domingo, 8 de novembro de 2009

"Catilangos"


Catilangos são “seres” abjetos. Ou se preferirem, “seres” abjetos quase sempre evoluem para a condição de catilangos. Assim como os camaleões, eles tendem a mudar de cor para se adaptar a um ambiente ou a uma situação. Quando você menos espera, eles te surpreendem. Sua arma é o veneno liberado em pequenas porções. A idéia do catilango é a morte lenta, para agonia da vítima.

Os catilangos são como chuva em dia de piquenique. Eles são como ventilador na sua farofa, ou como lama no seu sapato novo e branco. Uma pesquisa recente demonstra que os catilangos, assim como as baratas, podem sobreviver a ataques nucleares. Eles não vivem em comunidade, pelo simples fato de que um catilango não se reconhece como tal. O principal artifício do catilango é vencer a presa pelo cansaço. Por isso, ele faz ataques sistemáticos, mas não planejados.

O certo é que, como a morte e os impostos, eles existem e vão fazer parte da sua vida em algum momento. Se você não estiver atento, assim como os carrapatos, os catilangos podem se tornar hospedeiros e sugar seu sangue, fragilizando seu sistema nervoso e te induzindo à baixa auto-estima.

Nunca, em hipótese alguma, menospreze o poder dessa espécie. E se a ira te fizer esquecer disso, use a proteção de água benta e alguns dentes de alho e sempre que possível, faça oferendas aos deuses. Mesmo que eles passem por momentos de transição nos quais, a exemplo dos gatos, pareçam domesticados. Ao menor sinal de ameaça, as garras vão estar ali, afiadas. Se você tem um catilango por perto, abra o olho.

Cientistas estudam métodos de combate a esses predadores, mas os resultados são inconclusivos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Los Muñequitos de Las Penas de Guatemala"



Tenho uma aluna que viajou recentemente para a Guatemala. Na volta, carinhosamente, me presenteou com uma caixinha feita de uma madeira fininha. Quase uma palha. Dentro dela havia algo surpreendente. Bonequinhos minúsculos e um bilhete. Nele estava escrito em espanhol, algo assim: “Há uma lenda nos Altiplanos da Guatemala. Se você tem um problema, então conte a um “muñequito de las pienas”. Antes de ir dormir, diga a cada um, o que te aflige e coloque o “muñequito” sob o travesseiro. Enquanto você dorme, eles levarão seus problemas para longe.”

Simples, assim. Achei a ideia genial. Ou seja, todas as noites você saca um bonequinho e atribui a ele a responsabilidade por alguma coisa que te faz sofrer e deixa que ele cuide de levar para longe essas inquietações. Na minha caixinha havia seis “muñequitos”. É evidente que meus perrengues superam esse número de ajudantes, mas, convenhamos: se durante um mês eu destinar a cada um deles uma cota de problemas, posso facilmente ficar “zerada”.

Curiosamente, são todos “bonequinhos”. Não há “bonequinhas”. Os índios sabem o que fazem – eu sei que parece delírio o que digo – mas para uma tarefa como essa, precisávamos de alguém do sexo masculino. Homens são práticos, não é mesmo? Seguramente se fossem “muñequitas”, você ia contar seus problemas e elas iam tratar de discutir os detalhes, chorar com você, lembrar de uma história semelhante que viveram. Os “muñequitos”, não! Eles vão lá, levam seu fardo e pronto.

Enfim, daqui a pouco estou indo falar com os meus. A maior dificuldade é que não decidi ainda por onde começar. Não consigo sequer estabelecer uma ordem de prioridade. Elencar que problemas devo despachar.