quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"UM ELEFANTE INCOMODA MUITA GENTE"...


Você conhece alguém que está acima do peso e se sente feliz mesmo assim? Se conhecer, por gentileza, mande-me o e-mail, telefone, endereço, que eu quero conhecer e render homenagens.

Eu estou acima do peso. Vamos ser realistas: eu estou super, hiper, mega, advanced plus, acima do peso. De vez em quando eu até me esqueço que estou acima do peso. Já houve momentos em que até fui feliz, apesar de estar acima do peso. Mas queridos, estar acima do peso é como aquela musiquinha do elefante...incomoda muita gente. Pra ser sincera, eu sinto que meu peso incomoda mais aos outros que a mim.

Tem sempre alguém ou uma situação para deixar bem claro que estou acima do peso. Ah! Vamos deixar de eufemismos. O fato de eu estar gorda deixa metade do mundo a beira de um ataque de nervos.

Não! Eu não estou exagerando. É fato. Se eu chego numa loja dessas de grife, a vendedora se aproxima quase como se eu tivesse lepra e acha um jeito de, bem taxativa, me dizer que não trabalham com manequim acima de 40. Não importa se estou ali para comprar um presente para uma amiga magra ou se apenas quero saber o que pessoas normais estão vestindo. Não, querida, você não é bem-vinda aqui.

Eu gostaria muito que o mundo me visse como uma “madona” de Botticelli, ou com os olhos de Botero. Mas nos nossos dias, a beleza é patrimônio das anoréxicas. Quem mandou nascer no século errado?


A moda é definitivamente um território inacessivel para quem está acima do peso. As estampas das roupas para "gordinhas" parecem saidas de um circo. As gordas tem duas opções: ou vivem enlutadas com vestidos pretos, ou parecem uma alegoria do carnaval de Olinda. Não há meio termo. E quando há: prepare seu bolso, vai custar o dobro de qualquer outra confecção.

Semanas atrás, passei uns dias em João Pessoa. Uma cidadezinha linda e calma, onde há uma lei municipal que não permite que haja na orla da cidade, aquele “frejo” de barracas. Não há problemas se você levar seu guarda-sol, sua cadeira, mas ambulantes não têm permissão para isso. Como estamos no Brasil, mesmo com os rigores da lei, há aqueles que ficam por ali e discretamente abordam os turistas que só estão portando sua canga ou toalha.

Muito bem. Estava deitada na minha toalha, sentindo um tipo de relaxamento que a gente só experimenta à beira-mar, pensando como aquele momento era raro nos últimos tempos. Olhava para cima e via o azul do céu, e na minha frente o mar. De repente meu marido descobriu que havia um “alugador” de cadeiras por lá. Achou que teríamos maior conforto e que desfrutaríamos melhor aquele dia de sol se tivéssemos uma cadeira. Levantei-me do meu conforto, caminhei até o dito cujo do "alugador" e a primeira coisa que ouvi de um estranho, de uma criatura que nunca tinha cruzado o meu caminho foi: “não, ela pesa mais de cem quilos, vai quebrar minha cadeira”.

Foi como levar um murro no peito. As lágrimas jorravam sem que eu pudesse controlar. Vejam vocês, um completo estranho, sem qualquer cerimônia, sem nenhum traquejo fez com que meu lindo dia de sol se transformasse, súbito, num pesadelo. Não sei com que pernas sai dali. Era como se todas as pessoas da praia me apontassem: “vejam, ela é uma aberração”.

Tudo bem que a sua mãe diga que você precisa emagrecer. Tudo bem que ela diga que você está barriguda, tudo bem. Do alto dos seus mais de oitenta anos ela pode tudo. Você tem certeza de que ela não quis te magoar, que ela só está preocupada com a sua saúde, que ela quer o melhor para você. Tudo bem que seu irmão um dia já tenha dito que você tá parecendo uma “Kombi”. Ele não te odeia, ele não te despreza, só não sabe dizer de um jeito mais delicado que é bom você emagrecer.

Mas um estranho te desancar? Te humilhar, te reduzir a um monte de nada? Isso não! Que direito tem um cara que você nunca viu de massacrar sua auto-estima?

Não, ninguém gosta de ser gordo. Ninguém acha legal que a cada 10 minutos alguém venha te lembrar que sua barriga está subindo na mesa. Pode apostar, eu mataria para ter o corpo da Gisele Bündchen. Muito francamente, eu mataria para estar dois manequins abaixo do meu. Já seria o bastante.

Mas sabe de outra coisa, não é fácil emagrecer. Aliás, é fácil emagrecer quando você têm 20 anos. Basta dois dias de boca fechada e aquele zíper fecha que é uma beleza. Depois dos 40, você pode passar uma semana amarrada, comendo nada e bebendo coisa nenhuma. Quando subir na balança, vai ter perdido inacreditáveis, 500 gramas.

As pessoas acham que gordo é gordo porque não sabe resistir a um brigadeiro. Faz um ano que tenho feito um esforço enorme para emagrecer. Mas como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar. Diz a minha nutricionista que estresse engorda mais que uma picanha gorda e dez litros de coca-cola. O que fazer? Meu nome é estresse.

Meu endocrinologista disse que a minha disfunção de tireóide limita drasticamente o processo de emagrecimento. Eu podia ter sido acometida por um hipertiroidismo, isso me faria emagrecer, mas advinha? Eu fui desenvolver hipotiroidismo que faz você dobrar de tamanho.

Para completar eu tenho baixa função renal. Você acha que isso emagrece? Não. É um fator engordativo também.

Precisamos considerar ainda que tenho depressão e sabe do que mais, pessoas depressivas têm enormes chances de serem obesas. É mole ou quer mais?

O problema é que não posso andar com um super crachá explicando que meu excesso de peso está relacionado a todas essas situações. Eu gostaria de fazer feito aquelas mensagens de call center: “essa é uma gravação, se você quer ter informações detalhadas sobre as dificuldades que tenho para emagrecer, faça a gentileza de apertar a tecla 2.”

Bem, sou obrigada a reconhecer. Talvez eu conseguisse reduzir peso praticando uma atividade física. Quer saber: fiz uma avaliação e estava prestes a me matricular numa escola de natação quando fui surpreendida por uma hérnia de disco. Faz quase três meses que além de gorda, sou manca. Tratamento: paciência, RPG, acupuntura e resignação, porque a dor não te dá trégua. Abandone o salto alto e continue gorda. Não parece uma conspiração?

Semana passada um desconhecido me roubou uma vaga de estacionamento. Diante da minha perplexidade pela tamanha falta de educação ele não se fez de rogado: rindo da minha cara disse sem nenhum constrangimento: "Vá se lascar, sua vaca".


Hoje quando achava que todos os impropérios já haviam sido ditos, fui vitimada pelo mais cruel dos comentários. Estava debaixo de um sol de rachar, esperando um táxi de frente de um dos prédios da Câmara dos Deputados. Acreditem, do nada me veio uma senhora com uma criança no colo, uma pedinte que faz ponto por ali. Veio cheia de intimidade, me olhou e como se fosse minha amiga de infância disparou: “Nossa! Mas você tá gorda, hein? Como você engordou, menina? Deve ser por causa do calor”.

Eu não disse? Um elefante incomoda muita gente. Incomoda, incomoda, incomoda...

3 comentários:

Unknown disse...

Simplesmente:
"Viver e não ter a vergonha de ser feliz"
(O que é, o que é? - Gonzaguinha)

Bailarina disse...

Querida equilibrista, lendo o seu texto a impressão que dá é que você pegará uma arma e colocará fim à vida nos instantes seguintes. O que você não deixou claro é que apesar do peso estar um pouco acima do devido você carrega uma leveza na alma, aquela que muitas magras passam a vida inteira tentando alcançar e nada... Beijão da sua sobrinha que já foi magra e agora entende parte do seu suplício!

Equilibrista disse...

Bailarina, ao contrário do que possa parecer ao terminar de escrever eu não apertei o gatilho. Ao contrário, senti-me mais leve. Aliás, minha ida a nutricionista, na quinta-feira indicou a perda de dois quilos e seiscentos gramas. Se somarmos desde o início do tratamento temos um total de dez quilos a menos. É pouco, mas não deixa de ser um "step". Obrigada pelas visitas frequentes e pelo inestimável apoio moral. Bjs