domingo, 5 de dezembro de 2010

INVENTÁRIO MUSICAL



Dias de faxina. Minha casa foi se transformando, pouco a pouco, num grande acampamento. Se pusesse uma bandeira vermelha, poderia ser reduto do MST. Nos últimos tempos fui deixando tudo de lado, principalmente meus discos. Eles estavam entulhados e jogados em “terra de ninguém”. Nos últimos dias decidi colocar ordem no pedaço e fiz descobertas surpreendentes. Primeiro, a enormidade de discos que se foram, ficaram apenas as caixas. Entre eles, uma preciosidade que o Giovani me deu: um disco do Fernando Cabreira, que ouvi uma única vez e virou fumaça, mas a surpresa! Eu encontrei.

Descobri, aliviada, que tenho mais discos do Chico Buarque, que do Drexler. Eu alimentava um sentimento de culpa em relação a isso, que foi motivo até de um sonho bizarro.

Sobre o Drexler, aliás, fiz uma descoberta que reforça o surto obsessivo compulsivo. Tenho todos os discos lançados por ele. Claro! Mas a curiosidade é que do “Eco”, por exemplo, tenho quatro exemplares, além de três DVDs. Dos demais títulos, com exceção de “Amar La Trama” tenho as cópias duplicadas de todos.

Enquanto arrumava os discos, eu ouvia. Que terapia é a música. E como é traiçoeira também. Elis Regina é realmente a cara dos meus vinte anos e do amor desse tempo. Ana Carolina me transporta, súbito, para um tempo em que perdi o juízo e a razão. Milton Nascimento pode ser um ícone, mas depois de “Clube da Esquina”, nenhum outro disco conseguiu me ganhar. Gosto de Caetano Veloso, mais que imaginava, principalmente de “Fina Estampa”. Leila Pinheiro é a cara do Daniel. Não porque ele a adora, mas pelo show de Buenos Aires e, principalmente, o depois do show.

A maioria dos meus discos lembra a Vivi. E olha que nem tenho Elizeth Cardoso. É que organizando minha vida musical, foi possível perceber a influência que ela teve nas minhas escolhas. Eu apresentei o Drexler, mas coube a ela me mostrar Kevin Johansen – de quem, também, tenho discos repetidos – Bajo Fondo, Jarabe de Palo, Orishas, uma linda coletânea de música cubana, Marina de La Riva, Nina Simone “antes e depois do amanhecer” e uma infinidade de outros cantantes.

Aliás, fiquei impressionada como gosto de música latina. Encontrei Astor Piazzolla, o tango definitivo antes dos eletrônicos. “Cuarteto de Nos”, Alejandro Sanz, Mana, Gipsy Kings, Pablo Milanez – apesar de todo meu dissabor com Cuba - Luiz Miguel – um montão, que afinal, não tem nada melhor para ressaca de amor – Trini Lopez – que na verdade é americano, assim como Cris Montez.

É incrível, mas tenho até Zeca Pagodinho. Fiquei bege! E um disco do Fagner. Mas trata-se de uma coletânea com as primeiras músicas, inclusive, “Cebola Cortada”. Tem Belchior, Beto Guedes, Lô Borges, Guilherme Arantes, Gal Costa, mas não tenho Maria Bethânia e isso me deixou profundamente aliviada. Elba Ramalho, nem pensar. Mas tenho Geraldo Azevedo, Raul Seixas e a Fafá de Belém fingindo que sabe cantar Chico Buarque. Tenho até discos da Simone, que outrora, já teve um lugar especial no meu coração. Pensei que tinha mais Adriana Calcanhoto e fiquei chocada: tenho dúzias de Nana Caymi. Isso me lembra o João Angelo falando que não há nada melhor para acabar com uma festa que colocar um disco dela para tocar.

Foi uma delícia encontrar Nara Leão, Angela Roro...”Tola foi você, ao me abandonar...” Boca Livre, MPB 4, Quarteto em Cy, e os imprescindíveis: João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes – como é que se pode viver um grande amor, sem essa trilha sonora? – E que bálsamo, Paulinho da Viola e até mesmo Adoniran Barbosa. E Ivan Lins. “Lembra de mim, dos beijos que escrevemos no muro a giz”...

Ia estufar o peito para dizer que não manchei minha biografia com os sertanejos, mas sou obrigada a confessar que estão lá Willie Nelson e Kenny Rogers.

Os anos oitenta não poderiam faltar, mas acredite: não tenho um único disco da Blitz!!!! Mas estão lá: RPM, Ultraje...Claro, Paralamas, Titãs,muitos, Capital, evidente! E nada de Legião Urbana. Eu descobri recentemente que Renato Russo é um gênio e preciso reparar a sua ausência na minha vida musical. Sim, para Kid Abelha, e os solos de Paula Toller e Leoni. E incontáveis Lulu Santos, “Faltava abandonar a velha escola, Tomar o mundo feito Coca-Cola, Fazer da minha vida, Sempre o meu passeio público, e ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único!”

Estão lá as divas: Billie, Sara, Dinah e Dionne Warwick. E bem pertinho, Louis Armstrong, Nat King Cole, Duke Ellington. Também marcam presença: Plácido Domingo, Pavarotti e as “new age”: Enya, Loreena McKennitt e Sarah Brightman.

Sim, temos Barry White “you’re the first, the last, the everything” e Tony Bennet e muito, muito Frank Sinatra. Temos também o sucessor: Harry Connick Jr. que conheci por conta da trilha de “Harry e Sally”.

E por falar em cinema, estão lá as trilhas de Cinema Paradiso, Forrest Gump, O Poderoso Chefão, Evita, Blade Runner, Nove e meia semanas amor... “Baby, take off your coat, real slow”... mas… “you can leave your hat on”!

E Madredeus. “Haja o que houver, eu estou aqui. Haja o que houver, espero por ti.” E os clássicos, a origem de toda música.

Agora estão todos ao alcance das mãos. Para a dor ou o amor. Para lembrar ou esquecer. Para rir ou chorar. A música é isso. Antídoto, recanto e abraço.

6 comentários:

Solange disse...

Nossa, muitos desses títulos valem ouro !!!

Vou até aí pegar alguns emprestados. Você tem coisas do "arco da velha", como se diz lá na minha terra (agora livre do tráfico).

Beijos,
Sol

Equilibrista disse...

Querida, não se esqueça de que eu sou velha feito o arco. (rs) Sabia que achei uma coletânea chamada "Ana e Sol". Do tempo em que eramos amantes.(rs) Pode vir buscar o que quiser. O que é meu é seu. Bjs.

Solange disse...

Como é???? Coletânea "Ana e Sol"? É ouvir estirada no tapete, né?
Quero muito ouvir, deixa separado esse CD, ou melhor, faça uma cópia, por favor.
A propósito....quando deixamos de ser amantes? Você nem me avisou !! Continuo fiel a você e na verdade não temos mais compromisso? Sacanagem !!! (rsrsrsr)
Beijos,
Sol

De Ana para Ana disse...

Sim, amiga. A coletânea é para ouvir tombada, com uma garrafa e lencinhos. Ela é a cara daquele tempo em que perdemos o juizo. Mas foi um tempo bom.....
E pode ficar tranquila, nosso amor é para sempre.
Bjs

Bailarina disse...

Poxa, eu gosto de QUASE tudo isso que vc colocou. Quase. Mas o Zeca Pagodinho faz festa pra Cosme e Damião e isso me dá um pouco de preguiça dele. Na verdade me dá MUITA preguiça dele. Aliás,por que é que vc tem um disco do Zeca Pagodinho? Ta aí. Faltou a explicação. O Fagner é um cara contemplativo. Eu e a Marcela já tentamos decifrar a quantas ele andava qdo escreveu Romance no Deserto. Segue o trecho: "Será que eu dei um tiro no cara da cantina
Será que eu mesmo acertei seu peito
Vem, vamos voando minha Madalena
O que passou, passou, não tem mais jeito..." Foram várias passadas debaixo do túnel que liga a Zona Sul à Barra pra tentar entender! kkkkk Saudades. Vontade de ir aí e passar uma noite dando gargalhadas! Que tal de domingo pra segunda (26-27/12?)

Equilibrista disse...

Essa letra é um pesadelo! O Fagner é um pesadelo. Sobre o Zeca Pagodinho, descobri que o disco é da minha mãe. Aliás, a minha velhinha tem até disco do KLB. Vai entender.
Querida, você é sempre bem-vinda. Venha. Será uma alegria.
Bjs