terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PLUS SIZE




Na adolescência tive uma amiga chamada Beatriz Galvão. Era uma pessoa muito criativa. Transitava bem pelo mundo das artes plásticas – um trabalho seu chegou a receber menção honrosa numa exposição importante de Goiânia – escrevia bem, era divertida e irreverente. Como eu era uma típica menina careta, ela me encorajou a dar umas piscadelas para coisas mais ousadas, que comparadas ao que fazem as adolescentes de hoje, não seriam mais do que brincadeira de criança.

Adorava ir a casa dela, porque ao contrário da simplicidade da minha mãe – apenas rainha do lar – dona Miriam era uma professora de matemática que tinha adoração por aviação e pelo Flamengo. Seu pai era um homem muito inteligente e tinha um humor refinado. Sempre que eu chegava por lá cantava assim: “Ah! Se a juventude que essa Ana traz...” fazendo alusão à música de Johnny Alf “Eu e a Brisa”: “Ah! Se a juventude que essa brisa canta ficasse aqui comigo mais um pouco... Fica, ó brisa fica, pois talvez quem sabe, o inesperado faça uma surpresa, e traga alguém que queira te escutar e junto a mim queira ficar”....

Beatriz tinha uma irmã, Maria Esther e juntas gostávamos de cantar duas músicas: “Você pega o trem azul, o sol na cabeça, o sol pega o trem azul, você na cabeça, o sol na cabeça....” E o primeiro hit internacional que eu lembro de ter gostado, de um cara chamado Cat Stevens: “Morning has broken, like the first morning, Blackbird has spoken, like the first bird, Praise for the singing, praise for the morning, Praise for the springing fresh from the world”… Lindo!

Perdi Beatriz de vista quando ela ficou grávida. Estávamos começando faculdades diferentes e nossas vidas apontavam para escolhas distintas também. Soube que ela teve uma filha chamada Maya – acho eu – e quando meu filho Guilherme estava prestes a nascer eu a encontrei numa loja. Trocamos telefones, eu mandei um cartão comunicando o nascimento dele. Ela, então, me mandou uma bela carta. Depois disso, nunca mais.
Tentei localizá-la de muitas maneiras. Pouco tempo atrás, quando a Vivi me colocou no Orkut eu finalmente a encontrei. Pela descrição não havia dúvida, deixei um recado que nunca foi respondido. Penso que ela, distraída como era, criou o perfil e nunca mais passou por lá. Enfim, espero que um dia o destino faça nossos caminhos se encontrar. Tenho dela uma pasta com vários textos e desenhos que ela me confiou porque dizia que eu era mais zelosa. Enfim, está comigo e tenho certeza de que um dia encontrarei um jeito de devolver e como velhas comadres, tomando chá, vamos passar nossas vidas a limpo.

Na verdade, escrevi sobre a Beatriz porque me lembrei que ela era gordinha e muito exuberante. Tinha olhos verdes muito expressivos e uma sobrancelha que tornava seu rosto diferente da beleza em voga na época. Ela gostava de dizer que éramos mulheres “repolhudas”. Que éramos fartas e que esse era, digamos assim, nosso diferencial estratégico.

Ontem me lembrei muito dela porque como não é novidade para quem me lê, o peso é uma coisa que não me deixa exatamente feliz. Mas na Veja dessa semana está lá um perfil com uma das modelos mais bem pagas do mercado de moda americano. Segundo a revista é uma brasileira de nome Fluvia Lacerda, citada na mídia como “a Gisele Bündchen tamanho 48”. E foi por conta dessa entrevista que fui apresentada ao termo “plus size”.

Ou seja, queridos, eu era gorda. Eu já fui cheinha. Um dia eu até fui repolhuda. Agora eu sou Plus. Plus Size. Adoro!!!! Acho que já são os números sorrindo para mim.

9 comentários:

Anônimo disse...

Querida Equilibrista,
como é a vida!!! O blog da Vivi me levou ao seu para que eu pudesse te comunicar que sim: eu conheço a Beatriz. E ela continua um espetáculo de mulher!!! A filha dela se chama Camila (minha homônima) e o filho, de 8 anos, se chama Enzo e é meu primo. Lindo por sinal! Sinto que o destino da Beatriz sempre foi o de conviver com talentos e hoje ela é casada com o André Crispim, outro artista nato. Resumindo, ela é minha "tia". rsrsrs....
Bem, é isso! vou postar o seu texto pra minha mãe e pedir pra ela mandar pra Beatriz e vcs colocam a conversa em dia. Que tal? E outro sim: ela é distraída. Beijos e sorte. Camila.

Equilibrista disse...

Camila,

Estou "bege". Não poderia jamais imaginar que o destino me reservasse uma surpresa tão boa como essa. Deus sabe quantas vezes eu pensei em alguma fórmula mágica para encontrar minha amiga Beatriz e olha só, uma coincidência me fez chegar tão perto de encontrá-la. Estou realmente emocionada. Veja você: eu já estava muito satisfeita de ter me apropriado da dica que você deu para a Vivi daquele estupendo livro da Fal Azevedo e agora recebo um presente desses.
Beijão para você.

Bailarina disse...

Eu só tenho a dizer que arrepiei!

Anônimo disse...

Acompanhar vc e agora esse "plus size" me deixou feliz tb, rsrrrsrsrs. E um reencontro!
Show, maravilha!
(Também me senti bem com o ocnceito "plus size", ...)

Unknown disse...

NOOOOSSAAA!!!!!! VIVA A INTERNET!E as novas e velhas amizades...os amigos...e os amigos dos amigos...e a expressão das emoções através dos blogs! Bj tiazinha!
Ah...e viva os "plus size"!hahahaha

Equilibrista disse...

Amizades são mesmo "um plus a mais". (rs) Eu tô feliz demais de ter reencontrado minha amiga Beatriz. Já nos falamos por telefone e já agendamos encontro. Vamos ter, depois de mais de 20 anos, o nosso encontro de comadres.
Bjs

Bailarina disse...

Eu quero ir! hahaha

Equilibrista disse...

Evidente que você irá! Já pode colocar na agenda. Bjs

Anônimo disse...

E então? Quero novidades sobre o encontro! Já aconteceu?