sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Quem tem amigos nunca está só"! Será?


Há duas semanas recebi um recado no Orkut que dizia mais ou menos assim: “Se você foi minha colega no Colégio Objetivo por volta de 1978, faça contato”. A principio não reconheci o nome, mas bastou acessar o perfil e confirmar que de fato nos conhecíamos. Mais que isso. Fomos grandes amigos por volta dos nossos 17, 18 anos. Essa pessoa se chama Luis Arthur e mesmo muito jovem tinha os cabelos grisalhos. Sempre gostou de literatura e, portanto, não é de se espantar que hoje seja professor de ...literatura. Morávamos próximos e íamos juntos para a escola. Seu pai era um radialista muito festejado em Goiânia, mas ele era um menino razoavelmente tímido.

Sempre que estávamos respondendo questões de múltipla escolha ele me dizia: “a resposta certa é a letra “C” de Capitu. Ele me dera esse apelido, pois dizia que eu era como a personagem de Machado de Assis, em Dom Casmurro, “com seus olhos profundos e inexplicáveis...olhos de cigana oblíqua e dissimulada". Eu me sentia envaidecida com a comparação, porque esse é um dos livros que mais gosto. E cá para nós, com 17 anos, acho que tinha mesmo um jeito dissimulado.

Alguns contatos depois, esse meu amigo me lembrou um episódio marcante da nossa trajetória. Assim que fizemos 18 anos – aliás, nascemos no mesmo dia e ano: primeiro de agosto de 1960, fomos fazer nosso título de eleitor. Uma situação completamente bizarra, porque passamos das sete da manhã às seis da tarde na fila. Uma coisa inacreditável: a fila e nosso entusiasmo pela democracia.

Esse reencontro, ainda que virtual, me fez refletir sobre as amizades e como elas são importantes na nossa vida. De repente comecei a revisitar o passado e a lembrar de uma legião de amigos que foram se perdendo pelo caminho.

Amizades são como casamentos – sem o sexo, embora nos dias atuais, algumas delas possam até incluir esse diferencial – Certas amizades são tão parecidas com o casamento que estão, como os submarinos, fadadas a afundar. (Miguel Falabela é o dono dessa definição para o casamento).

Assim como no casamento, as amizades passam por aquela fase em que não conseguimos fazer nada sem a anuência do outro. Todos os programas, todas as confidências, todos os sonhos precisam ser compartilhados.

Entretanto, com o passar do tempo, também como nos casamentos, algumas vão se tornando um fardo que somos obrigados por dever de consciencia ou de conveniência, a suportar.

Há amigos que a gente leva muito tempo para gostar. Outros, chegam e rapidamente se tornam donos do nosso coração e a vida parece não fazer sentido sem eles.

Minha mãe sempre disse que eu me parecia muito com meu pai. Qualquer pessoa, em cinco minutos, se tornava meu melhor amigo. Isso implicava, claramente, abraçar todos os seus problemas, viver suas angústias, beber na mesma taça de suas alegrias e, naturalmente, levar uma rasteira lá na frente. Sim, porque algumas pessoas entendem a amizade como um contrato temporário, com data de validade condicionada a algum interesse em jogo, que pode ser de natureza emocional ou material.

Levei muito tempo e consumi muitas lágrimas até entender que as amizades tem um rito próprio e que não há garantia de longevidade. Se aquele amigo é para sempre ou não, depende de uma série de questões, evidente, todas elas muito subjetivas.

Eu aprendi – de forma dolorosa, mas exemplar – que há duas variáveis que são determinantes para medir a força de uma amizade: saúde e dinheiro. Na verdade, a ausência desses dois elementos. Amigos de toda hora, desaparecem num suspiro se você está mal ou se está falido.

E sabe, passando por essas duas situações eu aprendi a reconhecer e aceitar os limites das pessoas e sua incapacidade de lidar com o lado “down” da gente. Acima de tudo, entendi que amizades são circunstanciais. Nada mais, nada menos.

Hoje, depois de já ter sido a porta bandeira do bloco “eu quero ter um milhão de amigos”, consegui juntar pessoas que passam por várias classificações. Poucos fazem parte da minha vida de forma intensiva. Mas encontrá-las é sempre garantia de boa conversa, de boas risadas, de valiosos puxões de orelha e de algum tipo de aprendizado.

Não sei quem cunhou a frase, mas adoro usá-la: “quem tem amigos nunca está só”. E é sobre as amizades que fazem ou já fizeram diferença para mim, que pretendo escrever doravante.

Luiz Arthur provou-me que vinte e tantos anos podem separar as pessoas, mas que basta uma boa fuçada para reencontrá-las. Se ele perdeu tempo fazendo isso é porque nosso encontro lá atrás valeu!

Valeu, Luiz! Obrigada por ter despertado em mim o desejo de inventariar as perdas e ganhos. A ter vontade de explorar as commodities afetivas – se é possível trazer o jargão da economia para analisar as amizades e sua respectiva cotação.

Então tá combinado. Volte por aqui nos próximos dias que eu vou abrir o baú.

Cordiais saudações.

Um comentário:

Bailarina disse...

Seus momentos de insônia estão rendendo bastante! Desejo que vc durma bem, mas só se isso não implicar na produtividade nesse blog! E, longa vida à nossa amizade, que, além de tudo, veio com o presente do parentesco, que é pra gente se orgulhar ainda mais. Bjo