domingo, 11 de agosto de 2013

PAI, AQUELE ABRAÇO!!!!


Hoje muitas famílias estarão reunidas em torno de mesas alegres, celebrando seus pais. Filhos estarão refletindo como são parecidos com seus “coroas”, jovens pais vão curtir seus filhotes, fazendo projeções de como serão quando crescer, outros vão acariciar barrigas, sonhando com o momento em que poderão ter nos braços seus bebes. Haverá  famílias que não terão o que comemorar: ou não têm pais que valham a pena, ou têm filhos causadores de muita dor. Em alguns lares as “pães” serão o centro das atenções. Elas receberão o carinho por terem sido pai e mãe. Há aquelas mães que vão internamente reivindicar o dia como seu,  e que ilustram a frase do Facebook que diz: “Hoje é o dia do: pede pra sua mãe”.

Muitos vão celebrar o dia, mas seus corações estarão apertados, pois tiveram ótimos pais que foram embora muito cedo. É o meu caso. Quando meu pai se foi eu tinha nove anos. Lamentavelmente o vi partir. Presenciei seu último suspiro. Eita ausência que dói! Você passa anos se perguntando: por que Deus fez isso? Por que me castigou?

Evoca seu pai tantas vezes, pede ajuda para suas dúvidas pueris, outras vezes fica diante de enrascadas e pede, pede por um sinal. Mas o sinal não vem. Ou talvez você não seja exatamente boa em decifrar sinais. Ou pior: talvez você não tenha fé suficiente para receber a resposta. Ou quem sabe: tem fé demais e acaba refém da sua crença.
E quantas vezes você imagina: que tipo de vida teria tido caso seu pai tivesse ficado mais tempo? Teria feito outro curso? Teria trabalhado em outras áreas? Teria casado melhor ou pior? Teria tido embates, seria cordata? Enfim, quem perde um pai nunca abandona a fase dos por quês?

O pai que vive na minha imaginação é perfeito. Ele seria o porto seguro ao qual recorreria quando a mente nublasse sem encontrar soluções. Seria o avô coruja, mas também o que indicaria caminhos. Seria o portador frequente de boas novas. Na verdade, meu pai era leve, alegre, brincalhão. 

Pouco tempo antes de morrer, ele me proporcionou um dia inesquecível. Levou-me ao Centro Administrativo, local que concentrava as inúmeras repartições públicas de seu tempo. Apresentou-me aos seus amigos, sempre estufando o peito de orgulho e falando: “essa é minha caçula, Aninha”. Era um sem fim de pessoas que vinham cumprimentá-lo. Depois me levou para almoçar no “Grego”. Um dos poucos restaurantes de Goiânia à época, onde o prato principal era frango assado. Na sequência comemos pudim no carrinho da esquina da rua quatro com a Anhanguera. O melhor: fomos a uma loja comprar minha boneca Susi, a “Barbie” do meu tempo.

São poucas as lembranças que tenho e rezo todas as noites, pedindo a Deus que me permita encontra-lo ao menos nos sonhos, mas ele nunca aparece. De toda forma, sinto a presença dele de uma maneira que não saberia explicar. Pode ser delírio, mas eu acredito que ele está de olho e que se não mudou o rumo de algumas escolhas erradas é porque sempre defendeu o livre arbítrio.

Olha pai, depois que você se foi eu fiquei um bocado perdida. Meus irmãos, bem mais velhos, não assumiram o seu papel. Na verdade, eles passaram um bom tempo me ignorando. Eu diria que, em alguns momentos, foram até cruéis. Mas quer saber? O tempo me ensinou a entender que eles também ficaram um tanto perdidos depois que você partiu. E convenhamos: eles estavam começando novas etapas da vida e eu era apenas uma pirralha com a qual eles não tinham afinidade. Era a caçula, a garota no meio de um universo masculina. Uma garota, e garotas são garotas.

Roberval, que também foi embora e deve andar contigo por ai, me ensinou que os “brutos também amam”. À sua maneira, ele tinha um jeito peculiar de afeto. Antes de ir embora até disse que me amava e me chamou de Aninha.

Brasil passou tempo demais se levando a sério. Mas hoje ele é como me lembro de você, pai. Aquele que perde o amigo, mas não perde a piada. Nas suas constantes críticas eu sou capaz de ver um homem que cuida e que ama, embora não verbalize os sentimentos.

Mas quer saber, pai? Minha mãe fez direitinho o seu papel. Ela foi incansável na tarefa de fazer de mim, uma mulher de valor. Se eu não atingi o nível máster a culpa é minha, sempre cheia de perguntas, de sensibilidades, de mulherzinha, papel que ela nunca desempenhou. Ela é prática. Ela não amolece nem na hora do carinho. Suas mãos são pesadas e ela fala “eu te amo”, ao tempo em que te enquadra e te empurra e diz: “você não vai fraquejar”. Ela é do tipo que segura forte, que está sempre lembrando as facilidades que tive, enquanto ela precisou ralar tanto. Mas é a primeira a me socorrer quando preciso. Além de mãe e pai, construímos uma relação forte de amigas, de companheiras e a distância física nunca impediu nossa cumplicidade.

Eu não tenho uma foto sua nesse momento. Sei que era baixinho, tinha uma pele alva, pés gordinhos como os meus e uma risada sapeca, acompanhada de olhos apertadinhos.

É, pai, nunca vou saber se fui aprovada como filha, mas você, onde quer que esteja, pode ficar certo, foi um pai nota mil.

Não sei como funcionam as coisas por ai, na sua dimensão, mas tenha certeza que na minha secreta comemoração, seu dia dos pais terá prosa e purpurina, terá um coração batendo forte por ti e o respeito e admiração sem fim.  

Te amo, pai. Sempre te amarei. Vê se hoje me dá um abraço apertado e sussurra no meu ouvido: “Aninha”.