quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Dis quand reviendras-tu"

Acabei de assistir o filme "Há tanto tempo que te amo". Fiquei profundamente tocada pela música final: "Dis quand reviendras-tu"... Talvez eu consiga escrever depois sobre todas as coisas que passaram pela minha cabeça. Nesse momento, a música é maior do que a tentativa de ilustrar com palavras esse sentimento.

domingo, 8 de novembro de 2009

"Catilangos"


Catilangos são “seres” abjetos. Ou se preferirem, “seres” abjetos quase sempre evoluem para a condição de catilangos. Assim como os camaleões, eles tendem a mudar de cor para se adaptar a um ambiente ou a uma situação. Quando você menos espera, eles te surpreendem. Sua arma é o veneno liberado em pequenas porções. A idéia do catilango é a morte lenta, para agonia da vítima.

Os catilangos são como chuva em dia de piquenique. Eles são como ventilador na sua farofa, ou como lama no seu sapato novo e branco. Uma pesquisa recente demonstra que os catilangos, assim como as baratas, podem sobreviver a ataques nucleares. Eles não vivem em comunidade, pelo simples fato de que um catilango não se reconhece como tal. O principal artifício do catilango é vencer a presa pelo cansaço. Por isso, ele faz ataques sistemáticos, mas não planejados.

O certo é que, como a morte e os impostos, eles existem e vão fazer parte da sua vida em algum momento. Se você não estiver atento, assim como os carrapatos, os catilangos podem se tornar hospedeiros e sugar seu sangue, fragilizando seu sistema nervoso e te induzindo à baixa auto-estima.

Nunca, em hipótese alguma, menospreze o poder dessa espécie. E se a ira te fizer esquecer disso, use a proteção de água benta e alguns dentes de alho e sempre que possível, faça oferendas aos deuses. Mesmo que eles passem por momentos de transição nos quais, a exemplo dos gatos, pareçam domesticados. Ao menor sinal de ameaça, as garras vão estar ali, afiadas. Se você tem um catilango por perto, abra o olho.

Cientistas estudam métodos de combate a esses predadores, mas os resultados são inconclusivos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Los Muñequitos de Las Penas de Guatemala"



Tenho uma aluna que viajou recentemente para a Guatemala. Na volta, carinhosamente, me presenteou com uma caixinha feita de uma madeira fininha. Quase uma palha. Dentro dela havia algo surpreendente. Bonequinhos minúsculos e um bilhete. Nele estava escrito em espanhol, algo assim: “Há uma lenda nos Altiplanos da Guatemala. Se você tem um problema, então conte a um “muñequito de las pienas”. Antes de ir dormir, diga a cada um, o que te aflige e coloque o “muñequito” sob o travesseiro. Enquanto você dorme, eles levarão seus problemas para longe.”

Simples, assim. Achei a ideia genial. Ou seja, todas as noites você saca um bonequinho e atribui a ele a responsabilidade por alguma coisa que te faz sofrer e deixa que ele cuide de levar para longe essas inquietações. Na minha caixinha havia seis “muñequitos”. É evidente que meus perrengues superam esse número de ajudantes, mas, convenhamos: se durante um mês eu destinar a cada um deles uma cota de problemas, posso facilmente ficar “zerada”.

Curiosamente, são todos “bonequinhos”. Não há “bonequinhas”. Os índios sabem o que fazem – eu sei que parece delírio o que digo – mas para uma tarefa como essa, precisávamos de alguém do sexo masculino. Homens são práticos, não é mesmo? Seguramente se fossem “muñequitas”, você ia contar seus problemas e elas iam tratar de discutir os detalhes, chorar com você, lembrar de uma história semelhante que viveram. Os “muñequitos”, não! Eles vão lá, levam seu fardo e pronto.

Enfim, daqui a pouco estou indo falar com os meus. A maior dificuldade é que não decidi ainda por onde começar. Não consigo sequer estabelecer uma ordem de prioridade. Elencar que problemas devo despachar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Solidão com vista pro mar"....


Primeiro me encantei com as praias e a possibilidade de visitar uma Ilha mítica. Ir para Cuba pareceu uma ideia que juntaria a beleza do Caribe com um pouco de história e política e tudo isso com uns tragos de run.

Depois, flertei com o glamour da grande metrópole, o reencontro com a cidade onde tudo acontece, para onde convergem as atenções do mundo. Não seria mal voltar ao Metropolitan, passear pelo Central Park, enlouquecer com o luxo da quinta avenida e de que quebra, revisitar os espetáculos da Broadway. Mas depois me ocorreu que Nova Iorque pode ser “up to date”, mas com frio, no final das contas, me sentiria na Sibéria.

Então, passou pela minha cabeça visitar Santiago, já que o Chile sempre foi um sonho de consumo. Dei uma piscadela para Cartagena, fiquei empolgada com a Disney, até pensei na Cidade do Panamá. Eu queria, sobretudo, ouvir uma língua diferente. E se pudesse ser o Espanhol, melhor.

Depois caiu a ficha de que devo viajar sozinha, ou quase isso e então, todos os lugares parecem pouco atraentes. Na pior das hipóteses, imaginei um resort numa praia qualquer do Brasil. Afinal, ano terminando, em fevereiro no retorno às aulas, as pessoas estão sempre comentando sobre a viagem que fizeram e como foi legal curtir a família, o marido, os filhos, o namorado e você lá, sem ter o que dizer. Sem uma novidade bacana para contar.

A verdade é que as férias estão chegando e não consigo ter um roteiro em mente. No final das contas, tenho medo de viajar e não ter mais do que “solidão com vista pro mar”

terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Não tá pegando nada..."


Minha mãe gosta de falar que me pareço muito com meu pai. Essa semelhança é ressaltada, em particular, quando ela se refere ao meu relacionamento com as pessoas. Em sua opinião, assim como meu pai, tendo a achar que todas são boas e que basta “meia horinha” com alguém, para achar que aquela pessoa é minha amiga de infância. Digamos que ela não está de todo errada e que anos atrás essa característica estava muito mais evidenciada. Mas esse post não é para falar da minha mãe, nem das coisas que ela diz sobre mim, quase sempre com razão.

Escrevo hoje para falar de uma pessoa que conheci a pouco mais de um ano. Não foi um caminho linear. Posso dizer que houve altos e baixos e que em alguns momentos, eu quase desisti. Mas valeu a pena insistir, porque acabei sendo premiada com uma amizade diferente daquelas que normalmente faço, já que a pessoa em questão não tem as afinidades que tradicionalmente me aproximariam de alguém. Ao contrário, temos temperamentos diferentes, gosto distinto para a música e, além disso, há uma efetiva diferença de idade entre nós.

Apesar disso, posso dizer que estabelecemos uma cumplicidade especial. Trabalhei com esse “garoto” por pouco mais de um ano. Eu digo “garoto”, porque apesar dele parecer ter 30 anos (opa! foi a vendedora da Siberian quem falou), costuma se comportar como um respeitável senhor, embora tenha pouco mais de 22 anos. Nesse tempo que nos coube trabalhar juntos, fizemos mais do que isso. André foi a pessoa com quem me relacionei mais de perto nesses últimos meses. Estive mais tempo com ele, do que com meus filhos, e deve ser por isso que o considero um pouco filho também. Foi com ele que dividi almoços de cardápio ruim, mas quase sempre boas risadas, e mesmo os momentos de angústias, minhas ou dele, foram uma forma de aprendizado para nós.

Ele não é do tipo que faz força para agradar e nunca deixou de me dizer “não” quando foi preciso. Nunca passou a mão na minha cabeça para me adular, mas quando o fez, foi de uma forma genuína e sincera. Na condição de “meu único colega de trabalho”, nossas conversas foram importantes para eu tomar as decisões que tomei, como por exemplo, deixar de trabalhar e reconhecer, de uma vez por todas, que aquela atividade não me fazia feliz.

Hoje almoçamos e rimos juntos, na maior parte do tempo de coisas que só têm graça para nós, porque nesse tempo, como dois bons amigos, aprendemos a criar nosso dialeto e interpretar o sentido de só olhar.

Ele não sabe, mas no dia em que me despedi dele – quando fui ao escritório buscar minhas coisas e fechar essa etapa da minha vida – chorei copiosamente ao sair de lá. Não porque estava tomando uma decisão que vai me impactar financeiramente, não porque ia começar uma nova rotina, mas acima de tudo, porque me acostumei a levantar toda hora da minha mesa e ir até a mesa dele para um dedo de prosa, ou simplesmente um abraço. Era prá ele que corria todos os dias para contar as minhas novidades, minhas alegrias e tristezas e disso, sinto muita falta.

Enfim, vida que segue. A minha e a sua, André.

A gente se vê! Afinal, “não tá pegando nada”.

Acho que você vai entender porque escolhi a música que embala esse post. E, aliás, a foto que ilustra essas linhas, tem crédito seu.

Beijão, da “sua única e verdadeira colega de trabalho”.

Ana Maria





sábado, 26 de setembro de 2009

Escolhas


Escolhas são complexas. Mesmo que estejamos falando de coisas simples, como eleger a cor de uma roupa ou o destino das férias. Escolher é, sobretudo excluir. Quando optamos por alguma coisa é sinal de que outra será descartada. É nisso que reside a dificuldade. Toda escolha devia vir acompanhada de um kit de primeiros socorros para o caso de não funcionar. Ou, uma taça de champanhe para o sucesso. Mas quer saber? A única coisa que acompanha o processo de escolha é uma mega ansiedade e o medo. Como garantia eu acrescentei a isso um terço e uma medalha de nossa senhora. E muita, muita vontade de não me arrepender.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Para Vivi




Daqui a pouco você estará inaugurando uma nova idade e fará isso em um momento especial no qual coisas importantes estão acontecendo em sua vida. Ano passado, quem poderia imaginar que tantas novidades estavam a caminho e que haveria mudanças tão radicais? Quando, nos nossos melhores delírios, você estaria indo morar em Buenos Aires com o seu amor?


Essa será uma das raras vezes em que não estaremos juntas nessa data e isso arrancou muitas lágrimas de mim, mas enfim..."la vida és mas compleja do que lo parece".


Eu queria estar inspirada o suficiente para declarar o meu amor, a minha admiração e para dizer o quanto me orgulho de tudo que você construiu e da pessoa que você é. Mas nem sempre as palavras obedecem aquilo que o coração determina.


Portanto, da forma mais singela queria agradecer pelos muitos momentos nos quais você foi determinante para que eu me sentisse feliz, para que colocasse os pés no chão, pelas risadas inesquecíveis, por abraços calorosos e por ótimas histórias compartilhadas em momentos de altos e baixos. Eu me orgulho profundamente da amizade e da cumplicidade que se estabeleceu entre nós e queria te dizer que nesse momento todas as minhas melhores vibrações estão dirigidas a você. Elas seguem com um beijo afetuoso e com todo o amor que sinto por você.


Que seu dia seja perfeito. Que você receba o carinho da família, da sua coleção de avós, dos seus amigos – que são muitos e genuínos – que você dê um beijo gostoso no Dani, de preferência depois de ter comido um brigadeiro e saiba que nesse momento eu fecho os olhos e finjo estar com você.


Feliz Aniversário! Feliz Vida! Feliz Aventuras. Feliz Amor! Feliz Família! Feliz, Feliz, Feliz!



Beijos da sua única e verdadeira....




Tia Ana.






Rota de Fuga


Poucas pessoas lêem o que escrevo, mas aquelas que o fazem parecem se importar quando me afasto daqui. Não sei o que me fez passar todo o mês de agosto sem registrar uma única linha. Talvez o peso de ter chegado aos 4.9. Talvez a excessiva carga de trabalho, ou quem sabe até a falta de assunto.

Bem, falta de assunto não é. Todos os dias a vida nos oferece farto material para escrever. Se fosse sobre alegrias, eu poderia contar que tive um dos aniversários mais bacanas da minha vida. Pela primeira vez minha família estava quase cem por cento na minha casa e os poucos amigos também. Foi muito bom. Eu me senti feito criança no meio daquela gente toda. Foi tanta euforia que quando foram embora eu adoeci. Bem, mas ai já é conversa para o meu terapeuta. Sim, esse é um assunto que merecia espaço aqui.

Depois de um longo exílio eu voltei para o André. Estamos nos reconhecendo, afinal muitas águas passaram por nossas vidas. Houve um tempo em que eu gostava de dizer que não conseguia mais viver sem duas coisas: um closet e o André. Digamos que sobrevivi à falta dos dois, mas é bom estar de volta e ter esse oráculo.

No mais, vida que segue. Cada dia mais trabalho e menos tempo e alguns dissabores também. Um deles acabou me deixando uma semana em Goiânia. Foi um momento do tipo: “para o mundo que eu quero descer”. E quer saber? Não foi tão ruim ficar quieta e longe da rotina. Foi bom ser cuidada e ter tempo para pensar e até para não pensar.

Por falar em pensar... Optei pelo caminho inverso. Ao contrário de boa leitura e reflexões aprofundadas venho me dedicando à prática do escapismo. A fórmula ideal? Seriados americanos. Primeiro, cinco temporadas de “Grey’s Anatomy”. Nesse, as histórias giram em torno de médicos residentes em um Hospital de Seatle. Medicina é o que menos conta. A graça está nos romances e nos casais e seus encontros e desencontros.

Agora, enquanto aguardo o recomeço da sexta temporada de Grey’s, acompanho uma história de suspense permanente: “Prison Break”. Ou seja, saí do hospital para um presídio e minhas noites e finais de semanas são dedicados a uma trama que envolve a fuga de alguns presidiários.

Enfim, a fuga da história acima veio sob medida para me ajudar a fugir de mim.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"sua égua do candola"....


Como já tive a oportunidade de contar, minha mãe é uma mulher simples, mas de muitas histórias. E boas histórias. Ontem eu não sei por qual razão, mas lembrei-me de uma delas e fiquei com muita vontade de escrever sobre isso.

Ela me contou que minha vó Chica – minha tia avó, na verdade – sobre a qual eu já falei nesse Blog, quando ficava nervosa com suas filhas, chamava-as de “éguas do candola”. Claro que ela contou esse “causo” com sua tradicional risada de velhinha sapeca. Eu, claro, perguntei a ela porque cargas d’água minha tia avó usava essa ofensa. Ela me disse que esse “candola” era um senhor um tanto desclassificado e que ser uma égua, e ainda por cima de sua propriedade, era um xingamento e tanto.

Bem, hoje de manhã fui à nutricionista. Aqueles que precisam recorrer aos estacionamentos das quadras comerciais de Brasília bem sabem que muitas vezes somos obrigados – em casos extremos – a deixar o carro com o freio de mão baixo, nas mãos de um flanelinha para chegar a tempo a um compromisso. Claro! Fazemos isso pedindo a Deus que ao voltar o carro ainda esteja inteiro e que não esteja atravessado no meio da rua.

Pois, bem. Hoje foi um desses dias em que esse recurso precisou ser ativado. Ocorre que os astros não estavam alinhados de forma favorável e o flanelinha não conseguiu empurrar o carro. Minutos depois de ter subido eu escutei uma buzina estridente e fui até a janela constatar que meu carro era o empecilho. Desci voando às escadas e quando cheguei ao estacionamento, uma mulher absolutamente histérica gritava comigo. Na verdade, ela berrava comigo.

Quando entrei no carro ela gritou mais : “não vai embora, porque já chamei a Polícia e a senhora – que soava como algo muito menos polido – vai prestar conta para eles”. Eu disse humildemente: “Pois, não.” E ela começou a gritar loucamente:”Sai daí, sai daí, eu estou apressada, a senhora já estragou o meu dia, sai daí que eu preciso ir embora”. Bem, é claro que metade da população estava parada olhanda aquele espetáculo.

Se fosse um filme, eu sairia do meu corpo, encheria a cara dela de porradas e iria embora ostentando um sorriso cínico de quem venceu um round. Mas eu fiquei petrificada. Parada e quieta. Ouvindo os xingamentos daquela mulher insolente que eu nunca mais vou esquecer e a única coisa que eu tinha vontade de dizer era: “sua égua do candola”!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lista de Presentes


Recebi um e-mail de uma amiga pedindo que eu fizesse uma lista de presentes que gostaria de ganhar no meu aniversário. Longe de mim ser daquelas pessoas modestas que dizem: “Imagina! Não precisa se preocupar.” Eu adoro receber presentes, eu adoro meu aniversário e claro, eu adoro que as pessoas gastem tempo pensando em mim. Narcisismo de leonina. Fazer o que?Enfim, a pergunta ficou martelando minha cabeça. Há zilhões de coisas que gostaria de ganhar, mas sempre que me fazem essa pergunta um bloqueio inevitável se estabelece.

Como a amiga pressionou pedi socorro para a Vivi, pois ela é sempre minha fonte de inspiração. Como ela estava sem paciência – e nós duas sabemos bem o que isso significa – eu tratei logo de fazer aquela lista padrão de livros, CDs e DVDs, arrematada pelos tradicionais mimos do Boticário; sabonetes, óleos, cremes e que tais.

No final de semana pensei muito no que de fato gostaria de ganhar e sobre a idéia de se fazer uma hipotética e permanente lista de presentes do tipo: “Isso eu quero. Isso me faz feliz!”.

Deitar no colo da minha mãe.
Escutar a risada da minha mãe.
Comer banana frita com açúcar. (feita pela minha mãe)
Massagem nos pés (feita pelo Guilherme)
Dormir enroscada com o Dego.
Cafuné sem hora para terminar.
Sonhar toda noite que estou beijando o Clive Owen.
Sonhar acordada que estou beijando o Cliwe Owen.
Assistir a trilogia Bourne de tarde sem sair debaixo do edredon. (Com o Clive Owen seria perfeito!)
Assistir as cinco temporadas de LOST sem temer que no final tudo não vá passar de coisa de outro planeta. (Com o Victor)
Tomar coca gelada sem culpa.
Tomar mais coca gelada.
Comer broinhas no Biscoito Mineiro com a Sol. (mesmo que ela continue uma sílfide e eu, uma baleia!)
Parar tudo ao meio dia para assistir aos episódios de “Medical Detetives”
Parar tudo às 17h00 para assistir aos episódios repetidos de Law&Order Criminal Intent.
Comprar a coleção completa de vestidos “Elvira Matilde” (exceto os vermelhos)
Comer cinco sacos de jujuba. (sem culpa)
Dormir, dormir, dormir, dormir e acordar e voltar a dormir.
Dormir em roupa de cama trocada todos os dias.
Poder de compras sem limite para usar "na Cultura".
Andar descalça.
Dormir de camiseta velha.
Dormir abraçada com cinco travesseiros. (Fazer o que? Não tem Clive Owen)
Comer churrasquinho com as minhas sobrinhas e falar que “efetivamente” adoro as histórias das amigas delas.
Tomar outra coca gelada.
Tomar café expresso com canela.
Dançar New York, New York, "em New York".
Ouvir “Todo se Transforma” até cansar. (nunca vou cansar)
Almoçar com a Patrícia num dia de domingo em que tudo parecia cinza demais. (e a presença carinhosa dela transformou tudo em azul celeste)
Olhar a lua e sentir o que senti naquela noite no estacionamento do IESB.
Almoçar no Beirute com o Giovani.
Participar de qualquer banca de TCC, com o Giovani.
Derramar um saco de pipoca na Graça dentro do cinema para escutar aquela risada impagável que ela tem.
Ouvir a Silvia falar “aquele Zé Maria é um sambarilove”.(e pedir a papai do céu que ela volte logo prá Brasília).
Andar com a Vivi em Montevidéu.
Ouvir a Carol dizer: “Parabéns! Você emagreceu 20 quilos” (e tomar duas cocas geladas para comemorar)
Usar uma calça jeans. (tamanho 40)
Calçar um All Starr e não me sentir ridícula.
Não precisar tirar sobrancelhas.
Encontrar um salão 24 horas.
Dar risada com o André, do planeta "Bizarro".
Não ter que falar com “gentes” em dias de TPM.
Não precisar fazer conta de dinheiro.
Ter um quarto só meu.
Ter um quarto só meu e lilás.


Obs.: 1 Os itens não estão relacionados por ordem de prioridade.
Obs.: 2 É claro que poderia continuar essa lista indefinidamente.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Guilherme


Hoje passei o dia sentindo banzo. Andei inquieta e com discretas dores no peito. Agora de noite fiquei assim.. assim.. andando pelos cantos e chorando sem razão. Então me dei conta de que hoje meu filho Guilherme faz 23 anos. Eu não me esqueci disso o dia todo. Lembrei-me dele em todos os instantes, mas como está viajando e não pude abraçá-lo, fiquei com a estranha sensação de quem parece ter perdido alguma coisa.

Fechando os olhos posso me lembrar daquela madrugada em que acordei sentindo a dor inconfundível. A certeza de que o momento do encontro havia chegado, mas de não saber como fazer, quando me entregassem nas mãos aquele que estivera dentro de mim durante nove meses.

Há 23 anos não havia as modernas ecografias que hoje são quase fotos perfeitas do filho que vai chegar. Naquele tempo eu tinha apenas a intensa convicção de que seria menino. E porque estava lendo "O Nome da Rosa", de Humberto Eco, cismei com Guilherme.

A médica me perguntou: “E se for menina?” Eu disse: “Se for menina o nome é Clara, mas tenho certeza de que é menino”. E quando ele chegou, mais cabelo do que criança, ela disse com um sorriso largo: “mãe, você tinha razão é o Guilherme”. Eu lembro até hoje de sentir a maior das palpitações e depois, só instinto.

Tantas vezes eu pari o Guilherme, que não sei mais qual de seus nascimentos foi mais intenso para mim. Só sei que tive que brigar muito por sua vida e fazê-lo ver o quanto ela pode ser frágil e o quanto ele pode ser maior do que todas as adversidades.

Eu sei que agora ele deve estar gastando o sorriso largo que tem, mas deve haver lá no cantinho do seu coração um pedaço que também sentiu saudades e que sabe muito bem o amor e a cumplicidade que emana de nós.

Quando era criança adorava cantar comigo essa música.

Eu te amo, filho! “Me dá um beijo, então...aperta minha mão... tolice é viver a vida assim, sem fantasia...”


"Glass"...

Essa música não me sai da cabeça. Hoje me sinto assim ..."just like glass".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Como se fosse a primeira vez..."


Ela lembra com detalhes do nosso primeiro encontro. Fala dos meus cabelos cacheados e de como, ao me ver, idealizou uma vida profissional e me tomou como modelo para sua carreira. Isso me causa espanto, pois nessa época eu era uma jovenzinha que não via qualquer talento em mim, principalmente profissional. Da última vez que nos vimos me olhou com aqueles olhos miúdos – e um pouco mais tristes - e disse que eu parecia uma judiazinha.

Nossos encontros são invariavelmente meteóricos. Há tempo de menos e coisas demais para contar. Talvez seja por isso que cuidamos de falar muito e de forma fragmentada sobre tudo.

Eu não me recordo da nossa primeira vez, mas sei que me pareceu afetada. Eu não conseguia imaginar que uma pessoa pudesse – de forma espontânea – ser tão doce e carinhosa. Tinha um cabelo impecável – ainda o tem - e me parecia uma caprichosa menina rica, usando as palavras quase sempre no diminutivo.

Muito a contragosto aceitei que fosse minha colega de trabalho. Escapava dela sempre que podia e tinha uma má vontade inacreditável para suas idéias. Lembro que ela usava com freqüência a expressão “artístico cultural” e que eu, definitivamente, não parecia inclinada a incluí-la na minha lista de amigas.

Não sei quanto tempo foi necessário para que eu caísse de amores por ela, mas sei que lamento profundamente ter demorado tanto para reconhecer nela a amiga que hoje habita uma das áreas mais nobres do meu coração. (eu sei que isso foi piegas, mas não resisti!!!)

Nos aproximamos em São Paulo. Numa viagem a trabalho pouco depois que eu havia passado por um sério acidente de carro. Diante da minha explícita má vontade ela resolveu que estava na hora de passarmos nossa história a limpo e eu fui obrigada a abrir a guarda e claro, nunca mais nos perdemos de vista.

Quis o destino que logo depois ela se desligasse do trabalho e que voltasse a morar no Rio. Antes disso, entretanto, pudemos viver com intensidade a cumplicidade de uma amizade que sobrevive todos esses anos. A distância nos aproximou. As cartas trocadas nesse tempo nos permitiram acompanhar de forma recortada, o desenrolar das nossas vidas. E foram muitas e longas cartas, nesses tempos em que a comunicação passou a ser feita exclusivamente pelo modo virtual, estávamos lá, deixando tinta em todo tipo de papel.

Lembro-me que um dia recebi pelo correio uma caixa na qual ela me enviava um monte de fitas cassetes. Ela teve o cuidado de fazer as capas e montar uma trilha sonora peculiar que incluía músicas francesas, portuguesas, gregas e italianas. Não lembro de ter lhe contado, mas nesse dia eu chorei copiosamente, pois foi um dos gestos mais carinhosas que já recebi de alguém.

Quando foi visitar a Grécia cuidou de me incluir na viagem. Fez isso me relatando, na forma de um diário, suas aventuras por lá. No decorrer dos anos suas cartas chegavam invariavelmente acompanhadas de um artigo, de um texto, de alguma foto, ou cartão, qualquer elemento que me ajudasse a ver o mundo com seus olhos. Poucas pessoas me ensinaram tanto e eu sei que faço parte de suas preocupações diárias, pois nos gostamos verdadeiramente como irmãs.

Hoje fui ao cinema com uma amiga e de repente me lembrei que um dia, anos atrás, estávamos no Park Shoping e decidimos assistir um filme. Não lembro qual era, mas sei que não tínhamos dinheiro e que despejamos o conteúdo de nossas bolsas e juntamos centavo por centavo até que conseguimos chegar ao valor do ingresso. E rimos, rimos muito disso.

Há muito para falar sobre você, Luiza Adriana. Podia recordar o passeio na Floresta da Tijuca. A caminhada pela Praia Vermelha, as vezes em que vimos juntas o por do sol de Brasília e que você me fez pensar sobre a importância da paisagem na nossa saúde. Poderia falar do nosso "projeto embaixadas", de comer canjica no Sheraton, de todas as diferenças que temos e que nos fazem, apesar disso, tão iguais.

Hoje, entretanto, queria apenas dizer que te amo e que sinto muitas saudades, muitas!

Um beijo.

Ps. 1 – O título desse post só nós duas vamos entender.
Ps. 2 Essa é a música/filme que escolhi para me lembrar de você.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pequenos Prazeres


Tenho tido insônias sistemáticas, mas esse post não será um revival sobre não dormir. Estou de férias. Bem, daqui a pouco vou sair para acompanhar uma reunião no Congresso, entretanto ganhei uma semana para “descansar”. Até o momento não pude fazer isso como se espera de alguém que esteja de folga. Não fui à praia. Provavelmente não irei. Não viajei para uma temporada em Campos de Jordão – afinal, é inverno. Desde que estou de férias tenho me ocupado daquilo que inevitavelmente fica de lado quando temos três empregos: tentar colocar um pouco de ordem na sua vida pessoal.

Estive em Goiânia para ver minha mãe, comemoramos o aniversário da “sobrinhazinha” e do Helvécio e voltei correndo – literalmente – para entregar meus relatórios de final de semestre. Ontem, depois de concluir essa tarefa decidi que estava na hora de fazer alguma coisa para marcar as férias. Então, fui fazer aquilo que mais gosto: cinema.

Fui ao Casa Park ver “Trama Internacional”, com Clive Owen. Afinal, eu merecia umas horinhas com aquele espécime inacreditavelmente lindo. Bem, não foi possível, pois ele só estava disponível em uma sessão muito além da minha paciência de esperar. Acontece, quando a gente não se programa e espera que o acaso dê uma forcinha.

Para não perder a viagem decidi experimentar “pequenos prazeres”que estavam à mão, como entrar na Cultura e passar alguns momentos de puro delírio diante daqueles zilhões de livros, CDs e DVDs. Com algumas exceções, Paulo Coelho, por exemplo, e daqueles abomináveis livros de auto-ajuda eu acho que levaria quase tudo para casa. Ou melhor, eu adoraria ajustar minha casa àquele universo de letras e sons.

Sentei-me para um café – não! a livraria não merece aquele café, pois seus atendentes destoam das pessoas incríveis da Cultura, que sabem escrever corretamente na tela de pesquisa o nome do autor ou da obra que você procura, ao contrário de outras livrarias em que as pessoas se escondem para não te ajudar ou escrevem assessoria com “c”: “acessoria”. (Tenho certeza que o André sabe o quanto isso afeta minha auto-estima).

Claro que comprei quatro livros. E também um DVD. E por pouco não comprei uma edição estupenda de um livro que conta a história dos "vestidos". Antes que meu salário ficasse retido naquela pequena Disneylândia fui até a Tok&Stok. Então, submeti-me a outra sessão de êxtase. Não seria perfeito? Morar na Tok&Stok e ter todos os livros, CDs e DVDs da Cultura?

Percorri cada pedacinho da loja, imaginando como adoraria ter uma mesa enorme com meus livros, computador e todos aqueles apetrechos de papelaria. Eu queria metade daqueles bloquinhos, incluindo os do “Pequeno Príncipe”, os porta-clips, os porta "qualquer coisa". Claro, também queria todos os imãs de geladeira, aquele delírio de pegador de saladas, as louças – principalmente um prato floral que estava em promoção – os copos (sempre os enormes) e aquele dosador de especiarias...Como é que eu vivi até hoje sem um dosador de especiarias?

Ops! Estava na hora de ir embora. Bem, eu comprei uma petisqueira linda que até agora não consigo identificar se tem um desenho de peixe ou melancia. Talvez um peixe depois de comer uma melancia. Estava entre os itens da promoção e é assinada por alguém que se chama “Jonathan Adler”. Não faço a menor idéia de quem seja o “designer”, mas a verdade é que é linda e agora tenho uma exclusiva petisqueira, especial para servir coisinhas à beira da piscina. Ok! Também não tenho piscina.

Prazeres são assim. A gente precisa e não tem que explicar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Sem você eu não sou ninguém"


Querida amiga,

Como estão as coisas no seu planeta?

Por aqui tudo segue cinza desde que sua presença rosa choque deixou a minha vida. Ao contrário do que você disse, meu coração não se convence de que um relacionamento pode se manter vivo apenas com conversas telefônicas.

Sinto saudades, em especial de uma noite quando voltávamos da UNB e tivemos um acesso de riso, imaginando que uma de nós seria encontrada num terreno baldio com a boca cheia de formiga.... e mais não posso dizer.

Hoje vi uma loira em cima de um salto altíssimo jogando suas melenas de um lado para outro e quase chorei. Claro! Lembrando de você, que é a única e verdadeira loira da minha vida.

Sou obrigada a ser superlativa para ver se consigo sensibilizá-la. Doravante, depois de escrever essas palavras os que me leem vão logo achar que sou lésbica, mas você bem sabe que apesar de termos benção oficial, nosso assunto é outro.

Enfim, amiga, escrevo-te para dizer que sem você eu não sou ninguém.

Bjs

terça-feira, 26 de maio de 2009

Minha aluna Rosa


Dia desses recebi um e-mail que falava de uma senhora de mais de oitenta anos que se tornou um exemplo de tenacidade e vontade de viver, ingressando numa faculdade em um momento da vida em que muitos estão se rendendo ao ocaso.

Bem, curiosamente eu tenho uma aluna chamada Rosa que não tem oitenta e dois anos. Tem vinte a menos, mas que podia perfeitamente estar fazendo crochê e tocando em frente sua aposentadoria. A exemplo da Rosa de que falava o e-mail, minha aluna é uma pessoa de alegria contagiante, que está concluindo um curso de Comunicação e na metade de um curso de Direito.

Eu a vejo sempre pela escola em animadas rodas de conversa e não consigo me lembrar dela sem que o seu sorriso largo e franco esteja associado. Eu sou uma pessoa que se apega facilmente aos alunos. De alguns, sinto saudades como se fossem filhos, mas a Rosa é uma pessoa que eu não vou esquecer jamais. E não é por todos os mimos que ela me oferece, nem porque somos as duas, viciadas em Coca-Cola, mas porque tenho orgulho de ter tido na minha sala de aula uma mulher intensa, cordial e determinada. Daquelas que sabem oferecer ternura e pulso forte na hora certa.

Deus sempre foi generoso ao me conceder o privilégio de conhecer pessoas que valem à pena. E hoje senti uma vontade enorme de materializar o meu carinho por ela e dizer que sou grata, não apenas por ter tido a oportunidade de conhecê-la e me tornar sua amiga, mas por todas as lições que ela, mesmo sem se dar conta, me ensinou. Ou seja, durante todo esse tempo, ela foi a mestra, não eu.

Um beijo, Rosa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Com que roupa?


Acordei muito indecisa sobre que roupa usar. A escolha não era particularmente difícil, pois não se tratava de uma festa. Eu procurava um vestido básico para ir dar aula e depois trabalhar. Essa dúvida me fez lembrar de um tempo em que eu tinha apenas uma opção: calça jeans e uma camiseta rosa com um tênis bordado. Curiosamente ia a todos os lugares com a mesma roupa e escolher uma peça não era problema. Anos depois e muitos quilos a mais enfrento o desafio de vestir uma roupa e me sentir feliz com ela. Pode apostar, tudo que eu queria era entrar naquele jeans.

A lembrança da roupa me remeteu a coisas engraçadas. Inclusive ao comentário maldoso de um garoto com o qual eu saia na época que perguntou: “você só tem essa roupa?” E eu respondi sincera e sem recalques: sim! Hoje, provavelmente ficaria em casa chorando uma semana por conta disso.

Nessa retrospectiva veio a memória as amigas da época. Todas eram mais bonitas, tinham mais roupas, eram mais ricas e descoladas. Dia desses vi a foto de uma delas. Fiquei chocada! A vida tratou muito mal essa pessoa. Lembro que tinha olhos claros e que era muito paquerada. Aliás, lembro que era uma das meninas mais bonitas da escola. Não sei o que aconteceu, que caminhos precisou percorrer, que sofrimentos cruzou sua vida, mas lembrei-me das sábias palavras da minha mãe. Quando menina eu chorava e dizia que era muito feia. Ela ria e com o seu jeito peculiar de encarar a vida dizia: “minha filha, a beleza acaba, mas a feiúra conserva”. (rs) Bem, acho que ela estava certa.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Rotina


Tenho andado sempre por aqui. Olho. Penso. Ensaio algumas palavras e vou embora cabisbaixa. Que triste ter um Blog e não ter o que escrever. Será que já é o tempo implacável me legando uma vida desprovida de novidades para contar?

Rotina! Uma vida em que tudo parece não mudar. É como se fosse um DVD em pausa. A cena não evolui. O final parece que nunca vai chegar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Insônia..Outra vez...


Como acontece toda semana, cá estou, às voltas com a insônia que antecede a segunda-feira. Não tem jeito. Eu faço todo um ritual: tomo um banho morno, uso um óleo relaxante, troco a roupa de cama – eu adoro roupa de cama limpa – ajeito os travesseiros, vejo um filme, leio um livro e, mesmo com o auxílio luxuoso do Rivotril, implacável, lá está a insônia. Aliás, aqui está a insônia.

Na segunda dou aula de manhã, depois enfrento um dia inteiro de trabalho e a noite volto para a faculdade. Ou seja, nesse momento eu já sofro pensando que uma vez mais, o dia vai amanhecer e meu corpo vai estar pedindo socorro, eu vou estar contando os minutos para chegar em casa, tomar um banho e dormir. Sofro a angústia de uma hora que ainda não chegou. Anseio pelo sono da segunda-feira quando o sono do domingo ainda não se consumou.

O Que fazer? Já tomei chá, já tentei um livro, apelei até para o que mais sonolento pode haver: “Os meios de comunicação como extensões do homem” (Marshall Mcluan). Sei lá, pensei que uma literatura de maior erudição poderia ser eficiente, mas depois de ler ...“Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos práticos e operacionais, o meio é a mensagem”. Santo Deus! Não é hora para isso. Não é.

Nada contra aquele que é considerado uma referência para o estudo da comunicação, mas convenhamos, seguir adiante seria uma tortura desnecessária e uma afronta a mim e a Mcluhan, que não gastou anos de pesquisa para acabar como oráculo de uma mulher insone.

Melhor invocar o poema de Álvaro de Campos... “Não durmo. Não durmo. Não durmo. Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma! Que grande sono em tudo exceto no poder dormir! “

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Minha Mãe e o vestido que virou panela...


Minha mãe fez 82 anos no dia 20 de março. Queria muito escrever alguma coisa sobre ela e ressaltar a alegria de vê-la chegar tão bem a essa idade, mas as tentativas foram frustradas, a emoção foi maior que a capacidade de dar corpo a qualquer narrativa.

As mães são criaturas míticas. Dificilmente alguma passará sem deixar marcas em seus filhos. A minha não é diferente. Todos os dias peço a Deus que me faça um terço do que ela é. Que me dê uma gota de sua coragem, vitalidade, generosidade e bom humor.

No dia de seu aniversário perguntei a ela como tinha sido o começo da vida com meu pai. Eu conheço bem a história, mas sempre é bom ouvi-la e impressionante como os detalhes são nítidos na sua lembrança.

Meus país vieram da zona rural, de famílias muito simples. Minha mãe teve uma vida bastante difícil, já que sequer conheceu a própria mãe que morreu de parto. Foi criada pelo pai e pela irmã mais velha, uma mulher de hábitos severos. Passou por todo tipo de privação, teve acesso ao mínimo de educação, que naquele tempo se resumia a ser mais ou menos alfabetizada e penso que sua maior alegria era o convívio com as primas – uma delas minha madrinha.

Meu pai era um homem inteligente e sagaz, que foi muito longe para os recursos da época. Com a educação que recebeu e seu autodidatismo, chegou a um patamar profissional que hoje, muitos pós graduados não alcançariam.

Eles se conheceram casualmente. Meu pai gostou da minha mãe, que não achou a menor graça nele, mas a iniciativa que teve de pedir sua mão deu-lhe a prerrogativa de levar. Ou seja, em pouco mais de um mês estavam casados. Minha mãe conta que a sensação de se casar era a de estar sendo levada por um estranho. Não havia intimidade entre eles e o relacionamento foi construído no decorrer da vida que tiveram.

Perguntei-lhe que comida tinha feito para ele quando se casaram. Ela disse que como eram muito pobres, o cardápio não fugia muito de arroz, feijão – cozido em fogão à lenha – banana frita e abóbora. A casa em que viviam era modestíssima e disse-me ela que quando nasceu o primeiro filho, nada mais tinham que poucos panos para cobri-lo.

Dessa conversa o que mais me marcou foi o desfecho que deu a seu vestido de noiva. Diante da adversidade, optou pela realidade. Pintou-o de uma cor tipo beterraba, ficou muito bonito e ela o vendeu por sessenta dinheiros (ela não lembra qual era a moeda da época, se réis ou cruzeiros velhos). Com esse valor comprou duas panelas, uma bacia e com o restante meu pai comprou açúcar.

Outros tempos. Essa história marca bem o temperamento de minha mãe que sempre preferiu prover os outros e a casa do que dar mimos a ela mesma. Esse começo de vida com tantas privações talvez explique o zelo que ela dedica às suas coisas. Principalmente à sua casa, sempre impecável e com o conforto que ela não pode desfrutar no passado. Sua cama está sempre impecavelmente arrumada e tem uma obsessão por limpeza e organização.

Disse a ela que gostaria muito de escrever sobre suas histórias, porque ela as tem em profusão e tenho medo de que essa memória se perca. Rapidamente, ela orgulhosa contou para as minhas sobrinhas que eu ia escrever um livro sobre a vida dela e, desde então, nunca mais fui capaz de escrever uma linha nesse blog. Ela me atribuiu responsabilidade demasiada e isso me intimidou.

Estou terminado de ler um livro da Isabel Allende – “A Soma dos Dias” – no qual relata a rotina de sua família nos últimos anos. Em vários momentos ela menciona a farta correspondência que troca com a mãe desde que se separaram. Uma mora no Chile e a outra nos Estados Unidos. Atribui a isso a capacidade de congelar fatos e situações que vão se perdendo e que deram a ela material para compor um mosaico dos anos de sua vida. Coisa que já havia feito em outros romances, especialmente em “Paula”. Ela começa o livro com uma frase que pode ser aplicada a muitas vidas, inclusive à minha: “Não falta drama em minha vida e me sobra material de circo para escrever”.

Quando li essa frase tive uma imediata identificação. Mas ao contrário de Isabel, a mim falta o talento. Por isso fiquei intimidada com a expectativa de minha mãe de que eu teria a capacidade de escrever um livro sobre ela. De qualquer forma, com textos capengas ou não, pretendo voltar a essas páginas outras vezes com os “causos” da minha velhinha – que odeia ser chamada assim – e tentar manter viva a sua trajetória.

Mãe, eu tenho a convicção de que você viverá ainda muitos anos até que eu possa alcançar a segurança de contar sua vida e como a sua determinação foi importante para manter nossa família unida e para que tivéssemos, seus filhos, netos e bisnetos não apenas a alegria do seu convívio, mas o apoio incondicional sempre que cada um de nós precisou.

Nenhuma palavra, jamais será capaz de ilustrar a pessoa estupenda que você é. Beijos e todo o amor da sua filha.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Conselho


"Água benta e presunção: cada um toma a quantidade que quer".

domingo, 8 de março de 2009

Dependência Química


Todos já ouvimos algum discurso sobre o malefício das drogas. Alguns, depois de adictos são obrigados a repetir o mantra que começa: “apenas por hoje”... Bem, talvez esteja na hora de assumir que sou dependente química.

É difícil porque embora eu tenha esse jeito de maluca sempre fui careta. Caretíssima. Mas essa droga me pegou. No começo o uso era social, mas ultimamente perdi o controle e agora, bem, ela assumiu o controle sobre mim.

Como todos que se submetem a algum tipo de vício tenho tentado evitar. Eu sei os danos que a dependência me causam, eu sinto na pele. Mas é difícil porque há sempre uma ao meu alcance. E nesse calor, como é que eu posso resistir.

E ela é vermelha e sexy e quando a vejo é como se eu entrasse em transe e quando experimento é como se continuasse em transe. Minha mãe implora para eu parar, meus filhos tentam me ajudar, mas se tornaram reféns da mesma poção.

Tenho amigos que fingem não ter sucumbido e fazem controle de danos usando uma versão “zero”. Na dúvida, eu uso as duas opções.

Ah! Quer saber... tô indo pegar uma geladinha agora.

terça-feira, 3 de março de 2009

SANAR


Quando não conseguimos expressar os sentimentos o negócio é pedir a ajuda dos especialistas. Por Jorge Drexler...

Las lágrimas van al cielo
y vuelven a tus ojos desde el mar
el tiempo se va, se va y no vuelve
y tu corazón va a sanar
va a sanar
va a sanar
La tierra parece estar quieta
y el sol parece girar,
y aunque parezca mentira
tu corazón va a sanar
va a sanar
va a sanar
y va a volver a quebrarse
mientras le toque pulsar
y nadie sabe por qué un día el amor nace
ni sabe nadie por qué muere el amor un día
es que nadie nace sabiendo, nace sabiendo
que morir, también es ley de vida.
Así como cuando enfríe
van a volver a pasar
los pájaros, en bandadas,
tu corazón va a sanar
va a sanar
va a sanar
Y volverás a esperanzarte
y luego a desesperar
y cuando menos lo esperes
tu corazón va a sanar
va a sanar
va a sanar
y va a volver a quebrarse
mientras le toque pulsar

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Quinta-feira de cinzas"


Eu vesti luto e preparei o espírito para enfrentar o feriado de carnaval submersa em tristeza. A solidão parecia um calvário, que sem alternativas, eu teria que suportar. Ao contrário do que preconizava minha inclinação natural para o drama, o feriado passou ligeiro. Ficar só foi "quase" agradável e quando a casa voltou a ser território de todos, eu me perguntei: por que os dias de solidão não podiam ter durado um pouco mais?

Entretanto, não estava preparada para essa “quinta-feira de cinzas”. Um dia modorrento que parece querer durar implacáveis “mil horas”.

Tudo que eu queria era ser aquela menina de tênis, vestido xadrez e mochila nas costas que vi passear pelo shopping. Acreditem, ela ousava sorrir num dia como esse e, vez ou outra, mordiscava a bochecha do namorado como se o tempo deles tivesse outra dimensão.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".


A primeira lembrança que tenho dele me remete a sorvete de pistache. Eu não sei que idade tinha. Sei que nunca havia experimentado pistache, mas lembro que era verde e que era bom.

Lembro que ele sumia de vez em quando e que minha mãe chorava pelos cantos e que cochichava sobre seu destino. Lembro que ele era muito bonito, com seus olhos azuis faiscantes, feito os atores italianos da época.

Uma vez achei no quarto dele uma revista em quadrinhos com várias cenas picantes. Eu não fazia a menor idéia do que era sexo, mas naquele momento acendeu a luz vermelha. Aquilo não era para criança.

Ele me tratava com certa crueldade. Deixava sempre um restinho de água no copo e depois de beber, derramava em mim. Claro que eu sempre chorava e corria para a barra da calça do meu pai, aliás, eles tinham uma relação tensa. Uma vez eu o vi chamar papai de “judeu”. Eu não fazia a menor idéia do que era “judeu”, mas sei que a tensão se acentuou.

Lembro que ele trabalhava numa empresa chamada “Liquigaz” e que tinha um amigo baixinho chamado Tino e outro amigo bonitão chamado Mauro. Para nós ele era “Zé”, mas quando ficou noivo e foi se casar fiquei sabendo que seu nome era Roberval.

Seu casamento dividia os sentimentos. Enquanto meu pai se mostrava exultante, porque ele ia se casar com uma moça de boa família e que isso poderia “dar um rumo a vida dele”, minha mãe chorava. Achava que ele era muito moço e como ia se mudar para uma fazenda, ambiente com o qual não tinha a menor intimidade, aquela decisão era uma temeridade.

A moça de boa família era a Teresa – que foi sua mulher por toda a vida – ela era noiva de um amigo dele. Falava-se a boca pequena que ela se deslumbrara por ele e que rompera o noivado. Para mim aquilo parecia filme, mas era destino.

No seu casamento me vestiram com meias três quartos com “pompons”. Isso me inflou de ira – embora eu não tivesse a exata dimensão desse sentimento. Sei que a cerimônia civil aconteceu na casa da noiva e que ele demorou para dizer “sim” quando perguntado se “aceitava aquela mulher como sua legítima esposa”. Minha mãe respondeu por ele. “Sim”. E todos pareceram aliviados.

Pouco depois do casamento ele e a Teresa foram passar uns dias em Goiânia. E ai, pela primeira vez eu soube o significado da palavra “ciúme”. Ele recebeu uma cesta com rosas vermelhas e um cartão. Minha cunhada ficou louca. Ele atirou as flores no quintal e saiu. Ela se enfiou no quarto e tomou um porre de vinho. Nesse dia eu soube também o que um vinho – de má qualidade - pode fazer a alguém. Ela trancada e todos batendo, implorando que abrisse porque sabíamos que algo não ia bem. Horas de muita tensão.

Então, ele chegou. Magnânimo apenas bateu na porta e pediu: “Teresa, passa a chave por baixo da porta”. Ela obedeceu. E a cena que se viu depois foi bizarra e dispensa comentários. Calmo ele a jogou nos ombros como se faz com uma toalha, levou-a para o banho, lavou-a, secou seu cabelo, enquanto minha mãe limpava tudo. Depois ele a pôs para dormir como se fora um bebe. E ninguém disse uma palavra. Ou se disse o fez de forma silenciosa. Como, aliás, eram ditas as coisas na minha casa.

Há muitas coisas que poderiam ser ditas sobre o meu irmão. Ele não era um homem comum o que tornaria impossível a tarefa de traduzi-lo em palavras. Muitas coisas ficaram por dizer porque, infelizmente, a gente sempre pensa que haverá uma próxima vez. O que posso dizer é que passamos a vida, aparentemente alheios ao que sucedia ao outro. Eu me ressentia de não receber a atenção que julgava merecer, ele não era exatamente pródigo ao verbalizar seus sentimentos. Mas sabíamos intimamente, cada qual ao seu modo, da intensidade do nosso amor.

Tivemos alguns momentos que entendo como uma despedida. Um deles foi numa comemoração de dia das mães em que ficamos sentados à mesa e começamos a cantar. Ele gostava de música e de boa música. Depois, no natal de 2006. Ele ficou apenas um dia. Nessas ocasiões costumava gastar mais tempo com meu irmão Brasil, mas curiosamente pediu-me para levá-lo à rodoviária para comprar a passagem de volta. Fomos conversando e ouvindo um disco do Drexler. Eu lhe falei da viagem que fizera com a Vivi a Montevidéu e ele me disse bem ao seu estilo, que a música era boa.

Fazia muito tempo que não me chamava de “Aninha” e recomendou que eu me cuidasse. Nesse mesmo dia fomos, Brasil e eu, levá-lo para tomar o ônibus e pela primeira vez estávamos os três irmãos reunidos. Eu ali, me sentindo finalmente aceita no círculo restrito dos homens da família.

A última vez foi no aniversário de 80 anos de minha mãe, em março de 2007. Estava alegre e contrariando sua fama de rabugento com fotos, sorriu para todos os cliques. Eu estava triste. Era uma tristeza que não parecia ter explicação. Contou divertido para Helvécio – a quem chamava de “Paraíba” que tivera um sonho em que o diabo queria levá-lo. Eu cheguei quando a estória começava e ri quando ele reproduziu o diálogo hipotético com o demônio: “com você eu não vou” e abriu um sorriso largo.

Na saída nos abraçamos e eu perguntei a ele – que parecia não querer ir embora – quando finalmente iria à minha casa? Ele respondeu: “qualquer dia desses, mas você sabe só vou se for de TAM”. Eu disse: “Então te mando a passagem”. Ele riu e se foi.

Quando entramos minha mãe me disse: “seu irmão estava diferente. Ele até disse que me amava muito”. Súbito, 17 dias depois ele nos deixou. Quando veio o telefonema com a notícia era como se eu não conseguisse acordar de um sonho ruim.

Hoje ele faria 62 anos. Fizemos tantos planos para seu aniversário de 60...trocamos e-mails, minhas sobrinhas e eu, sobre onde seria, como seria e no final, bem, no final não aconteceu. Alguém disse que na vida é assim, você faz um plano, Deus faz outro.

É muito dolorido falar desse assunto. É impossível não chorar rios de lágrimas ao vê-lo numa foto, ou lembrar do seu sorriso. Mas ele era um homem pragmático e dramatizar uma homenagem seria uma afronta. Eu queria, portanto, lembrar-me dele com a música que nos pediu para cantar e que nós, Viviane, Eliane e eu, desafinadamente tentamos interpretar. Ele ria maroto quando perguntávamos porque gostava da canção. Sabe-se lá. De qualquer forma é uma bela canção.

É isso. Feliz Aniversário, irmão!


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Hollywood se rendeu a Sean Penn. Eu também!


Eu queria escrever algo descaradamente favorável a Sean Penn. Uma declaração de amor depois de tê-lo visto numa atuação brilhante no filme “Milk.”Afinal, durante muito tempo alimentei uma tremenda antipatia por ele. Sim, o big astro do cinema americano que ontem recebeu seu segundo Oscar como melhor ator. Não sou exatamente fã de Madona, portanto minha aversão não estava relacionada aos sopapos que deu nela durante o tempo em que estiveram casados. Ele apenas me parecia cínico demais ou charmoso de menos.

Em 1993 fiquei balançada. No filme “O Pagamento Final” levei um tempo enorme para descobrir que o advogado inescrupuloso de Al Pacino – o astro do filme – era Sean Penn. Achei impressionante sua capacidade de se transformar e incorporar o personagem daquela forma visceral. Entretanto, suas ótimas atuações em filmes como “I Am Sam”, “Os últimos passos de um homem” e “Além da Linha Vermelha” não abalaram minha convicção. Sean não era o astro que escolhi para chamar de meu.

Que sorte! A despeito da minha opinião - que, aliás, não afeta sequer a vida dos mais próximos a mim - Sean seguiu sua trajetória e enquanto eu torcia o nariz ele fazia ótimos filmes. Por exemplo: “Sobre Meninos e Lobos” que lhe deu o primeiro Oscar. E “21 Gramas, uma atuação magistral. Capitulei. Me entreguei completamente e não canso de me perguntar como fui capaz de ignorar o óbvio: Daniel Craig é lindo e musculoso. Tom Cruise tem um sorriso encantador. Clive Owen me faz perder o sono, mas Sean Penn é único.

Ao observá-lo mais de perto soube que é um ativista, um homem preocupado com questões políticas e ao contrário de muitos de seus pares age em favor de causas humanitárias sem fazer delas um show de marketing.
Por fim, quando não precisava fazer mais nada para que eu continuasse a incensá-lo no altar dos deuses da sétima arte assisti “Milk”. Esse filme me deu uma nova perspectiva do que seja o trabalho de um ator. O filme tem defeitos, mas Sean não ultrapassou a linha tênue que poderia torná-lo caricato atuando como um gay afetado. Ele emprestou sua arte para falar de Harvey Milk um ativista que virou o jogo na década de setenta, quando ser homossexual nos Estados Unidos era como ser negro. Harvey fez história e Sean soube contá-la de uma forma esplêndida.

E cá para nós, James Franco deve mesmo ter sentido um baita orgulho de beijar Sean. Eu adoraria. Mas ai não seria cinema e como vocês sabem, só nas telas o impossível pode acontecer.




domingo, 22 de fevereiro de 2009

Carnaval


Vislumbrei esse feriado de carnaval como se fora finados. A solidão parecia ser minha única alternativa, mas foi o cinema o grande responsável por tornar esses dias menos tristes e romper com a predestinação de tédio.

Quando as luzes se apagaram eu visitei a Alemanha nazista e a tentativa de um militar de passar à história como alguém que matou Hitler e assim, atenuar os estragos que suas ações causaram a humanidade. Bem, ele não conseguiu.

Fui conduzida também a São Francisco e apresentada ao ativista gay Harvey Milk que foi às ruas defender igualdade “sem perder a ternura jamais”. Nesse filme há fortes doses de política e erotismo e a magistral interpretação de Sean Penn faz beijos entre pessoas do mesmo sexo ser tão palpitante quanto qualquer cena de amor entre casais hetero.

Estive também às voltas com um conto de fadas indiano em que numa linguagem frenética, um diretor mostra como a pobreza não precisa, necessariamente, conduzir as pessoas ao crime. A miséria pode ser um grande aprendizado, mesmo que permeada pelo trágico.

A solidão pode ensinar muito. Mesmo que ao final do dia, não haja um final feliz. E na impossibilidade de arrumar seus dramas existências, nada como arrumar suas gavetas e descartar roupas que já não servem e sapatos que entopem todos os cantos.

E se o cinema ou a faxina não forem capazes de aliviar toda a sua dor e olhar a casa vazia e enfrentar o silêncio parecer um fardo demasiado, então só há uma alternativa: recorrer ao velho e bom Rivotril. Mas não se esqueça: sempre que possível, com moderação.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Para Sempre Beatriz



Aqueles que visitam esse blog participaram comigo, na semana passada, da aventura de reencontrar – por conta do acaso – uma amiga que não via há mais de vinte anos. É com imensa alegria, portanto, que participo a vocês que esse encontro saiu da esfera virtual.

Depois de longos anos pude finalmente abraçar minha amiga. Foi muito bom confirmar aquilo que meu coração sabia: a distância física não é empecilho quando a amizade é genuína. O que posso dizer? Tenho certeza que Beatriz e eu somos para sempre.

Tivemos horas de uma conversa boa e sincera. Foi como se entre nós houvesse uma separação de dias e não de anos. As afinidades e o bem querer permaneceram fortes, indeléveis e isso eu lhes asseguro, tem um valor que poucos haverão de experimentar na mesma intensidade.

No sábado cuidamos de sumarizar nossas vidas nesse tempo em que estivemos fisicamente separadas. Conheci a Camila – que eu pensava ser Maya – uma querida com quem me identifiquei no exato momento em que nos abraçamos. O Enzo eu só vi por foto, mas é uma coisa fofa daquelas boas de apertar.

No domingo foi o momento de apresentar a ela os “meus” meninos. Fiquei particularmente feliz ao vê-la abraçá-los e acolhê-los de uma forma única fazendo-os sucumbir ao colo generoso e ao charme da nova “tia”.

Na despedida milhões de promessas de que não vamos nos perder. Marcamos um encontro aonde vamos nos juntar como família, pois os amigos são a família que nós escolhemos ter. E essa escolha já foi feita por nós.

Por fim quero agradecer a Camila, amiga da Vivi, e doravante minha amiga também, por ter sido a ponte que juntou duas metades desgarradas. Quem me conhece sabe de cor o meu bordão preferido: “quem tem amigos, nunca está só”.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PLUS SIZE




Na adolescência tive uma amiga chamada Beatriz Galvão. Era uma pessoa muito criativa. Transitava bem pelo mundo das artes plásticas – um trabalho seu chegou a receber menção honrosa numa exposição importante de Goiânia – escrevia bem, era divertida e irreverente. Como eu era uma típica menina careta, ela me encorajou a dar umas piscadelas para coisas mais ousadas, que comparadas ao que fazem as adolescentes de hoje, não seriam mais do que brincadeira de criança.

Adorava ir a casa dela, porque ao contrário da simplicidade da minha mãe – apenas rainha do lar – dona Miriam era uma professora de matemática que tinha adoração por aviação e pelo Flamengo. Seu pai era um homem muito inteligente e tinha um humor refinado. Sempre que eu chegava por lá cantava assim: “Ah! Se a juventude que essa Ana traz...” fazendo alusão à música de Johnny Alf “Eu e a Brisa”: “Ah! Se a juventude que essa brisa canta ficasse aqui comigo mais um pouco... Fica, ó brisa fica, pois talvez quem sabe, o inesperado faça uma surpresa, e traga alguém que queira te escutar e junto a mim queira ficar”....

Beatriz tinha uma irmã, Maria Esther e juntas gostávamos de cantar duas músicas: “Você pega o trem azul, o sol na cabeça, o sol pega o trem azul, você na cabeça, o sol na cabeça....” E o primeiro hit internacional que eu lembro de ter gostado, de um cara chamado Cat Stevens: “Morning has broken, like the first morning, Blackbird has spoken, like the first bird, Praise for the singing, praise for the morning, Praise for the springing fresh from the world”… Lindo!

Perdi Beatriz de vista quando ela ficou grávida. Estávamos começando faculdades diferentes e nossas vidas apontavam para escolhas distintas também. Soube que ela teve uma filha chamada Maya – acho eu – e quando meu filho Guilherme estava prestes a nascer eu a encontrei numa loja. Trocamos telefones, eu mandei um cartão comunicando o nascimento dele. Ela, então, me mandou uma bela carta. Depois disso, nunca mais.
Tentei localizá-la de muitas maneiras. Pouco tempo atrás, quando a Vivi me colocou no Orkut eu finalmente a encontrei. Pela descrição não havia dúvida, deixei um recado que nunca foi respondido. Penso que ela, distraída como era, criou o perfil e nunca mais passou por lá. Enfim, espero que um dia o destino faça nossos caminhos se encontrar. Tenho dela uma pasta com vários textos e desenhos que ela me confiou porque dizia que eu era mais zelosa. Enfim, está comigo e tenho certeza de que um dia encontrarei um jeito de devolver e como velhas comadres, tomando chá, vamos passar nossas vidas a limpo.

Na verdade, escrevi sobre a Beatriz porque me lembrei que ela era gordinha e muito exuberante. Tinha olhos verdes muito expressivos e uma sobrancelha que tornava seu rosto diferente da beleza em voga na época. Ela gostava de dizer que éramos mulheres “repolhudas”. Que éramos fartas e que esse era, digamos assim, nosso diferencial estratégico.

Ontem me lembrei muito dela porque como não é novidade para quem me lê, o peso é uma coisa que não me deixa exatamente feliz. Mas na Veja dessa semana está lá um perfil com uma das modelos mais bem pagas do mercado de moda americano. Segundo a revista é uma brasileira de nome Fluvia Lacerda, citada na mídia como “a Gisele Bündchen tamanho 48”. E foi por conta dessa entrevista que fui apresentada ao termo “plus size”.

Ou seja, queridos, eu era gorda. Eu já fui cheinha. Um dia eu até fui repolhuda. Agora eu sou Plus. Plus Size. Adoro!!!! Acho que já são os números sorrindo para mim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Números não gostam de mim!


Nunca me relacionei bem com números. Isso explica minha enorme dificuldade em racionalizar as coisas e de agir, quase sempre, conduzida pela emoção. Isso, não é um bom negócio.

As letras sempre foram um território mais seguro para mim. Desde que não estejam incluídos ai, bulas de remédios e manuais de qualquer espécie. Definitivamente o instinto tem sido a minha bússola. E isso, também, não é um bom negócio.

Na escola, a matemática e, depois, todas as matérias que envolviam cálculos ou qualquer raciocínio lógico, sempre foram meu ponto fraco. Todos os anos minha mãe precisava pagar aulas particulares para que eu fosse aprovada. Ter um ótimo desempenho em português, geografia e história não era credencial suficiente, tinha que pagar os pecados tentando compreender aquelas fórmulas cretinas, que em minha opinião, não faziam qualquer sentido para os planos de ser jornalista, advogada ou uma professora da área de humanidades.

Cheguei ao extremo de ter passado no vestibular para um curso de comunicação com uma boa classificação e, em contrapartida, ser reprovada em matemática no terceiro ano. Questão que foi resolvida com uma prova que contou com a extremada ajuda do professor.

Fui uma boa aluna. Fiz a faculdade com esmero e perto de concluí-la, consegui um emprego. Na hora de negociar o salário os números me pegaram pelo pé. A minha noção era tão vaga sobre quanto eu valia, que pedi um salário que era vergonhoso até para um gari (sem, é claro, desmerecer os garis).

E assim foram minhas negociações seguintes. Sempre que precisava usar os números ao meu favor, lá estavam eles trabalhando fortemente contra mim. Nunca consegui chegar nem perto de ganhar na loteria, nunca tive os dias de férias que julgava ideais, as horas do dia sempre foram longas em dias de tédio e rápidas como um raio nos momentos de alegria. Minha conta bancária sempre teimou em ter menos dinheiro do que a minha vontade incontrolável de gastar mais, eu sempre tive mais sapatos, que juízo e as roupas pelas quais me apaixono, só estão disponíveis várias numerações abaixo do meu tamanho.

Os números são cruéis comigo quando o assunto é peso. Nesse caso, sempre ascendente. Nos últimos tempos, além da luta contra o ponteiro da balança que insiste em marcar um número totalmente desleal, estou às voltas com outros números, dessa vez de grande complexidade para a minha saúde.

Tenho um problema renal crônico. Fui apresentada a ele em 1990. Desde então faço um acompanhamento para avaliar minha função. Nos últimos anos meus rins resolveram me sabotar, ou eu a eles – não sei bem quem está na dianteira nessa disputa – de tal forma que a cada exame a função que devia ser alta é baixa e as malditas taxas de creatina e uréia não param de subir. O resultado dessa equação é uma palavra que nunca gostei muito de pronunciar: hemodiálise.

Se eu tenho função renal de menos, podem apostar que tenho esperança de sobra. E acho que está na hora dos números serem mais gentis comigo. Aceito a generosidade dos amigos – que sempre foi uma conta positiva na minha vida – e suas preciosas cotas de boas energias e vibrações. Nessa parada, não quero ser reprovada, no máximo aceito ficar para recuperação.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Pode ser mais que um sonho


Vi um filme pertubador. Não é uma obra-prima, mas deixou-me bastante inquieta, talvez porque trate de uma questão que esteja permeando o atual momento da minha vida.

“Foi apenas um sonho” (Revolutionary Road) fala sobre uma mulher e sua dificuldade de ajustar-se ao “way of life” americano. Embora esteja ambientado na década de 50, talvez 60 é bastante atual, se considerarmos que a sensação de “não pertencimento” é atemporal.

Destaco a mulher, embora a história trate de um casal. Acontece que Kate Winslet que vive a protagonista é maior que sua personagem e mais uma vez faz um par discrepante com Leonardo Di Caprio, que continua com a mesma cara de menino dos tempos de Titanic.

A angústia da personagem é o ponto central da trama. Ela não se conforma – no sentido mais literal da palavra – em ser apenas uma dona de casa enquanto seu marido faz carreira numa empresa que está longe de ser o seu ideal profissional.

Fiquei ofegante ao vê-la fumando desenfreadamente para dar vazão à frustração diante de um destino que não quer viabilizar, mas que ao mesmo tempo parece ser sua única alternativa.

O que fazer quando o script que te querem fazer seguir não parece adequado ao que você deseja viver? Como romper com uma situação para a qual parecemos predestinados? Como superar o bloqueio imposto não apenas pelo seu núcleo familiar, mas que contamina a todos que estão à sua volta?

A decisão de romper com as regras pré-estabelecidas vai desencadear mudanças em vários níveis. A relação afetiva será impactada e uma conspiração de forças sobrenaturais vão agir para devolver a situação à sua pseudo normalidade. É assim na vida real também.

A solução encontrada pela personagem é drástica, mas ao final ficamos com a incômoda sensação de que quebrar a ordem das coisas pode resultar em perdas que nem sempre estamos prontos para suportar.

A música que escolhi para acompanhar esse post pode parecer inadequada, mas ao ouvi-la posso fechar os olhos e vislumbrar um outro desfecho para essa e outras histórias que pressupõem uma escolha. Eu recomendo: Não desista “de querer mais do que você pode ter”.


domingo, 1 de fevereiro de 2009

A nossa canção


Ao procurar uma razão que justificasse o fim do relacionamento, Maria Olívia encontrou uma porção, mas nenhuma parecia tão definitiva quanto aquela: eles se separaram e mesmo tendo vivido anos debaixo do mesmo teto, nunca tiveram uma música.

Todo e qualquer casal tem sua trilha musical. Eles não. É certo que ouviram e se emocionaram várias vezes ouvindo essa ou aquela canção, mas nenhuma ficou como marca registrada daquele amor.

E então ela se lembrou também que não tiveram “lua de mel” e que ele não enviou flores quando nasceu o primeiro filho e que apenas uma vez – instigado pela irmã – mandou rosas no seu aniversário.

Então, Maria Olívia não quis mais lembrar, porque lembrar faz doer tudo outra vez.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Haja o que houver"



Houve um período da minha vida em que me agarrei fortemente às coisas que me pareciam familiares. O meu quarto, por exemplo, passou a ser um refúgio. Eu não gostava de sair de lá. Tudo que eu precisava estava ali, principalmente segurança e aconchego.

Eu gostava também de ver filmes repetidos. A mesma história repassada vezes e vezes dava-me a tranqüilidade de saber o que me esperava ao final. Não havia surpresas. E eu tinha muito medo de surpresas.

Foi nessa época que assisti de forma obcecada “Os Maias”, a mini-série da Globo baseada na obra de Eça de Queiróz. Para quem não conhece estamos falando do drama de dois irmãos que se apaixonam intensamente, sem saber de seus laços de sangue. Não sei quantas vezes repliquei os encontro e desencontros de Carlos Eduardo e Maria Eduarda da Maia. Sabia de cor diálogos inteiros. Principalmente os das cenas de amor. “Deve haver um sentimento assim... cheio de suavidade e sem tormentos”. “Porque há de se chegar logo ao fim das coisas”... “Adoro-te. Adoro-te”...”Não vês que estamos indissoluvelmente ligados”?

E toda essa teia embalada por Madredeus. Perfeito!

Hoje estou como naqueles tempos. Com vontade de entrar no meu refúgio, trancar a porta e deixar entrar “Os Maias”. Ficar ali absorta pela impossível história de amor, tão impossível quanto o amor parece para mim nesses dias.



quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Barbie e Eu




Toda menina teve uma boneca de estimação. Eu tive a “Susi” – uma espécie de Barbie da década de setenta - que meu pai me deu de natal. Lembro que no dia que a compramos eu voltei para casa abraçada a ela e que nem respirava de tanta satisfação.

Meninas organizadas guardam suas bonecas para um dia entregá-las às suas filhas. Talvez, pela convicção de que jamais seria mãe de menina, a minha ficou perdida em algum armário e mamãe, que não teve boneca alguma, tratou de dá-la para alguém.

Não sei o que diz a psicologia, mas entendo as bonecas como uma representação de modelos femininos. Quando pequenas, meninas ganham bonequinhas que lembram bebes para aguçar seu instinto maternal. À medida que crescem, são apresentadas a bonecas que lembram adolescentes, jovenzinhas e depois mulheres feitas.

Ouvi um diretor de marketing falando sobre o relançamento da “Susi”, afirmando que a boneca teve seu perfil adequado às características da mulher brasileira e latina, ou seja, ela passa a ter uma bunda arrebitada e um pouco mais de volume no seio, já que isso é uma tendência.

A idéia desse post passa longe de discorrer sobre o mal que esses arquétipos farão um dia a milhões de mulheres que não poderão se identificar com eles. Não se trata também de reminiscências sobre a infância e a boneca perdida. Na verdade, escrevo para dizer que nos meus dias de adulta ganhei uma Barbie fashion e longilínea. E antes que alguns torçam o nariz achando que estou velha demais para brincar de boneca, informo que a minha Barbie é de carne e osso. Opa! Não se preocupem, pois não estou me pegando com mulheres, não se trata disso.

Barbie é o apelido carinhoso que gosto de atribuir à minha melhor amiga nos dias em que ela se comporta como uma. Hoje foi assim. Lá estava ela, em cima de um salto que faria minha hérnia de disco colapsar, com sua blusinha rosa e seus cabelos loiríssimos e lisos perfeitos como os de uma boneca.

Faz tempo que tento escrever sobre ela. Se fosse um casamento, estaríamos perto de completar a maioridade conjugal. Mas é difícil falar sobre ela, como é difícil falar sobre as pessoas que amamos e que fazem diferença para nós. Difícil porque quaisquer qualidades que queiramos atribuir a essas pessoas parecem miúdas diante da importância que elas têm. Mas ao nos despedirmos hoje ela disse que gosta de terminar seus dias lendo o Blog e pediu para eu escrever. Portanto, esse post é para a minha única e verdadeira Barbie.

Sol, um beijo e o carinho dessa “equilibrista” prá você - que segue com nossa trilha sonora. (xiiii...agora vão achar mesmo que a gente tá de rolo. rs)


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ser Michelle Obama


Na semana passada os olhos do mundo estiveram voltados para um acontecimento que será um divisor de águas na política americana. Num país em que as questões de raça sempre foram controvertidas, um homem negro chegou ao cargo mais cobiçado do planeta: a presidência dos Estados Unidos. A grande potência. A nação soberana sobre as demais.

A posse de Obama mereceu e continuará merecendo teses e teses. Ela tem sido analisada do ponto de vista político, antropológico, sociológico, econômico, cultural, social e umas tantas outras denominações.

Não menos importante foi o destaque que seu deu à primeira dama: Michelle. Uma mulher superlativa. É alta, imponente, elegante e nem de longe pode ser considerada uma eminência parda como Marisa Lula da Silva – bem, a comparação é por demais abissal.

Acompanhei pela TV toda a liturgia da posse. Foi bonito ver a multidão reunida debaixo do frio para aplaudir o homem que vai conduzir os desígnios da sua e de tantas outras nações. Mas foi também divertido acompanhar os esforços de jornalistas e cientistas políticos tentando decifrar uma questão que está além da geopolítica: que mensagens Michelle queria enviar com as roupas que usou nas cerimônias do dia?

Isso me instigou por alguns momentos a ser Michelle Obama. E na pele da Cinderela negra me perguntar: que mensagens estariam embutidas naquele figurino? Para ser franca penso que dificilmente me preocuparia – numa ocasião dessas – com pretensos discursos. Será que Michelle não foi apenas uma mulher intuitiva que escolheu sua roupa como qualquer uma de nós quando queremos “causar”?

Será que escolher uma estilista de ascendência cubana ou um jovem chinês de Taiwan faz parte de uma estratégia política ou verde e branco são cores que ressaltam a cor morena que agora tem tanto valor?

E francamente: quem se importa com estratégia quando se está nos braços de um homem que se não fosse presidente podia ser um astro de Hollywood? E quem se importa se ele não é exatamente um pé-de-valsa se te faz rodopiar lindamente ao som de “At Last”?

Michelle, você jamais lerá esse post, mas pode ter certeza de que fechei meus olhos um monte de vezes nesses dias e sonhei estar com aquele vestido branco de chifon nos braços de Obama levitando enquanto Etta James sussurra...

“At last my love has come along
My lonely days are over
And life is like a song
Ohh yeah
At last the skies above are blue
And my heart was wrapped in clover
The night I looked at you

I found a dream that I could speak to
A dream that I could call my own
I found a thrill to press my cheek to
A thrill that I have never known
Oh yeah yeah

You smiled ohh and then the spell was cast
And here we are in heaven
For you are mine at last
For you are mine at last”…