sábado, 28 de maio de 2011

ABRINDO AS PORTAS DA ESPERANÇA

Na década de 80 ou talvez 90, o apresentador Silvio Santos tinha um quadro no seu programa que se chamava “As Portas da Esperança”. (Pode ser que não tivesse exatamente esse nome). No quadro, o apresentador contava a história de alguém que pedira alguma coisa muito importante para si. Eram pessoas querendo enxovais, cadeiras de roda, móveis.... A produção do programa procurava por empresas dispostas a atender ao pedido dos participantes. Silvio Santos falava do sonho – sim, quase sempre a pessoa estava no limiar do desespero – e pedia que as portas da esperança fossem abertas. Se o pedido fosse contemplado, por trás da porta estaria alguém e muitas vezes até o objeto do desejo. Em algumas situações não havia nada quando as portas se abriam. Assim como na vida, nem sempre os sonhos podem se materializar.

Enfim, não sou uma aficionada por Silvio Santos e esse post é para falar que nessa semana, uma fresta da porta da esperança se abriu para mim. Há uns cinco anos tive um ganho considerável de peso. O quadro começou com uma medicação e evoluiu com a baixa de auto-estima.

Como é de domínio público, desde o começo de maio estou fazendo hemodiálise. Não tem sido fácil, minha vida passa por mudanças significativas. Mas estou me ajustando e nas duas últimas sessões já fui dirigindo. Isso me deu a sensação de não ser tão dependente. Já consigo olhar a clínica na qual faça o tratamento de uma maneira menos hostil.

Nas primeiras sessões chegava por lá com a sensação de quem ia cumprir um ritual inútil e que tudo resultaria em dor e sofrimento. Enfim, como a vida está sempre nos mostrando: nada como um dia e outro e outro. A verdade é que caminhando para um mês de tratamento eu já experimentei algumas mudanças. A melhor delas foi abrir um armário com as roupas de cinco anos atrás e conseguir entrar em algumas. Foi uma emoção. São roupas simples, mas que representam um momento importante da minha vida. Eu estava feliz, confiante e o futuro parecia promissor.

Abrir aquele armário foi mais ou menos como abrir as portas da esperança e ter um desejo realizado. Deu-me ânimo e mais confiança. Agora consigo acreditar que talvez volte a ter meu peso anterior e que possa retomar a auto-estima. O tratamento é uma peça importante desse jogo. Os primeiros exames demonstram que a diálise já conseguiu expurgar boa parte das substâncias ruins que estavam morando dentro de mim. Ninguém acorda e agradece a Deus por mais um dia de diálise. Esse não é o sonho de consumo de nenhuma pessoa. No entanto, meu “Pollyana way of life” já dá mostras de que, a despeito da tristeza, da desesperança que experimentei ao receber esse diagnóstico minha vida poderá passar a outro patamar.

Já consigo olhar para mim sem autocomiseração e, acreditem, isso é muito! Cada dia que visto uma roupa do passado, tenho a sensação de colocar um pouco mais de cor no meu presente. Estou lendo um livro muito simpático chamado “Um Dia”.

O autor começa sua narrativa com uma poesia:

“Para que servem os dias?

Dias são onde vivemos.

Eles vêm, nos acordam

Um depois do outro.

Servem para a gente ser feliz:

Onde podemos viver senão neles?

Ah! resolver essa questão

Faz o padre e o médico

Em seus longos paletós

Perderem seu trabalho”.

(Philip Larkin, “Days”)

É mais ou menos assim. Na vida só podemos viver um dia de cada vez.

3 comentários:

Solange disse...

Bom Dia !!!

Quero começar pedindo desculpas por não ter ido levar a "fábrica de colares", mas foi o FDS foi curto para resolver muita coisa. Sorry, amiga.
Maravilha, bom demais ver você animada. No final tudo vai dar certo, e se ainda não deu é pq não cehgou ao fim !!! E o final será feliz, acredite.
Beijos,
Sol

Rosana disse...

Abri as Portas da Esperança, com 8 anos de atraso, mas aqui cheguei! O coração acelerado ao ler o relato de minha mais cara amiga! Perdão, por não ter estado fisicamente ao seu lado nesses momentos tão delicados e carregados de dor!
Tenha pois a certeza que de alma e coração, estive e estou ao seu lado!

De Ana para Ana disse...

Sabe. Talvez eu tenha escrito esse diário para que você pudesse ler minhas palavras e não se perder de mim.