segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"PEQUENA ABELHA"


Terminei de ler um livro chamado “Pequena Abelha”, relato ficcional da vida de uma refugiada nigeriana, em Londres. De maneira suave o autor fala de um tema que parece distante. É uma história cativante, e em alguns momentos, até divertida. Terminei a leitura num sábado, dia em que fui ao Park Shopping. Guardadas as devidas proporções, tive a mesma sensação de “não pertencimento” relatada pela personagem.

Ao chegar àquele centro de compras me senti um pouco como uma refugiada. Explico. A personagem narra sua perplexidade diante de uma cidade com jeitos e costumes completamente diferentes dos seus. Foi assim comigo. Depois que parei de trabalhar, sinto-me apartada. As pessoas bem vestidas, descontraídas, cheias de sacolas, embevecidas com as vitrines, entram em rota de colisão com a nova vida que me coube viver. E não é raro me sentir estrangeira nesse novo modelo. Todo aquele ritual parece diverso do que conheço. Até as palavras, ganham um novo sentido.

Na minha “nova vida” sinto-me quase sempre como uma refugiada. Minha casa se tornou meu abrigo, meu esconderijo. É daqui que olho a vida e ela parece um universo ao qual não pertenço. No livro, a “Pequena Abelha” está sempre buscando no passado conforto para um presente de angústias. É como se aquilo que viveu antes fosse sua referência, até mesmo seu porto seguro. O futuro é um lugar incerto, uma zona cinzenta, um terreno que parece reservar armadilhas. O futuro é um desafio permanente. No passado havia amigos e a presença da família. No presente os amigos são apenas uma lembrança. Aliás, na ausência física das pessoas queridas, a “Pequena Abelha” está sempre dialogando com o passado, buscando o tempo em que era possível compartilhar suas alegrias, medos e inquietações. Mas esse é um exercício de silêncios, pois o passado não é capaz de interagir.

Sempre que se defronta com o novo, a “Pequena Abelha” lança ao passado perguntas que vão ficando sem respostas. É um pouco assim comigo. Nesse momento, há mais perguntas que respostas. Na ausência delas, a personagem, assim como eu, recorre às analogias. Entra no mundo das suposições. Das especulações. Dos, “e se”... E se eu tivesse emagrecido? E se eu não morasse aqui? E se eu não precisasse de diálise? E se tudo isso fosse só um sonho ruim?

“...Às vezes eu penso que gostaria de ser uma moeda de uma libra esterlina em vez de uma menina africana. Todo mundo ficaria satisfeito ao me ver. Talvez eu fosse à sua casa no fim de semana e então, de repente, como sou muito inconstante, eu iria visitar o homem da loja da esquina – mas você não ficaria triste, porque estaria comendo um pãozinho com canela ou tomando uma lata de Coca-Cola gelada, e nunca mais pensaria em mim. Seriamos felizes, como amantes que se encontram num feriado e depois esquecem os nomes um do outro”...

E se fosse assim?

domingo, 10 de outubro de 2010

"MANUEL, O AUDAZ"....


Não sei o que me levou a essa lembrança. Talvez o por do sol, tão parecido com aquele do dia em que me apaixonei por você. Viajávamos numa magnífica tarde, eu olhava o contorno do seu rosto e só conseguia pensar: “como é possível amar alguém que a gente mal conhece”?. Mas estava escrito. Não era livro. Não era filme. Não era novela. Mas era amor. Um amor que me acompanhou durante anos e anos. Um amor que por vezes me fez duvidar se haveria vida, felicidade, sem que você fosse o centro de tudo. Um amor tão avassalador, que não acabou quando terminou, que ficou me assombrando, até se transformar numa história que ao ser contada, parece de livro. Parece de filme. Parece de novela. Mas foi real.

Levei muito tempo para esquecer seu cheiro de manteiga, seus pés, sua risada e sua fala compassada e professoral. Você fala com pausas, como quem dá tempo a quem ouve para processar e compreender. Sim, porque seu discurso nem sempre alcança os simples mortais.

Você não deve se lembrar, mas eu sim. De todas as coisas que me disse. E mesmo aquelas que talvez fossem um artifício de sedução, até elas soavam como promessa. Aliás, dias desses achei num caderno um termo de compromisso no qual você jurava amor eterno, mas na época eu não levava a sério o fato de que amores só são eternos, enquanto duram.

Eu me lembro do primeiro beijo, do primeiro toque, das aventuras e desventuras. Do garotinho de cabelo anelado que você disse: “seu filho vai ter essa cara” e tirou uma foto. Mas nenhum dos meus filhos reais têm aquela estampa.

Eu me lembro do caminho de hortênsias e da sensação de que vivia dentro de um sonho e da trilha sonora... “eu não sei se vem de Deus, do céu ficar azul, ou virar dos olhos seus, essa cor que azuleja o dia”...E foram tantas, as trilhas sonoras de nossa história.

Lembro de você medindo meu dedo no casamento de minha prima e depois, me surpreendendo com um anel que veio dentro de um porta jóias na forma de um chapéu. Eu não posso esquecer o piquenique no rio sujo, os obstáculos para chegar, os mosquitos e a escapada furtiva para experimentar o amor na natureza.

Eu me recordo de você me recolhendo na janela e de travessamente violarmos a cama de sua mãe. Eu não me esqueço dos discos de Nara Leão e Elis Regina e dos filmes de arte na “Cultura”.

Eu me lembro até do Mário (que nunca conheci), aquele que ganhava “pudins” como gratidão pelo amor que oferecia. Eu nunca vou me esquecer do beijo trocado no chão do quarto de hóspedes, naquela noite em que eu tive muita, muita raiva de você.

Como esquecer os arroubos, os rompantes, e até mesmo as "previsões improváveis" sobre o nosso futuro. Lembra? A ideia era que nos encontraríamos furtivamente, que nos embrenharíamos nas lembranças, que esgotaríamos o desejo e que depois, seguiríamos para a vida que nos caberia viver. De alguma forma, foi assim.

Você não sabe, mas o abraço que trocamos no saguão daquele hotel fez o tempo parar, mas o abraço que trocamos, agora a pouco, já não descompassou meu coração...

Nossas vidas seguiram rumos diferentes, mas a despeito de tudo que nos juntou, e, sobretudo, do que nos separou, as boas lembranças conseguiram se firmar. E é por isso que hoje, eu rompo a prudência e os pudores para te dizer essas palavras. Nesse momento, em que minha vida parece um labirinto, em que o futuro parece incerto, o passado cumpre o papel de nos mostrar quem de fato somos, ou fomos.

Essa não é uma declaração de amor tardia, pois penso que usei todas as oportunidades para falar do meu sentimento quando ele pulsava, pulsava...Mas aquele por de sol foi uma bela moldura para dar às lembranças, o status que lhes cabem: o de boas lembranças. Nada mais. E porque não abusar dos clichês: "tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Valeu!


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Tudo bem, se vai mal"...


Hoje fui ao médico pela manhã para levar o resultado de meus exames. Uma mamografia indicou a presença de um nódulo na “mama” esquerda. Fiquei mal! Mas tudo bem! Os demais exames indicaram que a função renal piorou. Isso, depois de passar dois meses cumprindo com bastante disciplina a dieta. Tudo bem! E por falar em dieta eu não consigo perder peso. É frustrante, mas, tudo bem! A anemia está em níveis abissais. Tudo bem!
O resto do dia eu usei para fazer faxina, minha empregada está de licença médica e desde então, minha rotina implica limpar, lavar roupa, passar, lavar louça, cozinhar, mas tudo bem! Quando eu limpava o quarto do Guilherme a porta do armário caiu em cima da minha perna e fez um baita hematoma. Ah! Tudo bem! Eu derramei todo o liquido do limpa vidros e depois, escorreguei e cai. Advinha? Tudo bem! Sabe o que me ajudou a passar o dia com essa, digamos, visão profunda de otimismo? Ed Motta. “Tudo bem, se vai mal...Tudo bom, vendaval”!


EU VOTEI!




Minha mãe está sempre lembrando o quanto pareço com meu pai. Ela faz questão de ressaltar que temos muitas coisas em comum e o gosto pela política é uma delas. Hoje pude confirmar isso. Foi dia de eleição e desde sempre eu adoro votar. Quando fiz meu título, aos 18 anos, passei o dia na fila e hoje, logo cedo estava lá, depositando na urna eletrônica minhas preciosas escolhas. Acho importante eleger os representantes políticos, mesmo que não tenhamos muito do que nos orgulhar nesse terreno. Tento fazer com que meus filhos pensem da mesma forma, mas não tenho sido bem sucedida. Enfim, penso que a maturidade se ocupará de mudar isso. Estou feliz, pois acredito ter feito boas escolhas e muito contente porque teremos um segundo turno para as eleições presidenciais. Acho que o principio da alternância deve ser respeitado. E fiz minha parte.