segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"AMIGO É COISA PRÁ SE GUARDAR"...


Eu o achei demasiado tímido e sem graça na primeira vez que o vi. Ele não denunciava, nem de longe, a exuberância dos leoninos. Foi um encontro fortuito. De fato, ele não me pareceu ninguém. Meses depois pensei tê-lo visto com uma fantasia que parecia uma imitação fajuta de Elvis Presley. Era uma festa para rememorar os anos oitenta, mas ele não era nada "disco".

Tempos depois me abordou. Veio efusivo perguntar-me: "Você é a Ana Maria"? Desde então a gente não se largou. Nosso relacionamento vicejou em um ambiente que não costuma render grandes paixões: foi a docência que nos juntou.

Não foram as afinidades acadêmicas que selaram nossa parceria. Foi nossa irreverência e a capacidade anárquica de tornar momentos enfadonhos em hilárias situações. Aprendemos a falar com o olhar. Quase sempre para expressar nosso sarcasmo e perplexidade diante de bizarrices como: “Na Ceilândia há muitos nordestinos vindos do nordeste”. E lá estavam os nossos olhos a perguntar: “Poxa! Estávamos certos de que nordestinos são aqueles vindos do... Sudeste. E como não rolar pelo chão quando ele veio contar-me que uma aluna o procurou compenetrada e perguntou: “Professor, qual a diferença entre “esteiquiholdi” e “benchmarketing”? E a outra que ao escutar dele que o trabalho que apresentara era inócuo, dedo em riste o confrontou: “o senhor me respeite”!

Tivemos bancas tensas, risíveis e até “bancas piquenique”. Afinal, ninguém é de ferro. E a gente lá, se fartando de bolachinhas, sanduíches e coca-cola para suportar.

E não há só fanfarronice na nossa relação. Já gastamos horas no Beirute trocando impressões sobre a vida, arrematando nossas incertezas com “banana split” (eu juro que só como as cerejas). Foi num desses encontros que me narrou seu momento “Rei do Gado”, quando, na marra, foi praticar comunicação com peões, nas longínquas terras do Pará. Lá, aprendeu que a família pode ser mais inóspita que a natureza. Contou-me também sobre um casamento que esteve prestes a se concretizar e de escolhas. Aquelas que fazem desabar todas as certezas que tínhamos sobre nós.

Tivemos também nossa agenda “artístico cultural”. Uma “tarde no museu” explorando as origens portuguesas e um momento arrebatador, quando, boquiabertos fomos apresentados a “crueldade” coreografada por Débora Kolker. Nessa mesma noite ouvimos inebriados a delicadeza da voz de Zizi Possi. É amigo, por conta dessa maratona, nesse dia, meu casamento quase foi para o sal!

Nossa história teve até um encontro não planejado em Floripa, quando ele me confiou uma imensa mala e com os olhos faiscantes me segredou: ali estava o resultado de sua gastança de milhões de guaranis.

Por falar em Guarani, como vou me esquecer de suas confidências sobre uma meteórica aventura em Montevidéu, marcada por sussurros de “mira, que divino”... "mira, que divino"! (e mais não posso contar).

Inesquecível, também, nosso plano de comadres, para tentar fisgar um peixão, que no fim, se revelou um bagrinho. Azar dele. Do bagrinho, claro!

No seu ombro chorei as incertezas do meu casamento, as preocupações com meus filhos e a falta de rumo profissional e ouvi dele de forma taxativa: “2008 vai ser o ano da sua vida. Haverá uma mudança de ciclo.” E alguém duvida que seu momento “pitonisa” não se confirmou?

Ele é o que podemos chamar de um amigo multifuncional. Recorro a ele sempre que as angústias de toda natureza vêm me assaltar. Nesses momentos ele saca seu manual para questões difusas (ou confusas). Já me disse sério: “Para de ser molenga”. E nos últimos tempos é também meu guru para assuntos acadêmicos. Ao discutir com ele minha insegurança e enfado em assumir uma disciplina, do alto de sua experiência me intimou: “Vai aceitar sim.” Desenhou rapidamente um plano de curso e me entregou todas as técnicas da metodologia “Finja que ensina. Eles fingem que aprendem". Dá para resistir?

Eu passaria horas enumerando suas qualidades. Seu sorriso grande, seu abraço de irmão, seu histrionismo, inteligência, perspicácia, sagacidade e claro, suas impagáveis imitações. No meu aniversário deu-me de presente uma inacreditável bolsa azul com poás. A minha “mais completa tradução”!

No último almoço descobrimos que nossas afinidades alcançam até a predileção pelos bonitões do cinema. Rimos muito tentando repartir de forma amigável: George Clooney (um clássico!), Gerard Butler (e seus músculos impecáveis), Clive Owen (não há o que comentar), a luminosidade dos olhos de Jude Law, a beleza nem sempre óbvia de Eric Bana e Russel Crowe? Como deixar de fora o gladiador? Ao final, para que a divisão fosse justa eu ponderei: “São todos seus. Eu fico com o Helvécio”! (rs) Para os amigos: tudo. É assim que deve ser.

“Mas no meio do caminho tinha uma pedra”. Ele me pregou uma peça. Depois que me tornei refém de seu amor veio me contar que vai embora. Está de malas prontas. Vai para BH. Vai viver a felicidade da “casa própria”. Vai se jogar. Brasília foi uma chuva. Foi a forma que o destino encontrou de nos juntar. Ele não cansa de fazer juras de amor eterno. Promessas de que ainda vamos nos aventurar pelas “Geraes”. O que me resta? Me conformar.

Bem, digamos que hoje ele recebeu uma punição. Eu não resisto amigo, mas 3x0, foi de delirar!

Bregamente, meu querido, segue daqui um beijo no coração!

E como diria Jorge Drexler: “Yo llevo tu sonrisa como bandera y que sea o que sea”!

2 comentários:

Bailarina disse...

Impressionente quanta coisa boa se pode viver num espaço tão curto de tempo, não? Imagino o aperto que deve estar no seu peito! É disso que sinto falta aqui, com as minhas queridas amigas longe, de rir dos nordestinos que vêm do nordeste!Dessa leveza em levar a vida que, tenho descoberto, muito poucos têm! Ainda bem que a gente é assim! Beijão!

Em tempo - uma pergunta - por que tanto tempo nos privando dos seus escritos? É como vê-la falar, naquele seu tom alegre de sempre, numa mesa rodeada de gente, como a gente sempre gostou! E, claro, com alguma guloseima, pra variar...

Equilibrista disse...

Querida, digamos que estou apreciando muito essa coisa de escrever, mas estou completamente atolada de coisas nos últimos dias. É bem verdade que há tantas coisas sobre as quais quero falar que nem sempre sei por onde começar. Além do mais, continuo muito crítica em relação a mim mesma e penso que não tenho competência para isso...(rs) Saudades e bjs.