quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"VÂNIA MASSI DA CUNHA, "EX" GONZAGA"


Uma amiga perguntou-me se eu acreditava em pessoas sensitivas. A pergunta me lembrou a Vânia. É que há entre nós uma estranha química, que não sei se pode ser atribuída a sensitividade. Sempre que pensamos na outra, que ansiamos por noticias, uma de nós se comunica. É como se tivéssemos essa sintonia fina, uma linha invisível que nos une e que nos aciona, sempre que precisamos estar em contato.

Fazia muito tempo que queria escrever sobre e para a Vânia. Trata-se de uma das pessoas mais especiais que conheci. A vida nos juntou numa repartição pública, em Goiânia, a mais ou menos trinta anos. Era meu primeiro trabalho. Nossa aproximação aconteceu, provavelmente, por iniciativa dela, já que era muito mais comunicativa e fazia amigos em profusão, pois era a simpatia em pessoa.

Em tempos de poucos recursos, nossa diversão favorita era uma lanchonete que ficava nas proximidades da Prefeitura onde devorávamos um delicioso bolo de cenoura com calda de chocolate e outros quitutes. Tantos, que ela ria e declarava que éramos portadoras de um “estômago de avestruz”.

Nesse tempo eu começava um namoro. Ela terminava um casamento. Nossa primeira conversa mais intima surgiu quando, num afastamento do trabalho, fui visitá-la na casa da mãe. Ela estava com um lenço cobrindo a cabeça. Com seu tradicional bom humor, disse que metade de seu cabelo tinha ficado nas mãos do ex-marido depois de uma briga. Foi chocante ouvir aquilo, mas uma admiração surgiu de imediato, pois ela fez questão de relativizar o seu papel de vitima.

Nossa amizade foi se consolidando e eu poderia citar inúmeras situações que a vida nos permitiu viver juntas. A marca registrada de todas: o humor inigualável da amiga que ria e mostrava suas covinhas, dona de histórias incríveis de superação. Contou-me, por exemplo, de uma ocasião em que o marido voltou bêbado. Ela foi tirar satisfação. Ele, então, começou a atirar dentro de casa. Eu, perplexa, perguntei: “e o que você fez?” E ela, com seu impagável sorriso, devolveu: “eu aprendi a pular muro”.

Outra história do “ex” que virou um hit. Ela contava que ao confrontá-lo depois de uma noitada, querendo saber onde estava e o que estava fazendo, ele respondeu: “abstenha-se de comentários improfícuos sobre a minha pessoa”. Nunca mais esqueci.

Quando conheci a Vânia, Octaviano, seu filho, era um menino de uns cinco anos. Dotado de uma inteligência impressionante, em muitas situações estava conosco nas baladas. Fazia perguntas que estavam além da idade, mas era um menino adorável de quem eu aprendi a gostar como de um sobrinho. Admiro-a profundamente, pois apesar das adversidades – foram muitas – ela foi capaz de dar ao Octaviano uma educação de primeira, e falo, principalmente, sobre caráter e dignidade. Embora, eu nunca tenha concordado com seus métodos “cruéis”, como o de se negar a dar presentes de Natal para o garoto, afirmando que o aniversário era de Jesus, não dele. Coisas da Vânia. Fazer o que?

Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que a Vânia esteve presente nos principais momentos da minha vida. Houve um tempo em que nossos encontros se davam numa lanchonete perto do seu trabalho. O nome era “Manga Rosa” e a especialidade eram sucos. Era lá, que, heroicamente, ela se resignava ou porque não, repugnava, me vendo tomar suco de melancia, uma fruta que detesta. Enfim, o que posso dizer, esse é outro de seus desvios de caráter.

Parece incrível que alguém com o desprendimento da Vânia tenha medo de elevador, de índio e de filme de terror, mas que prova de amizade ela me deu assistindo, mesmo que trêmula, ao filme, “Um Beijo Antes de Morrer”, que era um suspense razoável, que ela viu quase enfartando, para acolher um desejo meu.

Fizemos duas viagens memoráveis. A primeira, para Marzagão, uma micro cidade, para passar o carnaval na casa da minha prima Ruth. Foi bizarro. Não conseguíamos imaginar que a vida pudesse nos colocar em tamanha cilada.

A outra viagem foi para Ouro Preto. A Vânia estava confusa e havia conhecido um garoto, jovem estudante e decidimos fazer uma surpresa. Foi uma viagem marcante. Fomos parar numa cidade sem nenhum planejamento prévio. Na tentativa de encontrar um local decente para ficar, nos deparamos com situações inacreditáveis. Fazia frio, as casas eram velhas e tinham cheiro de mofo, o que, automaticamente alimentava a minha asma, além disso, o “sobe e desce ladeira”, tornava a aventura ainda mais complicada. Vânia encontrou o garoto, que morava na República Maracangalha. Lá, conhecemos outra porção de jovens, dançamos, bebemos, fizemos farras, e muitos novos amigos. Foram muitas emoções, e a minha reputação seria fortemente abalada se eu contasse os detalhes. Eu poderia fazer menção a um chapéu com uma pena verde passando pela janela. Os simples mortais achariam que trata-se de excesso de Rivotril, mas a Vânia, essa vai rir e vai rir, e vai rir....

Por falar em ciladas, não poderia me esquecer de uma noite em que eu, ela, Luiz Arthur e um garoto amigo dela, cujo nome não consigo lembrar, fomos assistir uma palestra sobre o regime comunista. Poxa! A gente devia mesmo estar sem nada para fazer. Depois, fomos parar numa festa na casa de uma amiga dela, em que as pessoas jogavam truco e só tocava música sertaneja. Diante de tamanha bizarrice, o amigo dela olhou e disse: “essa festa é muito “baguá””. Isso foi motivo para que passássemos horas dando risada. Principalmente, quando o amigo, que era bem bonito, começou a fazer sucesso entre o mulherio e a receber propostas para dançar. Muito delicadamente ele declinava, lamentando, mas justificando que “só dançava ópera”. Mais risadas. E claro, saímos correndo de lá.

Cilada também foi a passeata que percorremos em apoio a um certo candidato, que custou a ela uma sapatilha novinha comprada nas Casas Pernambucanas e a mim, uma lembrança que nunca se apagará.

Amigas têm seus códigos, suas senhas. Sou capaz de apostar todo o meu dinheiro como ela jamais vai se esquecer de frases como: “descansa minha criança”, ou “suportou enquanto pode”. Tenho certeza de que vai lembrar com alegria da noite das margaritas, quando a gente começou a achar o garçom bonito e depois, eu cometi a loucura de uma ligação a cobrar no meio da madrugada.

Impossível, também, esquecer da noite em que entrou no meu carro e viu nos meus olhos que eles tinham um brilho novo. Foi confidente dos meus devaneios e do meu sonho impossível de felicidade. Amigos são assim.

Aliás, no terreno dos romances andamos por caminhos tortuosos. Cada uma, no seu tempo, experimentando a “dor e a delícia de ser o que é”. Houve um caminhoneiro, o “jogral luterano” e a “saga nordestina”. Houve dor, tristeza, desilusão, mas, acima de tudo, muita vontade de encontrar “a metade afastada de mim”. Penso que esse tempo finalmente chegou. Tão longe, tão perto, não é mesmo, Vânia? O amor cumprindo seu destino, confirmando os versos de Chico Buarque, de que “nada é prá já, o amor não tem pressa ele pode esperar, em silêncio...”

Foi a Vânia a primeira amiga que me disse que Helvécio e eu íamos dar certo, isso, quando todos apostavam no contrário. Aliás, eles se conheceram de uma forma inusitada. Ela veio me fazer companhia, pois ele tinha feito uma viagem. Seu plano era ficar um dia e acabou se demorando mais, portanto, emprestei-lhe uma roupa dele para que pudesse dormir. Estava nos primeiros meses da gravidez do Guilherme e muito chateada, pois Helvécio havia ligado para avisar que ao contrário do que prometera, não iria chegar naquela noite. Sentadas na sala de TV, desfiei o rosário com o tradicional discurso sobre como os homens são “filhos da puta”. De repente, soou a campainha, a Vânia atendeu e era Helvécio, fazendo uma surpresa. Ela, vestida como ele, riu, e claro, eles se tornaram amigos para sempre.

Nossas histórias, mesmo nos momentos mais tristes, foram pontuadas pelo bom humor, sobretudo, eu diria, pela lealdade, pela entrega, pela amizade, aquela que como não canso de repetir, passa à categoria de irmandade.

Eu poderia falar um milhão de coisas sobre a Vânia. Há muitas e engraçadas histórias, palavras de carinho que gostaria de deixar registradas, gratidão pelo carinho que ela dedicou não apenas a mim, mas às pessoas da minha família, como meus filhos, minha mãe, minhas sobrinhas. Agradecer pelo ombro, pelo colo, pelas palavras de apoio, pelas broncas e pelas orações.

As palavras são singelas, amiga, mas o amor é de requinte, foi lapidado, esculpido com cuidado, esmero e é para sempre, como para sempre são os diamantes. Essa é uma amizade que tem status de jóia. Rara. Preciosa.

Te Amo.

Ps. A música é da trilha sonora de “Os Maias”. Acho que você vai se lembrar.



Ps. Provavelmente vou precisar imprimir esse post e te mandar pelo correio, afinal, a Internet não é seu lugar.

5 comentários:

Bailarina disse...

A Vania Massi é massa! E qualquer outro comentário estragaria a beleza do texto, mas é preciso dizer que nenhum casamento poderia mesmo ir pra frente quando o marido pede para que a mulher nunca mais faça comentários improfícuos sobre a pessoa dele!!! hahahaha!

Equilibrista disse...

Ei bailarina! Você voltou. Isso sim é massa. "Improfícuo" seria não tê-la aqui.Bjs

Unknown disse...

A Vânia...aquela pessoa bacana e doidinha, como ela mesmo se autodenomina é MARAVILHOSA... Ela me motrou esse texto, LINDO e condizente com a pessoa referida.Sou amiga dela de trabalho! Pensa o quanto ri ao saber que ela tem medo de ìndio, ah loka! Parabéns Equilibrista, tomei liberdade de ler alguns outros textos e gostei muito!Bjos!

Equilibrista disse...

Oi Janine,

A Vânia é mesmo uma pessoa incrível! Pode ter certeza de que é um privilégio tê-la como amiga. Seja bem-vinda ao "Blog". Venha sempre. Super abraço.
Ana Maria

Unknown disse...

Que coincidência encontrar esta publicação! Eu tbm amo essa pessoa incrível chamada Vânia Massi. Fomos colegas de faculdade e o fato é que nos tornamos grandes amigas. Li cada linha desse post e ri demais, pois a descrição é ela pura. Alguns dos relatos ela já havia me contado, especialmente, o da " saga nordestina ", kkk. Abraços.