domingo, 10 de outubro de 2010

"MANUEL, O AUDAZ"....


Não sei o que me levou a essa lembrança. Talvez o por do sol, tão parecido com aquele do dia em que me apaixonei por você. Viajávamos numa magnífica tarde, eu olhava o contorno do seu rosto e só conseguia pensar: “como é possível amar alguém que a gente mal conhece”?. Mas estava escrito. Não era livro. Não era filme. Não era novela. Mas era amor. Um amor que me acompanhou durante anos e anos. Um amor que por vezes me fez duvidar se haveria vida, felicidade, sem que você fosse o centro de tudo. Um amor tão avassalador, que não acabou quando terminou, que ficou me assombrando, até se transformar numa história que ao ser contada, parece de livro. Parece de filme. Parece de novela. Mas foi real.

Levei muito tempo para esquecer seu cheiro de manteiga, seus pés, sua risada e sua fala compassada e professoral. Você fala com pausas, como quem dá tempo a quem ouve para processar e compreender. Sim, porque seu discurso nem sempre alcança os simples mortais.

Você não deve se lembrar, mas eu sim. De todas as coisas que me disse. E mesmo aquelas que talvez fossem um artifício de sedução, até elas soavam como promessa. Aliás, dias desses achei num caderno um termo de compromisso no qual você jurava amor eterno, mas na época eu não levava a sério o fato de que amores só são eternos, enquanto duram.

Eu me lembro do primeiro beijo, do primeiro toque, das aventuras e desventuras. Do garotinho de cabelo anelado que você disse: “seu filho vai ter essa cara” e tirou uma foto. Mas nenhum dos meus filhos reais têm aquela estampa.

Eu me lembro do caminho de hortênsias e da sensação de que vivia dentro de um sonho e da trilha sonora... “eu não sei se vem de Deus, do céu ficar azul, ou virar dos olhos seus, essa cor que azuleja o dia”...E foram tantas, as trilhas sonoras de nossa história.

Lembro de você medindo meu dedo no casamento de minha prima e depois, me surpreendendo com um anel que veio dentro de um porta jóias na forma de um chapéu. Eu não posso esquecer o piquenique no rio sujo, os obstáculos para chegar, os mosquitos e a escapada furtiva para experimentar o amor na natureza.

Eu me recordo de você me recolhendo na janela e de travessamente violarmos a cama de sua mãe. Eu não me esqueço dos discos de Nara Leão e Elis Regina e dos filmes de arte na “Cultura”.

Eu me lembro até do Mário (que nunca conheci), aquele que ganhava “pudins” como gratidão pelo amor que oferecia. Eu nunca vou me esquecer do beijo trocado no chão do quarto de hóspedes, naquela noite em que eu tive muita, muita raiva de você.

Como esquecer os arroubos, os rompantes, e até mesmo as "previsões improváveis" sobre o nosso futuro. Lembra? A ideia era que nos encontraríamos furtivamente, que nos embrenharíamos nas lembranças, que esgotaríamos o desejo e que depois, seguiríamos para a vida que nos caberia viver. De alguma forma, foi assim.

Você não sabe, mas o abraço que trocamos no saguão daquele hotel fez o tempo parar, mas o abraço que trocamos, agora a pouco, já não descompassou meu coração...

Nossas vidas seguiram rumos diferentes, mas a despeito de tudo que nos juntou, e, sobretudo, do que nos separou, as boas lembranças conseguiram se firmar. E é por isso que hoje, eu rompo a prudência e os pudores para te dizer essas palavras. Nesse momento, em que minha vida parece um labirinto, em que o futuro parece incerto, o passado cumpre o papel de nos mostrar quem de fato somos, ou fomos.

Essa não é uma declaração de amor tardia, pois penso que usei todas as oportunidades para falar do meu sentimento quando ele pulsava, pulsava...Mas aquele por de sol foi uma bela moldura para dar às lembranças, o status que lhes cabem: o de boas lembranças. Nada mais. E porque não abusar dos clichês: "tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Valeu!


4 comentários:

Solange disse...

Sem comentários.
Embora, mereça cem comentários.

Beijos,
Sol

Equilibrista disse...

Eu não sabia que você gostava de trocadilhos. (rs) Bjs.

Solange disse...

Amiga,

Agora não tem mais nada que eu goste e que vocÊ não saiba. Só faltava esse meu gosto por trocadilhos (rsrsrsrsr).

Amiga, te mandei um email e vc nem me deu bola. Me responde, vai !!!!

Saudades,

Sol

Equilibrista disse...

Querida,

No calor que faz em Goiânnia e com tantos exames agendados, meu tempo tem sido complicado. Mas não se preocupe. Darei noticias e espero, que num espaço de tempo curtinho, possamos nos ver.
Bjs