quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Insônia "blues"


Se esse fosse um programa de rádio eu diria: “Boa noite ouvintes, noite chuvosa e cá estou, na madrugada, conversando com vocês enquanto a água bate mansinho na minha janela”. Eu adoro chuva. E, principalmente, adoro dormir em noite de chuva. O som da água caindo só não é mais relaxante que barulho de mar. Mas vejam vocês. Ou leiam vocês. Estou aqui, com o cenário ideal para uma adorável noite de sono, vivendo a atordoante insônia. Tem sido assim. Nas últimas noites eu acordo invariavelmente por volta de quatro da manhã e ao contrário de desfrutar o quentinho aconchego do edredom fico aqui caraminholando, divagando, ou como diria minha sábia mãe, “pensando na morte da bezerra”.

Deve ser o efeito ano que termina e a invariável pergunta que não quer calar: O que 2011 reservará para minha vida? Ah! Essa maldita angústia que não consegue esperar que a vida siga seu curso natural e esse imprestável sofrer antes, aquilo que só virá depois.

E sabem a única coisa que me ocorre nessa ausência de sono? O poema recitado no filme “Quatro Casamentos e um Funeral”.

Funeral Blues (W.H. AUDEN)

"Parem os relógios.
Cortem os telefones.
Impeçam os cães de latir.
Silenciem os pianos.
E, com um toque de tambor, tragam o caixão.

Venham os pranteadores,
Voem em círculos os aviões,
Escrevendo no céu a mensagem: “Ele está morto!”
Ponham laços brancos nos pescoços das pombas.
Usem os policias luvas pretas de algodão.

Ele era o meu norte, meu sul, meu leste, meu oeste.
Minha semana de trabalho e meu domingo de descanso.
Meu meio-dia, minha meia-noite.
Minha conversa, minha canção.
Pensei que o amor fosse eterno.

Enganei-me.
As estrelas são indesejadas agora.
Dispensem todas.
Embrulhem a lua e desmantelem o sol.
Despejem os oceanos e varram os bosques."



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"GOD ONLY KNOWS"


“Sempre que me entristeço com o mundo penso nos portões de chegada do Aeroporto de Heathrow. Dizem que vivemos num mundo de ódio e ambição, mas eu não acho. Sinto que há amor em todo lugar. Nem sempre algo que valha alguma manchete, mas está sempre ali. Pais e filhos, mães e filhas, maridos e mulheres, namorados, namoradas, amigos antigos. Se procurar creio que descobrirei que simplesmente, o amor está em toda parte”.

Quando fico triste ao contrário do autor dessa frase não vou para os portões de chegada dos aeroportos. Simplesmente aperto “play”. Essa é minha fórmula para minimizar a tristeza. Às vezes dá certo. Por exemplo, quando aposto num título como o do filme que começa com a frase que iniciou esse post: “Simplesmente amor” ou “Love Actually”. Nele, há uma profusão de encontros de amor que fazem a alegria de qualquer coração.

Como resistir à história do inglês traído que encontra o amor numa portuguesa que limpa sua casa e embora um não entenda o idioma do outro, ainda assim, são arrebatados pelo mesmo sentimento?

Como não ficar com o coração apertado ao ver o amor impossível do outro inglês pela mulher do seu melhor amigo? Que cena é aquela em que ele usa cartazes para declarar o amor que não pode ser dito, mas não quer se calar?

“God only Knows”... a música diz tudo.

Mas esse não é um post sobre o amor, embora ele esteja em toda parte, principalmente nos filmes. Escrevo, pois além do cinema essa é também uma maneira de atenuar a tristeza e hoje ela está exasperante. Assim como o amor, a tristeza também está em toda parte. Principalmente, em mim.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Foi Natal!!


O natal sempre foi especial na minha vida. No natal ou próximo dessa data muitas coisas importantes aconteceram para mim. Em 1969 eu passei o último natal com meu pai. Ele estava doente e saiu do hospital para ficar conosco. Há fotos dele dessa ocasião. Ele está muito triste. Por uma infelicidade ele se foi na manhã do dia 03 de janeiro de 1970. Eu nem tinha 10 anos e durante muito tempo essa tristeza foi uma chaga. Eu sentia e sinto ainda uma falta incrível dele.

Mas o natal também reservou muitas alegrias. Foi num natal que eu dei à minha família a noticia da minha gravidez. Lembro de ter comprado presentes para todos e que, particularmente minhas sobrinhas, ficavam felizes com esses mimos. Fiz o anúncio público do nascimento do Guilherme sob o olhar de constrangimento dos meus irmãos, mas a alegria indisfarçável da minha mãe que sempre me apoiou.

Tivemos vários pré-natais. Eu e meu grupo de amigas, Ana, Cláudia, Fernanda, Rita e Solange. Havia alegria em demasia e as brincadeiras faziam de nós um grupo que mais parecia de adolescentes e não de “senhoras” mães de família.

Os natais em família também eram muito alegres. E eu sei que tinha responsabilidade em torná-los assim. Sempre me empenhei em criar brincadeiras, comprar dúzias de bugigangas para dar à festa leveza e diversão. A Cristina sempre foi minha “vítima” favorita. Era para ela que eu me desdobrava na busca do presente mais bizarro. Ela já sabia e acho que até contava com isso. Num ano fui atrás das particularidades de cada um e fizemos uma espécie de “quiz”. Os micos eram garantidos. Quem não se lembra de sortear uma frase aleatória e fazer uma declaração diante de todos. Alguém é capaz de visualizar o meu irmão afirmando com toda sua sisudez: “eu sou gay”? E minha mãe roubando na dança das cadeiras? E quem consegue esquecer o primeiro amigo oculto do qual o Guilherme participou. Ele me chamando no cantinho e segredando desconfiado: “mamãe, eu tirei uma pessoa que não é da nossa família”. Tudo isso porque alguém teve a brilhante ideia de colocar no papelzinho o nome Anileide, verdadeiro nome da minha cunhada Leda.

Enfim, como diria Roberto Carlos: “são tantas emoções”.

Nesse ano pela primeira vez passei o natal longe de minha mãe e da minha família. Foi necessário. Fizemos uma confraternização de família. Nós quatro, mas não foi igual. Isso me afetou de tal forma que passei o dia acamada. Agora tudo que quero é que esse natal termine e que o próximo seja como todos os outros: ao lado da minha família. Nada no mundo é mais importante que as pessoas que amamos. Com festa, sem festa. Com presentes ou não. Sempre fazemos promessas para o ano novo. Que a minha, portanto, seja: nunca mais terei um natal como esse. Nunca mais, por nada, a não ser por morte ou doença terei um natal como esse. De tristeza, solidão e desalento. E não apenas o natal. Nenhum dia da nossa vida deveria ser pontuado de tristeza e melancolia.

domingo, 5 de dezembro de 2010

INVENTÁRIO MUSICAL



Dias de faxina. Minha casa foi se transformando, pouco a pouco, num grande acampamento. Se pusesse uma bandeira vermelha, poderia ser reduto do MST. Nos últimos tempos fui deixando tudo de lado, principalmente meus discos. Eles estavam entulhados e jogados em “terra de ninguém”. Nos últimos dias decidi colocar ordem no pedaço e fiz descobertas surpreendentes. Primeiro, a enormidade de discos que se foram, ficaram apenas as caixas. Entre eles, uma preciosidade que o Giovani me deu: um disco do Fernando Cabreira, que ouvi uma única vez e virou fumaça, mas a surpresa! Eu encontrei.

Descobri, aliviada, que tenho mais discos do Chico Buarque, que do Drexler. Eu alimentava um sentimento de culpa em relação a isso, que foi motivo até de um sonho bizarro.

Sobre o Drexler, aliás, fiz uma descoberta que reforça o surto obsessivo compulsivo. Tenho todos os discos lançados por ele. Claro! Mas a curiosidade é que do “Eco”, por exemplo, tenho quatro exemplares, além de três DVDs. Dos demais títulos, com exceção de “Amar La Trama” tenho as cópias duplicadas de todos.

Enquanto arrumava os discos, eu ouvia. Que terapia é a música. E como é traiçoeira também. Elis Regina é realmente a cara dos meus vinte anos e do amor desse tempo. Ana Carolina me transporta, súbito, para um tempo em que perdi o juízo e a razão. Milton Nascimento pode ser um ícone, mas depois de “Clube da Esquina”, nenhum outro disco conseguiu me ganhar. Gosto de Caetano Veloso, mais que imaginava, principalmente de “Fina Estampa”. Leila Pinheiro é a cara do Daniel. Não porque ele a adora, mas pelo show de Buenos Aires e, principalmente, o depois do show.

A maioria dos meus discos lembra a Vivi. E olha que nem tenho Elizeth Cardoso. É que organizando minha vida musical, foi possível perceber a influência que ela teve nas minhas escolhas. Eu apresentei o Drexler, mas coube a ela me mostrar Kevin Johansen – de quem, também, tenho discos repetidos – Bajo Fondo, Jarabe de Palo, Orishas, uma linda coletânea de música cubana, Marina de La Riva, Nina Simone “antes e depois do amanhecer” e uma infinidade de outros cantantes.

Aliás, fiquei impressionada como gosto de música latina. Encontrei Astor Piazzolla, o tango definitivo antes dos eletrônicos. “Cuarteto de Nos”, Alejandro Sanz, Mana, Gipsy Kings, Pablo Milanez – apesar de todo meu dissabor com Cuba - Luiz Miguel – um montão, que afinal, não tem nada melhor para ressaca de amor – Trini Lopez – que na verdade é americano, assim como Cris Montez.

É incrível, mas tenho até Zeca Pagodinho. Fiquei bege! E um disco do Fagner. Mas trata-se de uma coletânea com as primeiras músicas, inclusive, “Cebola Cortada”. Tem Belchior, Beto Guedes, Lô Borges, Guilherme Arantes, Gal Costa, mas não tenho Maria Bethânia e isso me deixou profundamente aliviada. Elba Ramalho, nem pensar. Mas tenho Geraldo Azevedo, Raul Seixas e a Fafá de Belém fingindo que sabe cantar Chico Buarque. Tenho até discos da Simone, que outrora, já teve um lugar especial no meu coração. Pensei que tinha mais Adriana Calcanhoto e fiquei chocada: tenho dúzias de Nana Caymi. Isso me lembra o João Angelo falando que não há nada melhor para acabar com uma festa que colocar um disco dela para tocar.

Foi uma delícia encontrar Nara Leão, Angela Roro...”Tola foi você, ao me abandonar...” Boca Livre, MPB 4, Quarteto em Cy, e os imprescindíveis: João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes – como é que se pode viver um grande amor, sem essa trilha sonora? – E que bálsamo, Paulinho da Viola e até mesmo Adoniran Barbosa. E Ivan Lins. “Lembra de mim, dos beijos que escrevemos no muro a giz”...

Ia estufar o peito para dizer que não manchei minha biografia com os sertanejos, mas sou obrigada a confessar que estão lá Willie Nelson e Kenny Rogers.

Os anos oitenta não poderiam faltar, mas acredite: não tenho um único disco da Blitz!!!! Mas estão lá: RPM, Ultraje...Claro, Paralamas, Titãs,muitos, Capital, evidente! E nada de Legião Urbana. Eu descobri recentemente que Renato Russo é um gênio e preciso reparar a sua ausência na minha vida musical. Sim, para Kid Abelha, e os solos de Paula Toller e Leoni. E incontáveis Lulu Santos, “Faltava abandonar a velha escola, Tomar o mundo feito Coca-Cola, Fazer da minha vida, Sempre o meu passeio público, e ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único!”

Estão lá as divas: Billie, Sara, Dinah e Dionne Warwick. E bem pertinho, Louis Armstrong, Nat King Cole, Duke Ellington. Também marcam presença: Plácido Domingo, Pavarotti e as “new age”: Enya, Loreena McKennitt e Sarah Brightman.

Sim, temos Barry White “you’re the first, the last, the everything” e Tony Bennet e muito, muito Frank Sinatra. Temos também o sucessor: Harry Connick Jr. que conheci por conta da trilha de “Harry e Sally”.

E por falar em cinema, estão lá as trilhas de Cinema Paradiso, Forrest Gump, O Poderoso Chefão, Evita, Blade Runner, Nove e meia semanas amor... “Baby, take off your coat, real slow”... mas… “you can leave your hat on”!

E Madredeus. “Haja o que houver, eu estou aqui. Haja o que houver, espero por ti.” E os clássicos, a origem de toda música.

Agora estão todos ao alcance das mãos. Para a dor ou o amor. Para lembrar ou esquecer. Para rir ou chorar. A música é isso. Antídoto, recanto e abraço.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"VÂNIA MASSI DA CUNHA, "EX" GONZAGA"


Uma amiga perguntou-me se eu acreditava em pessoas sensitivas. A pergunta me lembrou a Vânia. É que há entre nós uma estranha química, que não sei se pode ser atribuída a sensitividade. Sempre que pensamos na outra, que ansiamos por noticias, uma de nós se comunica. É como se tivéssemos essa sintonia fina, uma linha invisível que nos une e que nos aciona, sempre que precisamos estar em contato.

Fazia muito tempo que queria escrever sobre e para a Vânia. Trata-se de uma das pessoas mais especiais que conheci. A vida nos juntou numa repartição pública, em Goiânia, a mais ou menos trinta anos. Era meu primeiro trabalho. Nossa aproximação aconteceu, provavelmente, por iniciativa dela, já que era muito mais comunicativa e fazia amigos em profusão, pois era a simpatia em pessoa.

Em tempos de poucos recursos, nossa diversão favorita era uma lanchonete que ficava nas proximidades da Prefeitura onde devorávamos um delicioso bolo de cenoura com calda de chocolate e outros quitutes. Tantos, que ela ria e declarava que éramos portadoras de um “estômago de avestruz”.

Nesse tempo eu começava um namoro. Ela terminava um casamento. Nossa primeira conversa mais intima surgiu quando, num afastamento do trabalho, fui visitá-la na casa da mãe. Ela estava com um lenço cobrindo a cabeça. Com seu tradicional bom humor, disse que metade de seu cabelo tinha ficado nas mãos do ex-marido depois de uma briga. Foi chocante ouvir aquilo, mas uma admiração surgiu de imediato, pois ela fez questão de relativizar o seu papel de vitima.

Nossa amizade foi se consolidando e eu poderia citar inúmeras situações que a vida nos permitiu viver juntas. A marca registrada de todas: o humor inigualável da amiga que ria e mostrava suas covinhas, dona de histórias incríveis de superação. Contou-me, por exemplo, de uma ocasião em que o marido voltou bêbado. Ela foi tirar satisfação. Ele, então, começou a atirar dentro de casa. Eu, perplexa, perguntei: “e o que você fez?” E ela, com seu impagável sorriso, devolveu: “eu aprendi a pular muro”.

Outra história do “ex” que virou um hit. Ela contava que ao confrontá-lo depois de uma noitada, querendo saber onde estava e o que estava fazendo, ele respondeu: “abstenha-se de comentários improfícuos sobre a minha pessoa”. Nunca mais esqueci.

Quando conheci a Vânia, Octaviano, seu filho, era um menino de uns cinco anos. Dotado de uma inteligência impressionante, em muitas situações estava conosco nas baladas. Fazia perguntas que estavam além da idade, mas era um menino adorável de quem eu aprendi a gostar como de um sobrinho. Admiro-a profundamente, pois apesar das adversidades – foram muitas – ela foi capaz de dar ao Octaviano uma educação de primeira, e falo, principalmente, sobre caráter e dignidade. Embora, eu nunca tenha concordado com seus métodos “cruéis”, como o de se negar a dar presentes de Natal para o garoto, afirmando que o aniversário era de Jesus, não dele. Coisas da Vânia. Fazer o que?

Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que a Vânia esteve presente nos principais momentos da minha vida. Houve um tempo em que nossos encontros se davam numa lanchonete perto do seu trabalho. O nome era “Manga Rosa” e a especialidade eram sucos. Era lá, que, heroicamente, ela se resignava ou porque não, repugnava, me vendo tomar suco de melancia, uma fruta que detesta. Enfim, o que posso dizer, esse é outro de seus desvios de caráter.

Parece incrível que alguém com o desprendimento da Vânia tenha medo de elevador, de índio e de filme de terror, mas que prova de amizade ela me deu assistindo, mesmo que trêmula, ao filme, “Um Beijo Antes de Morrer”, que era um suspense razoável, que ela viu quase enfartando, para acolher um desejo meu.

Fizemos duas viagens memoráveis. A primeira, para Marzagão, uma micro cidade, para passar o carnaval na casa da minha prima Ruth. Foi bizarro. Não conseguíamos imaginar que a vida pudesse nos colocar em tamanha cilada.

A outra viagem foi para Ouro Preto. A Vânia estava confusa e havia conhecido um garoto, jovem estudante e decidimos fazer uma surpresa. Foi uma viagem marcante. Fomos parar numa cidade sem nenhum planejamento prévio. Na tentativa de encontrar um local decente para ficar, nos deparamos com situações inacreditáveis. Fazia frio, as casas eram velhas e tinham cheiro de mofo, o que, automaticamente alimentava a minha asma, além disso, o “sobe e desce ladeira”, tornava a aventura ainda mais complicada. Vânia encontrou o garoto, que morava na República Maracangalha. Lá, conhecemos outra porção de jovens, dançamos, bebemos, fizemos farras, e muitos novos amigos. Foram muitas emoções, e a minha reputação seria fortemente abalada se eu contasse os detalhes. Eu poderia fazer menção a um chapéu com uma pena verde passando pela janela. Os simples mortais achariam que trata-se de excesso de Rivotril, mas a Vânia, essa vai rir e vai rir, e vai rir....

Por falar em ciladas, não poderia me esquecer de uma noite em que eu, ela, Luiz Arthur e um garoto amigo dela, cujo nome não consigo lembrar, fomos assistir uma palestra sobre o regime comunista. Poxa! A gente devia mesmo estar sem nada para fazer. Depois, fomos parar numa festa na casa de uma amiga dela, em que as pessoas jogavam truco e só tocava música sertaneja. Diante de tamanha bizarrice, o amigo dela olhou e disse: “essa festa é muito “baguá””. Isso foi motivo para que passássemos horas dando risada. Principalmente, quando o amigo, que era bem bonito, começou a fazer sucesso entre o mulherio e a receber propostas para dançar. Muito delicadamente ele declinava, lamentando, mas justificando que “só dançava ópera”. Mais risadas. E claro, saímos correndo de lá.

Cilada também foi a passeata que percorremos em apoio a um certo candidato, que custou a ela uma sapatilha novinha comprada nas Casas Pernambucanas e a mim, uma lembrança que nunca se apagará.

Amigas têm seus códigos, suas senhas. Sou capaz de apostar todo o meu dinheiro como ela jamais vai se esquecer de frases como: “descansa minha criança”, ou “suportou enquanto pode”. Tenho certeza de que vai lembrar com alegria da noite das margaritas, quando a gente começou a achar o garçom bonito e depois, eu cometi a loucura de uma ligação a cobrar no meio da madrugada.

Impossível, também, esquecer da noite em que entrou no meu carro e viu nos meus olhos que eles tinham um brilho novo. Foi confidente dos meus devaneios e do meu sonho impossível de felicidade. Amigos são assim.

Aliás, no terreno dos romances andamos por caminhos tortuosos. Cada uma, no seu tempo, experimentando a “dor e a delícia de ser o que é”. Houve um caminhoneiro, o “jogral luterano” e a “saga nordestina”. Houve dor, tristeza, desilusão, mas, acima de tudo, muita vontade de encontrar “a metade afastada de mim”. Penso que esse tempo finalmente chegou. Tão longe, tão perto, não é mesmo, Vânia? O amor cumprindo seu destino, confirmando os versos de Chico Buarque, de que “nada é prá já, o amor não tem pressa ele pode esperar, em silêncio...”

Foi a Vânia a primeira amiga que me disse que Helvécio e eu íamos dar certo, isso, quando todos apostavam no contrário. Aliás, eles se conheceram de uma forma inusitada. Ela veio me fazer companhia, pois ele tinha feito uma viagem. Seu plano era ficar um dia e acabou se demorando mais, portanto, emprestei-lhe uma roupa dele para que pudesse dormir. Estava nos primeiros meses da gravidez do Guilherme e muito chateada, pois Helvécio havia ligado para avisar que ao contrário do que prometera, não iria chegar naquela noite. Sentadas na sala de TV, desfiei o rosário com o tradicional discurso sobre como os homens são “filhos da puta”. De repente, soou a campainha, a Vânia atendeu e era Helvécio, fazendo uma surpresa. Ela, vestida como ele, riu, e claro, eles se tornaram amigos para sempre.

Nossas histórias, mesmo nos momentos mais tristes, foram pontuadas pelo bom humor, sobretudo, eu diria, pela lealdade, pela entrega, pela amizade, aquela que como não canso de repetir, passa à categoria de irmandade.

Eu poderia falar um milhão de coisas sobre a Vânia. Há muitas e engraçadas histórias, palavras de carinho que gostaria de deixar registradas, gratidão pelo carinho que ela dedicou não apenas a mim, mas às pessoas da minha família, como meus filhos, minha mãe, minhas sobrinhas. Agradecer pelo ombro, pelo colo, pelas palavras de apoio, pelas broncas e pelas orações.

As palavras são singelas, amiga, mas o amor é de requinte, foi lapidado, esculpido com cuidado, esmero e é para sempre, como para sempre são os diamantes. Essa é uma amizade que tem status de jóia. Rara. Preciosa.

Te Amo.

Ps. A música é da trilha sonora de “Os Maias”. Acho que você vai se lembrar.



Ps. Provavelmente vou precisar imprimir esse post e te mandar pelo correio, afinal, a Internet não é seu lugar.