde” (exceto os vermelhos)
Comer cinco sacos de jujuba. (sem culpa)
Dormir, dormir, dormir, dormir e acordar e voltar a dormir.
Dormir em roupa de cama trocada todos os dias.
Poder de compras sem limite para usar "na Cultura".
Andar descalça.
Dormir de camiseta velha.
Dormir abraçada com cinco travesseiros. (Fazer o que? Não tem Clive Owen)
Comer churrasquinho com as minhas sobrinhas e falar que “efetivamente” adoro as histórias das amigas delas.
Tomar outra coca gelada.
Tomar café expresso com canela.
Dançar New York, New York, "em New York".
Ouvir “Todo se Transforma” até cansar. (nunca vou cansar)
Almoçar com a Patrícia num dia de domingo em que tudo parecia cinza demais. (e a presença carinhosa dela transformou tudo em azul celeste)
Olhar a lua e sentir o que senti naquela noite no estacionamento do IESB.
Almoçar no Beirute com o Giovani.
Participar de qualquer banca de TCC, com o Giovani.
Derramar um saco de pipoca na Graça dentro do cinema para escutar aquela risada impagável que ela tem.
Ouvir a Silvia falar “aquele Zé Maria é um sambarilove”.(e pedir a papai do céu que ela volte logo prá Brasília).
Andar com a Vivi em Montevidéu.
Ouvir a Carol dizer: “Parabéns! Você emagreceu 20 quilos” (e tomar duas cocas geladas para comemorar)
Usar uma calça jeans. (tamanho 40)
Calçar um All Starr e não me sentir ridícula.
Não precisar tirar sobrancelhas.
Encontrar um salão 24 horas.
Dar risada com o André, do planeta "Bizarro".
Não ter que falar com “gentes” em dias de TPM.
Não precisar fazer conta de dinheiro.
Ter um quarto só meu.
Ter um quarto só meu e lilás.


Obs.: 1 Os itens não estão relacionados por ordem de prioridade.
Obs.: 2 É claro que poderia continuar essa lista indefinidamente.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Guilherme


Hoje passei o dia sentindo banzo. Andei inquieta e com discretas dores no peito. Agora de noite fiquei assim.. assim.. andando pelos cantos e chorando sem razão. Então me dei conta de que hoje meu filho Guilherme faz 23 anos. Eu não me esqueci disso o dia todo. Lembrei-me dele em todos os instantes, mas como está viajando e não pude abraçá-lo, fiquei com a estranha sensação de quem parece ter perdido alguma coisa.

Fechando os olhos posso me lembrar daquela madrugada em que acordei sentindo a dor inconfundível. A certeza de que o momento do encontro havia chegado, mas de não saber como fazer, quando me entregassem nas mãos aquele que estivera dentro de mim durante nove meses.

Há 23 anos não havia as modernas ecografias que hoje são quase fotos perfeitas do filho que vai chegar. Naquele tempo eu tinha apenas a intensa convicção de que seria menino. E porque estava lendo "O Nome da Rosa", de Humberto Eco, cismei com Guilherme.

A médica me perguntou: “E se for menina?” Eu disse: “Se for menina o nome é Clara, mas tenho certeza de que é menino”. E quando ele chegou, mais cabelo do que criança, ela disse com um sorriso largo: “mãe, você tinha razão é o Guilherme”. Eu lembro até hoje de sentir a maior das palpitações e depois, só instinto.

Tantas vezes eu pari o Guilherme, que não sei mais qual de seus nascimentos foi mais intenso para mim. Só sei que tive que brigar muito por sua vida e fazê-lo ver o quanto ela pode ser frágil e o quanto ele pode ser maior do que todas as adversidades.

Eu sei que agora ele deve estar gastando o sorriso largo que tem, mas deve haver lá no cantinho do seu coração um pedaço que também sentiu saudades e que sabe muito bem o amor e a cumplicidade que emana de nós.

Quando era criança adorava cantar comigo essa música.

Eu te amo, filho! “Me dá um beijo, então...aperta minha mão... tolice é viver a vida assim, sem fantasia...”


"Glass"...

Essa música não me sai da cabeça. Hoje me sinto assim ..."just like glass".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Como se fosse a primeira vez..."


Ela lembra com detalhes do nosso primeiro encontro. Fala dos meus cabelos cacheados e de como, ao me ver, idealizou uma vida profissional e me tomou como modelo para sua carreira. Isso me causa espanto, pois nessa época eu era uma jovenzinha que não via qualquer talento em mim, principalmente profissional. Da última vez que nos vimos me olhou com aqueles olhos miúdos – e um pouco mais tristes - e disse que eu parecia uma judiazinha.

Nossos encontros são invariavelmente meteóricos. Há tempo de menos e coisas demais para contar. Talvez seja por isso que cuidamos de falar muito e de forma fragmentada sobre tudo.

Eu não me recordo da nossa primeira vez, mas sei que me pareceu afetada. Eu não conseguia imaginar que uma pessoa pudesse – de forma espontânea – ser tão doce e carinhosa. Tinha um cabelo impecável – ainda o tem - e me parecia uma caprichosa menina rica, usando as palavras quase sempre no diminutivo.

Muito a contragosto aceitei que fosse minha colega de trabalho. Escapava dela sempre que podia e tinha uma má vontade inacreditável para suas idéias. Lembro que ela usava com freqüência a expressão “artístico cultural” e que eu, definitivamente, não parecia inclinada a incluí-la na minha lista de amigas.

Não sei quanto tempo foi necessário para que eu caísse de amores por ela, mas sei que lamento profundamente ter demorado tanto para reconhecer nela a amiga que hoje habita uma das áreas mais nobres do meu coração. (eu sei que isso foi piegas, mas não resisti!!!)

Nos aproximamos em São Paulo. Numa viagem a trabalho pouco depois que eu havia passado por um sério acidente de carro. Diante da minha explícita má vontade ela resolveu que estava na hora de passarmos nossa história a limpo e eu fui obrigada a abrir a guarda e claro, nunca mais nos perdemos de vista.

Quis o destino que logo depois ela se desligasse do trabalho e que voltasse a morar no Rio. Antes disso, entretanto, pudemos viver com intensidade a cumplicidade de uma amizade que sobrevive todos esses anos. A distância nos aproximou. As cartas trocadas nesse tempo nos permitiram acompanhar de forma recortada, o desenrolar das nossas vidas. E foram muitas e longas cartas, nesses tempos em que a comunicação passou a ser feita exclusivamente pelo modo virtual, estávamos lá, deixando tinta em todo tipo de papel.

Lembro-me que um dia recebi pelo correio uma caixa na qual ela me enviava um monte de fitas cassetes. Ela teve o cuidado de fazer as capas e montar uma trilha sonora peculiar que incluía músicas francesas, portuguesas, gregas e italianas. Não lembro de ter lhe contado, mas nesse dia eu chorei copiosamente, pois foi um dos gestos mais carinhosas que já recebi de alguém.

Quando foi visitar a Grécia cuidou de me incluir na viagem. Fez isso me relatando, na forma de um diário, suas aventuras por lá. No decorrer dos anos suas cartas chegavam invariavelmente acompanhadas de um artigo, de um texto, de alguma foto, ou cartão, qualquer elemento que me ajudasse a ver o mundo com seus olhos. Poucas pessoas me ensinaram tanto e eu sei que faço parte de suas preocupações diárias, pois nos gostamos verdadeiramente como irmãs.

Hoje fui ao cinema com uma amiga e de repente me lembrei que um dia, anos atrás, estávamos no Park Shoping e decidimos assistir um filme. Não lembro qual era, mas sei que não tínhamos dinheiro e que despejamos o conteúdo de nossas bolsas e juntamos centavo por centavo até que conseguimos chegar ao valor do ingresso. E rimos, rimos muito disso.

Há muito para falar sobre você, Luiza Adriana. Podia recordar o passeio na Floresta da Tijuca. A caminhada pela Praia Vermelha, as vezes em que vimos juntas o por do sol de Brasília e que você me fez pensar sobre a importância da paisagem na nossa saúde. Poderia falar do nosso "projeto embaixadas", de comer canjica no Sheraton, de todas as diferenças que temos e que nos fazem, apesar disso, tão iguais.

Hoje, entretanto, queria apenas dizer que te amo e que sinto muitas saudades, muitas!

Um beijo.

Ps. 1 – O título desse post só nós duas vamos entender.
Ps. 2 Essa é a música/filme que escolhi para me lembrar de você.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pequenos Prazeres


Tenho tido insônias sistemáticas, mas esse post não será um revival sobre não dormir. Estou de férias. Bem, daqui a pouco vou sair para acompanhar uma reunião no Congresso, entretanto ganhei uma semana para “descansar”. Até o momento não pude fazer isso como se espera de alguém que esteja de folga. Não fui à praia. Provavelmente não irei. Não viajei para uma temporada em Campos de Jordão – afinal, é inverno. Desde que estou de férias tenho me ocupado daquilo que inevitavelmente fica de lado quando temos três empregos: tentar colocar um pouco de ordem na sua vida pessoal.

Estive em Goiânia para ver minha mãe, comemoramos o aniversário da “sobrinhazinha” e do Helvécio e voltei correndo – literalmente – para entregar meus relatórios de final de semestre. Ontem, depois de concluir essa tarefa decidi que estava na hora de fazer alguma coisa para marcar as férias. Então, fui fazer aquilo que mais gosto: cinema.

Fui ao Casa Park ver “Trama Internacional”, com Clive Owen. Afinal, eu merecia umas horinhas com aquele espécime inacreditavelmente lindo. Bem, não foi possível, pois ele só estava disponível em uma sessão muito além da minha paciência de esperar. Acontece, quando a gente não se programa e espera que o acaso dê uma forcinha.

Para não perder a viagem decidi experimentar “pequenos prazeres”que estavam à mão, como entrar na Cultura e passar alguns momentos de puro delírio diante daqueles zilhões de livros, CDs e DVDs. Com algumas exceções, Paulo Coelho, por exemplo, e daqueles abomináveis livros de auto-ajuda eu acho que levaria quase tudo para casa. Ou melhor, eu adoraria ajustar minha casa àquele universo de letras e sons.

Sentei-me para um café – não! a livraria não merece aquele café, pois seus atendentes destoam das pessoas incríveis da Cultura, que sabem escrever corretamente na tela de pesquisa o nome do autor ou da obra que você procura, ao contrário de outras livrarias em que as pessoas se escondem para não te ajudar ou escrevem assessoria com “c”: “acessoria”. (Tenho certeza que o André sabe o quanto isso afeta minha auto-estima).

Claro que comprei quatro livros. E também um DVD. E por pouco não comprei uma edição estupenda de um livro que conta a história dos "vestidos". Antes que meu salário ficasse retido naquela pequena Disneylândia fui até a Tok&Stok. Então, submeti-me a outra sessão de êxtase. Não seria perfeito? Morar na Tok&Stok e ter todos os livros, CDs e DVDs da Cultura?

Percorri cada pedacinho da loja, imaginando como adoraria ter uma mesa enorme com meus livros, computador e todos aqueles apetrechos de papelaria. Eu queria metade daqueles bloquinhos, incluindo os do “Pequeno Príncipe”, os porta-clips, os porta "qualquer coisa". Claro, também queria todos os imãs de geladeira, aquele delírio de pegador de saladas, as louças – principalmente um prato floral que estava em promoção – os copos (sempre os enormes) e aquele dosador de especiarias...Como é que eu vivi até hoje sem um dosador de especiarias?

Ops! Estava na hora de ir embora. Bem, eu comprei uma petisqueira linda que até agora não consigo identificar se tem um desenho de peixe ou melancia. Talvez um peixe depois de comer uma melancia. Estava entre os itens da promoção e é assinada por alguém que se chama “Jonathan Adler”. Não faço a menor idéia de quem seja o “designer”, mas a verdade é que é linda e agora tenho uma exclusiva petisqueira, especial para servir coisinhas à beira da piscina. Ok! Também não tenho piscina.

Prazeres são assim. A gente precisa e não tem que explicar.