sábado, 18 de fevereiro de 2012

HELLO, AGAIN....

Faz tempo que não venho por aqui. Dia após dia, abri essa página para registrar as minhas impressões sobre a vida, sobre as alegrias e tristezas, sobre os acontecimentos, mas quase sempre me pareceu pretensioso falar de uma rotina que não faria sentido para ninguém, especialmente para mim.

Nesses quase dez meses em que não registrei uma única palavra no Blog, muitas coisas aconteceram. Boas, ruins, alegres, tristes, indiferentes, iguais. Hoje, premida pela solidão, por um estado de espírito que nem de longe se parece com o astral do carnaval, deu vontade de escrever, de visitar esse espaço, que afinal, é meu diário. Portanto, decidi subir a bordo de minha canoa e voltar a remar.
A primeira e óbvia coisa a dizer é que continuo na diálise. Houve a fase do completo e absurdo sofrimento, outra de resignação, aquela de achar que o tratamento nem era tão ruim e de regozijar-me com as visíveis melhoras. Depois, veio o inesperado uso de um cateter no pescoço, após uma cirurgia emergencial. Perdi a fístula e desci ao inferno com uma espécie de punhal cravado no pescoço que me mostrou com crueldade, como é duro passar quase três meses refém desse castigo. Mas pude descobrir, ao final, a alegria de tomar banho só, de lavar a cabeça e sentir a água escorrendo pelo corpo. Talvez a melhor sensação tenha sido a de poder sair à rua, sem ser observada como se fosse um ET.

Nos últimos dez meses fui incluída na fila de transplantes e, embora ocupe a posição 2.095, sinto a esperança de a qualquer momento ser agraciada com a doação de um órgão e ter de volta uma vida que me permita não ficar escrava da rotina que a diálise impõe.


Como a vida segue seu curso, participei de forma esfuziante do casamento de duas pessoas amadas: Juliana e Viviane. Tenho em conta que foram verdadeiros presentes, ver surgirem essas duas queridas, lindas como num filme, em seus vestidos brancos, com sorrisos que nunca se apagarão da minha memória.

Tornei-me uma “aposentada”, uma daquelas pessoas que ganham o direito a um soldo, sem ter que bater ponto em um estabelecimento. Nesse caso, sempre que possível, procurei viver como tal. Ir ao shopping de tarde. Pensar em cursos de artesanato, ter direito a atendimento preferencial e dormir quando dá na telha, ou quando a pressão cai e torna esse privilégio, uma necessidade.

Li dúzias de livros. Para confirmar a minha admiração pelo Uruguai, encontrei - pelas mãos da Vivi - o livro "A Trégua", que me ajudou a compreender muito sobre minha vida, seguindo o diário do personagem Martin Santomé.
Assisti incontáveis filmes, alguns adoráveis como: “Medianeiras” e “Minhas Tardes com Margueritte”, outros, descartáveis, mas nem por isso, desprezíveis. Viciei-me em novas séries, como Criminal Minds.
Aprendi a fazer pulseiras e até mesmo às vendi. Mudei a decoração da casa, pintei paredes, comprei sapatos e aprendi a gostar de café expresso, pelo simples prazer de usar esse ato para justificar a falta de companhia num passeio ao shopping.
Reencontrei amigas de infância (Shirley), da adolescência (Carla Soraya), da faculdade (Analvary) tudo graças ao mundo mágico do Facebook. Senti saudades de pessoas que apesar do tempo, teimam em assombrar-me com a força do passado. Fiz uma amiga virtual, chamada Miriam, que foi minha aluna na POSEAD e que me ofereceu ensinamentos especialíssimos, como se nossas vidas sempre tivessem estado grudadas. Discuti a relação com a Sol, trocando ofensas que se desmancharam no ar, pois esse tipo de amizade é para sempre, apesar das diferenças. Vivi com intensidade meu casamento – sem deixar de ir ao céu e ao inferno, pois viver a dois não é bolinho – sofri e me alegrei por meus filhos. Dia sim, dia não, o coração fica apertado e cheio das dúvidas mais cruéis sobre o caminho que eles seguirão e o quanto sou impotente para mudar o curso de suas vidas.
Viajei de férias. (aquelas no tempo que me coube ter) Fiquei estirada ao sol inclemente de Natal, olhando pela varanda o verde inacreditável daquele mar. Fechando os olhos e tentando reter aquela imagem e o som das ondas que por alguns segundos pareceu conduzir-me ao inalcançável mundo da perfeição.

Fui agraciada com a visita e inúmeras mensagens de carinho de ex-alunas(os), comprovando que o tempo de sala de aula foi um dos mais felizes de minha vida e sonhando que esse tempo possa me ser devolvido algum dia, pois tudo que desejo é acreditar que minha vida profissional esteja apenas fazendo uma pausa, esperando uma chuva forte, que vai passar.
Há dias em que estou inacreditavelmente feliz. Outros em que nada parece fazer sentido. Há dias em que fecho os olhos e ao abri-los, finjo que sou magra, rica, bonita e que a vida pode ser do jeito que eu quiser. Meu tempo, meus sentimentos oscilam entre o que posso e o que aspiro viver.
Como escreveu Marcel Proust, no livro Em Busca do tempo Perdido: “Alegam os poetas que, ao adentrar alguma casa ou algum jardim onde moramos quando jovens, reencontramos por um instante aquilo que já fomos. São peregrinações muito arriscadas, que produzem em igual medida sucessos e desilusões. Esses lugares fixos, contemporâneos de outros anos, é dentro de nós mesmos que mais convém encontrá-los.”  
Ou como cantou brilhantemente Elis Regina: “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar”.