domingo, 27 de junho de 2010

"...De enxergar um novo dia"...


Nessa semana dediquei algumas horas do meu dia para uma atividade que andava esquecida. Andei juntando uma peça aqui e outra ali, fazendo colares. Nunca tive habilidades manuais e certamente morreria de fome, se precisasse ganhar a vida com esse recurso. Mas houve um tempo em que consegui fazer peças bonitas e em alguns casos, até criativas. Depois, guardei meu arsenal de contas e linhas numa caixa e agora, achei que estava com vontade de voltar a me experimentar nessa arte.

Comecei a fazer os colares de forma intuitiva. Nunca fiz um curso. Um dia decidi que queria tentar e vi que era possível, com alguma concentração e um pouco de criatividade, fazer com que contas coloridas, grandes ou pequenas, se harmonizassem. É uma atividade prazerosa, que faz o tempo andar rápido e no final, o resultado pode surpreender. Ou não.

Enquanto procurava, primeiro organizar a profusão de peças, que estavam literalmente entocadas no armário, e depois arquitetar o desenho que queria dar aos colares, comecei a refletir que essa atividade talvez fosse uma forma de tentar dar forma a minha própria vida.

Assim como as peças, minha vida está desorganizada. Apesar de obedecer a uma rotina relativamente simples, meus dias esbarram na complexidade que é tentar encontrar uma saída, uma alternativa para o futuro. Não é fácil chegar perto dos cinqüenta anos e descobrir que é preciso fazer uma mudança de trajetória. Normalmente, esse é um momento em que as pessoas alcançaram um patamar de segurança, emocional e material. Mas para mim, esse tempo não chega exatamente nessa ordem.

Eu olho minha vida nesse momento e vejo um conjunto de peças que não conseguem se alinhar. Eu experimento juntar cores, eu tento uma solução monocromática, mas o resultado final é sempre um ponto de interrogação. Como diria um velho conhecido, não consigo encontrar a peça que falta para finalizar o quebra-cabeça.

Já convoquei ajuda especializada e há quase uma unanimidade de opiniões. Mas é difícil tomar uma decisão desse tamanho. E Nelson Rodrigues não dizia que toda unanimidade é burra? E assim, mais uma madrugada se vai. Talvez eu devesse trocar o nome desse blog para Diário da Madrugada. Não é fácil acordar todas as noites e ficar pensando o que fazer. O que deve prevalecer? Razão ou intuição?

Fico pensando no dia em que decidi vir para Brasília. Eu tinha pouco mais de vinte anos, um grande amor pelo qual achava que valia lutar e uma história profissional para escrever. Foi tão simples. Eu simplesmente juntei “meus livros e discos e nada mais” e fui. E vim. Agora, que considero fazer o caminho inverso, a bagagem é pesada demais. Não se trata apenas de juntar discos e livros. Há filhos, há um companheiro e pior, há dúvida. Esse é o pior dos fardos. E há culpa. E há medo.

3 comentários:

Bailarina disse...

Faça como com os colares.Comece tentando organizar as peças pra poder ver o que vc pode fazer com cada uma delas! Vai ficar bonito, aposto!

Equilibrista disse...

Ai, querida. Que falta me faz conversar com você. Que falta você faz na minha vida. Queria muito que a gente pudesse sentar e tomar um café e quem sabe, essa dúvida ficasse menor. Bj

Solange disse...

Não tenha medo nem culpa.
Você sempre poderá voltar para onde estava.
Você sempre terá seu companheiro, seus filhos, seus familiares,seus amigos, seu lar.
Usando os colares como metáfora, as vezes que sentamos juntas para fazermos colares sempre começava assim, você sem saber por onde começar, até que começava a fluir, e pude presenciar colares lindos!!
Beijos