quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amigos Possíveis


Quando vim morar em Brasília, a despeito da novidade de começar uma nova vida, me assustava muito com a solidão. Eu estava deixando minha família e bons amigos. Os primeiros tempos por aqui não foram fáceis. A solidão era realmente um pesadelo. Eu olhava da sacada do apartamento e sofria pela ausência das pessoas queridas. Naquele tempo não tínhamos a facilidade da Internet e o contato só podia ser feito por telefone – era caro – ou por carta. Era barato, mas elas demoravam para chegar. De qualquer forma, todos os dias a primeira coisa que fazia ao chegar em casa era conferir a caixa de correspondência e depois, esperava ansiosa pelo toque do telefone.

Com o tempo isso foi mudando. Fazer amigos, nunca foi um problema para mim, mas até que isso aconteceu, a maior dificuldade era a falta de alguém para conversar. De falar as coisas simples do dia a dia.

Na falta dos amigos eu me agarrava ao que era possível. Lembro, por exemplo, que eu saia de casa cedo e sempre que perdia a hora, precisava ir de Taxi. Usava, naquele tempo, o serviço de um ponto que ficava na Asa Norte e era atendida por um mesmo motorista. Quando ele me deixava no trabalho dizia: “bom dia, fica com Deus”. Acreditem. Eu chorava, pois era como se fosse o meu irmão, ou um amigo, ou um parente que me dava carona e que se importava comigo.

Eu costumava tomar o café da manhã na Galeria dos Estados, numa lanchonete que servia sucos naturais. Lembro com carinho que uma das atendentes sempre fazia meu suco e que quando eu chegava e era atendida por outra, que perguntava: “com água ou leite?” a que me atendia todos os dias, retrucava: “ela não toma leite, é com água”. Isso me dava à impressão de uma mãe zelosa com as manias de seus filhos.

Outra pessoa que cuidava de me acolher e de fazer com que eu me sentisse menos solitária era a faxineira. Dona Zenilde. Ela nunca me deixava sair sem um: “vai com Deus, filha.” E isso era um alento.

Havia também a atendente da Livraria que até me propôs abrir uma conta, pois era uma cliente regular. Ela sabia meu gosto, separava títulos interessantes e conversávamos sobre os livros. Foi ela quem me apresentou à obra de Manuel Puig, antes mesmo de “O Beijo da Mulher Aranha”. O mesmo fazia o vendedor de discos que um dia me disse: “Leva esse. Você não vai se arrepender”. Era o “LP” de Lulu Santos, com uma capa vermelha e foi minha primeira aquisição “pop”, pois eu era uma xiita musical. No meu conceito de MPB daquele tempo só cabia Chico Buarque, Caetano Veloso, João Gilberto e outros desse time.

Por fim, fui conhecendo pessoas, fazendo amigos e me inserindo no universo dessa cidade particular. Conheci pessoas que eu pensei que seriam para sempre, mas como diria Renato Russo, “o prá sempre, sempre acaba”.

Considero ter sido uma amiga fiel, acho que muitas vezes coloquei os amigos acima até dos meus próprios interesses. Os amigos sempre foram uma prioridade, pois como já tive a oportunidade de dizer, eles são irmãos que não se impõem pelo sangue, mas pela escolha. Entretanto, uma das coisas mais duras que aprendi, foi que mesmo quando escolhemos gostar das pessoas, isso não garante que elas sejam obrigadas a gostar de nós.

Nos últimos tempos, sinto como nos primeiros meses em Brasília: uma solidão imensa. O telefone não toca. Ninguém vem me visitar. Meus dias são feitos de um vazio insuportável e da expectativa de que a noite venha e Helvécio chegue para que eu tenha com quem falar. Às vezes, ligo para minha mãe para falar de coisas bobas, apenas para não me sentir só. Ontem, me sentia tão triste e só, que decidi sair um pouco. Fui ao Brasília Shopping, um lugar que sempre me traz boas lembranças. Fiz um lanche, tomei sorvete, comprei DVDs, pois os filmes têm sido – sem trocadilhos – “bons companheiros”.

Quando sai do shopping encontrei na rua um desses amigos anônimos. É um garoto chamado Marcos. Ele vende doces no cruzamento da Rodoviária e desde muito tempo fala comigo como se nos conhecêssemos desde a infância. Ele me viu e veio com os olhos alegres perguntar como eu estava, porque estava tão sumida. Fiquei profundamente emocionada. Amanhã, vou me encontrar com a Edna. Ela é a minha podóloga. Sempre que vou até lá, ela me trata com uma deferência que transcende a relação de bom atendimento ao consumidor. Ela carinhosamente se preocupa com a minha saúde, da última vez, me achou tão abatida, que me ofereceu uma massagem relaxante e sempre me mima com palavras de apoio e esperança.

Assim como não podemos contar com príncipes, amigos também, são aqueles possíveis! Isso é o que temos para o momento.


Um comentário:

Bailarina disse...

Eu acho que a culpa é da internet. Ninguem mais liga pra dizer oi! Nem pelo skype! E não acontece só com vc, viu?