sexta-feira, 16 de março de 2012

Cada Dia!

Minhas tardes de terça e quinta têm sido ocupadas por passeios ao Shopping Iguatemi. Não, eu não frequento a Tyffany, Gucci, Christian Louboutin ou as demais lojas de alta grife.
Me contento em andar e olhar roupas que não cabem em mim ou no meu bolso. Compro pequenos mimos, tento não sucumbir ao apelo de mais um sapato. Tomo café, como um sanduiche de rosbife com geleia de pimenta e mergulho no maravilhoso mundo “da Cultura”.

Na minha livraria favorita, esqueço as horas e viajo por lugares físicos ou emocionais por meio de milhões de páginas e palavras.

Saio da “Cultura” com livros que nem sempre leio, mas que compro pelo impulso de tê-los e torná-los uma espécie de projeto, de compromisso, de promessa, como aquelas que nos fazemos todo início de ano.

Há dias em que tudo que preciso é da superficialidade dos livros de capas coloridas, destinados a mulheres que querem apenas se divertir com leitura rasa, que cumpre o papel da abstração e nos coloca em contato com roteiros manjados, como em muitas ocasiões desejariamos viver.

Noutros dias, flerto com a densidade de José Saramago (que me confunde com sua literatura sem pontuação), tenho recaídas por Gabriel Garcia Marquez e Guimarães Rosa. Insisto com obras tão complexas que depois de vencidas 300, de suas 800 páginas, abandono, com a sensação de que minha inteligência não é para tanto. A sensação é que o autor escreveu em códigos que só podem ser decifrados por ele.

Aproveito também para aumentar meu acervo de filmes – sempre os já vistos, alguns, dezenas de vezes. Escolho as trilhas sonoras do percurso inevitável, rumo à diálise. Ritmos alegres, daqueles que ouço alto, como artifício para esquecer o destino que me levará para quatro horas nas quais de alguma maneira, minha vida parece parar, refém daquela máquina, ao mesmo tempo em que é renovada.

Depois volto para casa, respondo e-mails – quase todos dos alunos da PÓS – e fico elaborando novos capítulos, contando pedaços da minha vida, selecionando as pedras do quebra-cabeças que possam traduzir-me para minha única e verdadeira amiga virtual: Miriam.
Sobretudo, espero seus e-mails, como antigamente esperava pelas cartas que me conectavam aos amigos da adolescência. No último e-mail, ousei falar “phoda”, pisando em ovos para não assustá-la. Penso que ela também estava ansiosa por esse sopro de intimidade, já que escreveu “porrada”. Nesse ritmo, creio que não muito adiante poderei usar minha expressão libertadora: “puta que pariu”, que me serve nos momentos de raiva e de êxtase.

É claro que em casa também cumpro meu ritual de “Dona Sebastiana”. Ponho roupas para lavar, faço comida, preparo as instruções para a Conceição tocar a casa no dia seguinte. Sonho com uma nova decoração, tento colocar ordem no meu armário, certa de que essa é uma tarefa impossível e espero que o silêncio seja quebrado pela chegada do Helvécio e dos meninos, que passam por aqui feito passarinhos.

Nessa quinta,  o dia teve dose dupla de shopping. Primeiro almocei com a Vivi e a Iris no Boulevard. Depois, Iguatemi. Na próxima semana pretendo fazer um up grade na minha visita à “Cultura”: vou levar o notebook. Hoje, para escrever esse post, consumi o estoque de guardanapos do café.

Em tempo: quando tomávamos café no Boulevard fui atendida por uma moça chamada Ana Maria. Ao falarmos sobre a coincidência dos nomes, sua colega disse: “toda Ana Maria é bonita”. Ganhei o dia e quer saber? Acho que ela está coberta de razão.

Elisa Lucinda escreveu e a Vivi repercutiu: “parem de falar mal da rotina”. Então, tá...

“Dias, dias, dias!
Que iludem os que agem como senhores de sua sina.
E surpreendem vorazes as pessoas em desaviso.”

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A cada dia, um dia... Em vários dias, a vida...

“Cada dia os dias são diferentes e mexem com agente de um jeito;
 Com uma magia ou um terror...

 Se não é mal de amor e mau de humor
 Ou harmonia ou euforia ou tédio
 E os sentimentos se renovam e morrem...
 A cada dia um assédio...
 Ou do vento ou do sol
 Ou do amado ou do amigo
 E as risadas disparam às vezes sem motivo
 Ou  as lágrimas caem de torpor ou tristeza ou perigo.
 A cada dia, um dia.
 Em vários dias, uma vida.
 Quantos amores?
 Quantos sorrisos?
 Quantos lugares?
 Quantos abrigos?
 Os dias e as noites interagem alheios aos medos, aos horrores, ao
 desassossego.
 Como vivos, como lares contém o destino.
 Dias, dias, dias!
 Que iludem os que não agem
 Como senhores de sua sina.
 E surpreendem vorazes, as pessoas em desaviso.”

 (“A cada dia, um dia... Em vários dias, a vida”, por Súlzer Larissa Germano)

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Amiga,

Enfim, sua inspiração voltou.
Não a deixe ir embora, nunca mais.
Beijo,
Sol