segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Como se fosse a primeira vez..."


Ela lembra com detalhes do nosso primeiro encontro. Fala dos meus cabelos cacheados e de como, ao me ver, idealizou uma vida profissional e me tomou como modelo para sua carreira. Isso me causa espanto, pois nessa época eu era uma jovenzinha que não via qualquer talento em mim, principalmente profissional. Da última vez que nos vimos me olhou com aqueles olhos miúdos – e um pouco mais tristes - e disse que eu parecia uma judiazinha.

Nossos encontros são invariavelmente meteóricos. Há tempo de menos e coisas demais para contar. Talvez seja por isso que cuidamos de falar muito e de forma fragmentada sobre tudo.

Eu não me recordo da nossa primeira vez, mas sei que me pareceu afetada. Eu não conseguia imaginar que uma pessoa pudesse – de forma espontânea – ser tão doce e carinhosa. Tinha um cabelo impecável – ainda o tem - e me parecia uma caprichosa menina rica, usando as palavras quase sempre no diminutivo.

Muito a contragosto aceitei que fosse minha colega de trabalho. Escapava dela sempre que podia e tinha uma má vontade inacreditável para suas idéias. Lembro que ela usava com freqüência a expressão “artístico cultural” e que eu, definitivamente, não parecia inclinada a incluí-la na minha lista de amigas.

Não sei quanto tempo foi necessário para que eu caísse de amores por ela, mas sei que lamento profundamente ter demorado tanto para reconhecer nela a amiga que hoje habita uma das áreas mais nobres do meu coração. (eu sei que isso foi piegas, mas não resisti!!!)

Nos aproximamos em São Paulo. Numa viagem a trabalho pouco depois que eu havia passado por um sério acidente de carro. Diante da minha explícita má vontade ela resolveu que estava na hora de passarmos nossa história a limpo e eu fui obrigada a abrir a guarda e claro, nunca mais nos perdemos de vista.

Quis o destino que logo depois ela se desligasse do trabalho e que voltasse a morar no Rio. Antes disso, entretanto, pudemos viver com intensidade a cumplicidade de uma amizade que sobrevive todos esses anos. A distância nos aproximou. As cartas trocadas nesse tempo nos permitiram acompanhar de forma recortada, o desenrolar das nossas vidas. E foram muitas e longas cartas, nesses tempos em que a comunicação passou a ser feita exclusivamente pelo modo virtual, estávamos lá, deixando tinta em todo tipo de papel.

Lembro-me que um dia recebi pelo correio uma caixa na qual ela me enviava um monte de fitas cassetes. Ela teve o cuidado de fazer as capas e montar uma trilha sonora peculiar que incluía músicas francesas, portuguesas, gregas e italianas. Não lembro de ter lhe contado, mas nesse dia eu chorei copiosamente, pois foi um dos gestos mais carinhosas que já recebi de alguém.

Quando foi visitar a Grécia cuidou de me incluir na viagem. Fez isso me relatando, na forma de um diário, suas aventuras por lá. No decorrer dos anos suas cartas chegavam invariavelmente acompanhadas de um artigo, de um texto, de alguma foto, ou cartão, qualquer elemento que me ajudasse a ver o mundo com seus olhos. Poucas pessoas me ensinaram tanto e eu sei que faço parte de suas preocupações diárias, pois nos gostamos verdadeiramente como irmãs.

Hoje fui ao cinema com uma amiga e de repente me lembrei que um dia, anos atrás, estávamos no Park Shoping e decidimos assistir um filme. Não lembro qual era, mas sei que não tínhamos dinheiro e que despejamos o conteúdo de nossas bolsas e juntamos centavo por centavo até que conseguimos chegar ao valor do ingresso. E rimos, rimos muito disso.

Há muito para falar sobre você, Luiza Adriana. Podia recordar o passeio na Floresta da Tijuca. A caminhada pela Praia Vermelha, as vezes em que vimos juntas o por do sol de Brasília e que você me fez pensar sobre a importância da paisagem na nossa saúde. Poderia falar do nosso "projeto embaixadas", de comer canjica no Sheraton, de todas as diferenças que temos e que nos fazem, apesar disso, tão iguais.

Hoje, entretanto, queria apenas dizer que te amo e que sinto muitas saudades, muitas!

Um beijo.

Ps. 1 – O título desse post só nós duas vamos entender.
Ps. 2 Essa é a música/filme que escolhi para me lembrar de você.


Um comentário:

Equilibrista disse...

Um detalhe que não comentei sobre a minha amiga é que ela não está muito afinada com o ambiente virtual. Por isso, o comentário dela para o post foi enviado pelo e-mail e o estou reproduzindo abaixo.
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Ana, estou tão emocionada e sem reação que sei que não vou ter palavras para agradecer o carinho que racebo de você.
Dessa vez mais recente em que nos reencontramos, quando você abriu a porta e me abraçou, foi um acolhimento que já não sentia
acho que desde os tempos da minha irmãe, Luzia, viva.
Um abraço carinhoso e obrigada, Lu