sexta-feira, 15 de abril de 2011

Os "meus" meninos!

Quando fui aprovada no vestibular, no final da década de setenta, depois da alegria de ver meu nome na lista, o segundo passo foi prospectar as chances de encontrar um grande amor entre os colegas. Sim, as meninas numa turma majoritariamente feminina, estavam interessadas nas possibilidades de namoro. Eugênio, Fernando, João Angelo, José Maria, Marco Antônio, Marcelo Barra e Ronaldo. Sete garotos. Cinco. Afinal, dois deles tinham interesses sexuais na mesma categoria das meninas.

É claro que não rolou namoro, mas desse grupo saíram dois grandes amigos: João e Ronaldo. Embora no caso do Ronaldo, tenha sido uma amizade meteórica, nem por isso, menos querida. Acontece que ele se desgarrou rapidinho para casar.

Sempre tive facilidade de me relacionar com meninos. E falo de amizades sinceras e duradouras. De camaradagem e cumplicidade. E hoje quero falar de dois amigos desse tempo.

Um deles é o João. João Angelo Fantini. O outro, Lisandro. Lisandro Nogueira. Dois amigos queridos com os quais tive a oportunidade de viver ótimos momentos. Hoje, escrevo banalidades nesse blog - arremedo de diário - e levo uma vidinha besta, que não merece registro. Os dois, cada um a sua maneira, trilharam caminhos promissores. São reconhecidos nas suas áreas de atuação, já publicaram livros e têm blogs que falam de assuntos muito mais relevantes e claro, são cinqüentões charmosos.

Enquanto eu corro atrás de “sobrevida” como gostam de dizer os médicos e começo a contagem regressiva para a hemodiálise, prevista para a próxima semana, meus amigos constroem suas respectivas trajetórias. E nos últimos tempos eu penso com freqüência neles e no quanto foi importante tê-los conhecido.

Faz tempo que não os encontro. Lisandro, não vejo há mais tempo que o João, mas eu os adoro e a distância nunca foi capaz de fazer esse sentimento diminuir. Vez ou outra nós trocamos e-mails e telefonemas. Lisandro, eu vejo nas crônicas de TV num telejornal de Goiânia quando estou por lá. É ótimo saber que ele transformou sua paixão por cinema numa ocupação e que multiplica seu conhecimento sobre a sétima arte. É hoje uma referência sobre o assunto.

A Universidade Federal de Goiás foi nosso ponto de encontro. Lisandro estudava História e eu não sei  como nos tornamos um trio. A verdade é que durante muito tempo nossas vidas andaram muito próximas. Lembro, particularmente, de um período em que vínhamos juntos para Brasília. Eu, como já tive a oportunidade de comentar, tinha um grande amor por aqui e eles cuidaram de seguir a mesma trilha. Lisandro chegou a namorar uma garota e o João tentou emplacar um flerte com a irmã dela. Mas era um pessoal estranho e no final das contas, a história rendeu mais piadas, que romance. Daqueles dias, lembro da gente voltando para Goiânia no fusca do Lisandro, em desalento. Mas com vinte e poucos anos, a tristeza dura algumas horas, talvez dias, não mais.

Temos muitas histórias para contar, fizemos planos juntos e acho que havia entre nós um equilíbrio entre o meu pseudo vanguardismo, o cinismo cheio de charme do João e o excesso de confiança do Lisandro, que na verdade, escondia insegurança expressa no seu tique favorito: enrolar a ponta dos cabelos. Acho que dessa época o que conta de verdade era a incrível e despudorada capacidade que tínhamos de rir de nós mesmos e da nossa fanfarronice.

Nenhum de nós levou adiante o grande amor. Fomos atropelados pela vida que cuidou de nos apresentar a relacionamentos reais, menos Hollywood. Bem, talvez isso se aplique ao Lisandro e a mim. O João, pelo que sei, continua beijando muitas bocas e vivendo amores eternos enquanto duram.
Do João eu tenho lembranças muito ternas. Algumas inesquecíveis. Como ele foi embora para São Paulo, tivemos vários encontros no período em que eu viajava a trabalho para lá. Ele foi um ombro acolhedor, mesmo me dizendo na lata e sem verniz, coisas que precisava ouvir. Independente de seu pragmatismo, soube ser um amigo leal e enxugar muitas lágrimas. Algo assim: passa a mão na cabeça, mas dá um safanão – sem perder a ternura jamais – claro!

Dia desses, sonhei que ia me casar e era ele quem iria me conduzir ao altar. Não! Ele não era o noivo. Quando contei o sonho ele perguntou com a sua costumeira ironia: “mas no seu sonho eu ainda tinha cabelo”? Claro. Afinal, no meu sonho eu era bonita e magra.

Uma das maiores alegrias que tive foi vê-lo viajando com meus filhos para a Chapada. É claro que depois disso, Guilherme e Rodrigo alcançaram em sua vida o status de “brother” que eu não tenho mais idade e disposição para ser.

Não posso ouvir a Nana Caymmi que as lembranças do João chegam de pronto. Não porque ele seja um ardoroso fã, mas porque nunca me esqueci quando ele profetizava: "quer acabar com uma festa, coloca um disco da Nana Caymmi prá tocar". 

Lisandro e eu temos tantas coisas em comum que até fomos brindados com a mesma patologia: rins policísticos. Da última vez que nos falamos ele cuidou de encher meu coração de esperança e de garantir que há vida após a hemodiálise. Eu acreditei.

Nada é mais a cara do Lisandro que Glauber Rocha. E claro, sempre corro risco de morte quando declaro que acho o cara um grande "chato". Prá ele isso é tiro no peito. Ninguém é perfeito. Afinal, ele até gosta de Moraes Moreira. Fazer o que?
Quando pensei em escrever para eles, descobri, com tristeza, que não tenho uma foto em que aparecemos os três juntos. Eu espero que possamos reverter isso.

Enfim, meus queridos “João de Deus”, “Jonh very good” e “Lili”. Eu os amo! Muito!! E não queria que meus dias terminassem sem que pudesse dizer isso com todas as letras prá vocês.

Super beijo.

Ana Maria