quinta-feira, 22 de julho de 2010

“Filhos...Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos, como sabê-lo”


Quem não sente compaixão ao ver uma mãe perder um filho? Que perda pode ser pior que essa? Que mãe nunca passou uma noite em claro, pensando que algum mal possa alcançar um filho seu?

Estou aqui, vendo o dia amanhecer pensando na dor de uma mãe que perdeu um filho lindo, talentoso e jovem. Estupidamente levado por um acidente. Eu não a conheço pessoalmente, nem conheci seu filho. Mas me sinto afetada, porque olho meus filhos dormirem e penso: “e se fosse um deles”?

Quantas noites já acordei sobressaltada, quantos sonhos ruins já tive. A maternidade traz implícito um sentimento de perda. É como se a qualquer momento viessem te levar algo que não é seu. E de fato, os filhos são apenas pretensamente nossos. Mas nós os queremos perto. É como se a todo instante nosso útero os quisesse recolher de volta.

Meu filho Rodrigo e seu pragmatismo de jovem, costuma dizer que as pessoas têm dia e hora para chegar e ir. Quando eu imploro que ele não se exponha, quando suplico para que ele se proteja e fique distante do perigo, ele se limita a dizer: “quando minha hora chegar, eu vou”. Invariavelmente choro, mas sei que essa é a lógica. As pessoas vêm e vão. Mas não é justo que um filho parta antes de seus pais. É doloroso demais.

Muitas vezes penso, diante dos sofrimentos reais e imaginários, que a melhor forma de ter boas noites de sono e o coração tranqüilo passe pela opção de não ter filhos, mas ai, sempre me ocorre esse poema de Vinicius de Moraes: “mas se não os temos, como sabê-lo”? Não sei. Só sei que dói.

“Poema Enjoadinho”

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

3 comentários:

Bailarina disse...

Eu daqui fiquei muito comovida tbem com esse acidente. Filhos sempre me passaram essa sensação, de que a gente vai estar sempre com o coração na mão. Qdo vejo histórias assim até tremo! E ainda tem alguém me apertando aqui pra ter um bebê logo, mas que eu tenho um medo danado eu tenho! Ah se eu tenho!

Equilibrista disse...

Não tenha medo... tudo na vida implica "dor e delícia". Bjs

Solange disse...

É, Vivi, não tenha medo. As delícias são infinitamente maiores que as dores.
Mas, a dor da perda é infinita de tão grande.
Beijos para as duas,
Sol